sexta-feira, outubro 31, 2003

Temores

O Zé Diogo Quintela chama a atenção para uma questão importantíssima. Tal como ele diz: se formos todos culpados, ninguém é culpado. Assim como: se formos todos suspeitos, ninguém é suspeito. Temo que este imbróglio da Casa Pia esteja a resvalar para uma indefinição dessas. Será este mais um indicador do possível acordo para o qual o FJV alertou?

Eutanásia 1

O Mar Salgado já avançou com um segundo post [Case Study 2] sobre a eutanásia. O tema suscita-me muitas mais perguntas que respostas. Em parte resolvi aderir ao debate precisamente como forma de esclarecimento e para ordenar ideias.
Embora o tema pareça centrar-se mais no caso concreto sugerido por NMP, não quero perder a oportunidade de aprofundar mais a questão. Espero que a troca de impressões seja enriquecedora. Espero também que a participação seja bastante alargada e que não se fique apenas pelos bloguistas. O e-mail está aí para os interessados se fazerem ouvir (desde que expressamente autorizado pelos próprios, as opiniões dos leitores sobre este tema serão postadas neste blogue).
O próximo post será um comentário à situação de Terry Schiavo, a partir do qual pretendo evoluir para considerações mais abrangentes.

Ainda não é desta

Hoje o Benfica adia por mais uns anos a hipótese de se aproximar de qualquer coisa que se pareça remotamente com um título.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Eutanásia

O Bloguitica e o Mar Salgado parecem interessados em discutir a eutanásia. O tema interessa-me bastante. Estarei atento e interventivo, quando possível.

Chantagens populistas

Havia, há uns tempos, quem se perguntasse pelo significado da expressão populismo. Ontem tivemos um bom exemplo na conferência de imprensa de Catalina Pestana. O discurso não trouxe nada de novo, limitando-se a apelar generalizadamente ao sentimentalismo. A provedora veio a público pressionar de forma indisfarçável e inaceitável o andamento do processo. Compreendo que as crianças estejam destroçadas. Mas não vejo como é que a intervenção de Catalina Pestana pode ajudar a mitigar esse sofrimento. Obviamente todos preferíamos que o andamento da Justiça fosse sempre o mais célere possível. No entanto, é inqualificável que se venha recorrer à chantagem emocional como forma de manifestação de desagrado.

A propósito de uma guerra que não é minha

E o PSD não terá também sido governo? E muitos dos que lá estão agora não estiveram lá antes?

terça-feira, outubro 28, 2003

Starry Night

Importa-se de repetir?

Estou estupefacto. A sério. Nem sei o que dizer.

Da entrevista a Jorge Sampaio II

P. - Também já se manifestou contra a concentração dos media.

R. - Sim, e espero que a autoridade da concorrência, que se tem preocupado tanto com as telecomunicações, se preocupe também com os media, porque eles têm uma importância decisiva na maneira como a nossa democracia funciona. Se se fecham as possibilidades das pessoas e das opiniões chegarem aos media, se tudo obedece a critérios exclusivamente económicos, então há um problema democrático. Falei disso em termos gerais e espero que esse debate se instale.

Da entrevista a Jorge Sampaio

P. - Não dá relevância política àquelas declarações [de Ferro Rodrigues sobre o segredo de justiça]?

R. - Dou relevância é a que haja uma devassa, que não deve haver, que permita terem aparecido nos órgãos de comunicação social expressões que uma pessoa não teria tido em situações normais. O senhor doutor não diz, de vez em quando, um palavrão? Eu digo!

segunda-feira, outubro 27, 2003

O Estado e a comunicação social

Não vejo problema de maior na nomeação do ex-assessor de Martins da Cruz para director executivo do DN. Concordo que os jornais tenham uma linha editorial política definida, desde que a assumam claramente. Desta forma o consumidor sabe o que compra. É preferível saber quem manda nas redacções a ter uma falsa imagem de isenção. Além disso, não conhecendo em pormenor o percurso profissional de Fernando Lima (conheço o que li nos jornais e nos blogues), não me resta outra solução do que considerá-lo um profissional idóneo. No entanto, uma coisa é assumir uma orientação política para as linhas editoriais e outra, totalmente diferente, é ser o Estado a defini-las. Esta última já me merece as maiores reservas. E, tal como o Bloguitica salienta, quem não se manifesta contra esta lógica de nomeações agora, perde legitimidade para se queixar mais tarde.

Haverá coincidências?

O Textos de Contracapa alerta para o roubo da base de dados dos principais devedores ao Estado. Antigamente perguntava-me se as Finanças saberiam quem lhes devia impostos e, se o sabiam, porque não actuavam. A partir de agora já têm desculpa.

Preocupações

Preocupa-me o facto de quase ninguém, salvo honrosas excepções, parecer interessado no comportamento dos meios de comunicação social desde o célebre fim-de-semana da divulgação das escutas. Preocupa-me o facto de se defender a ideia de que os meios de comunicação social devem defender o direito à informação porque para defender o segredo de justiça já existem outros agentes. Preocupa-me que o foco das atenções seja a fragilidade de uma liderança partidária e não a devassa da vida particular que a causou. Neste momento, parece-me muito mais importante saber que comunicação social é que temos do que saber que líder do PS é que temos.

Odeio-te Anthony Giddens

Vejo-me na obrigação de consultar não um, mas sim dois livros de Anthony Giddens ao mesmo tempo. Giddens é um daqueles autores que dão mau nome aos sociólogos. Que fique claro: abomino a escrita e a conceptualização de Giddens. Abomino.

domingo, outubro 26, 2003

Oportunidades perdidas

Fazendo fé no que escreve o Público de sábado, Ferro Rodrigues está a prazo na liderança do PS. Quer se queira quer não, a contestação à sua liderança está, sobretudo, ligada à sua conduta em relação ao caso Casa Pia. Tomando como indicadores o facto de nunca ter sido constituído arguido e o acórdão da Relação que considerou inócuas as suas diligências telefónicas, Ferro vai cair como consequência da realpolitik. Assim sendo, será o triunfo da calúnia, da canalhice, da falta de ética e da falta de carácter. Talvez a melhor solução eleitoral para o PS seja a sua substituição. Talvez... Mas a melhor solução para Portugal e para a democracia seria uma luta sem tréguas contra os métodos infames utilizados neste processo. A melhor solução passaria pela identificação e responsabilização dos agentes envolvidos, comunicação social e justiça incluídas, no abuso da intimidade e na destruição da personalidade.

sexta-feira, outubro 24, 2003

Desemprego e subsídios

O ministro da Segurança Social e do Trabalho pretende alterar as regras de atribuição de subsídio de desemprego. Afirma Bagão Félix que «Não podemos continuar a assistir passivamente à ideia de que as pessoas vão aos centros de emprego e, para empregos convenientes ou similares, recusem e continuem a receber o subsídio». Resta-nos esperar que o ministro clarifique quem e como se define o que é um emprego conveniente e o que é um emprego similar. Mais uma vez o governo opta por não investir na fiscalização nem no controle. É mais fácil, e barato, castigar os do costume.

Um esclarecimento

Miguel Sousa Tavares diz aqui praticamente o mesmo que eu quis dizer no meu post. As semelhanças são tantas que, se tivesse lido antes, teria uma certa vergonha de publicar o meu texto. Não obstante, não vou tão longe como o JMF.

Um pouco de alegria

Carlos Sousa é campeão mundial de Todo-o-Terreno.

A polémica de MMC

Manuel Maria Carrilho foi dos primeiros a afastar-se da trajectória delineada por António Guterres para o governo PS. Logo nessa altura se pôde identificar, mais ou menos claramente, uma aspiração à liderança do partido a médio prazo. As suas recentes tomadas de posição revelam uma aposta crescente nesse sentido. Existem, pelo menos, duas posições dominantes em relação às suas opções. A primeira é pensar que Carrilho revela oportunismo e falta de coragem. A segunda é pensar que um partido democrático deve ser pluralista e que MMC se limita a dizer o que muitos pensam.
Acontece que MMC não é o único a criticar a liderança de Ferro Rodrigues. Na realidade, o que é difícil é encontrar quem a defenda. A comunicação social é-lhe quase toda hostil. Praticamente não há comentadores que apoiem as opções políticas desta direcção. Nesta medida, MMC não é inovador.
A minha posição aproxima-se muito da de JMF. Quem critica é bom que tenha propostas concretas para apresentar. Sobretudo se quer assumir-se como alternativa. Alguém é capaz de caracterizar o pensamento político de MMC? Alguém é capaz de enumerar os seus contributos políticos concretos depois das legislativas que deram a vitória ao PSD? Mais ainda, as divergências nos momentos críticos são realmente uma opção muito fácil. O complicado é enfrentar o combate quando o contexto não é favorável. MMC divergiu quando o governo PS começou a sentir dificuldades. Volta a divergir agora, quando o PS enfrenta, provavelmente, a sua maior provação de sempre. Mas, se calhar, MMC nunca terá feito parte deste PS, nem sequer do PS de Guterres. Talvez o único PS conveniente a MMC seja o seu PS.

quinta-feira, outubro 23, 2003

Começa a ser demais

Mais de três horas sem poder aceder ao blogue para publicar é muito mais do que é tolerável.

O incréu evangelista

José Pacheco Pereira é uma daquelas pessoas que, pelo que pensa, escreve e diz, revela inteligência suficiente para perceber o alcance das suas ideias. Não deixa de ser irónico constatar no artigo de hoje no Público, dedicado à duplicidade, a utilização das técnicas que tanto condena e tão bem domina.
Nomeadamente, referindo exemplos concretos, quando se refere à total responsabilidade do PS na politização do processo, isentando os restantes partidos, não há qualquer referência do BE. Ou JPP optou por não promover o BE ao mesmo patamar dos restantes partidos com assento parlamentar ou prefere manter uma guerrilha contra essa força política.
Logo de seguida cataloga como traço de cultura do PS um fenómeno – a politização dos processos judiciais – que só consegue identificar duas vezes na história do partido. Não lhe parece estranho fundamentar tão grave acusação com a apresentação de apenas dois exemplos. Para quem está habituado a coligir informação e verificá-la é pouco. Mas serve os interesses da sua reflexão e a maioria das pessoas se calhar nem vai notar...
Na realidade, nem sequer se inibe de usar os métodos que criticou na sua primeira intervenção na SIC. Mistura acusações explicitamente imputadas ao PS com acusações que não imputa explicitamente a ninguém, embora implicitamente se possa identificar a intenção de as colar ao PS. Acusa o PS de invocar a democracia para escamotear desejados privilégios, como se a democracia não fosse para todos. Mistura o apoio a Paulo Pedroso, demonstrado pelo seu partido, com o anuimento implícito da culpabilidade dos outros arguidos. Como se uma coisa tivesse relação com a outra. Como se as acusações a Paulo Pedroso não tivessem consequências políticas inevitáveis. Como se não fosse nesse âmbito, no combate político para não soçobrar a este processo, que a direcção do PS estivesse envolvida.
JPP acusa ainda os partidos de terem querido criar uma república de juízes. Nesta acusação isenta-se, por omissão, de qualquer responsabilidade. Como se não tivesse tido participação activa na vida política portuguesa nas últimas décadas. Como se tudo lhe tivesse sido alheio.
Conclui afirmando que as fugas de informação deste caso não são mais graves do que todas as outras, embora reconheça a sua gravidade. Mas, em momento algum, se revela tão moralizador nesta questão como nas anteriores. Refugia-se na desculpa de que já era mau antes. Reconhece que se deve mudar mas nunca antes do fim do processo. É evidente. Ninguém discordará. Só que, como o sistema judicial não pára, depois do fim deste processo haverá certamente outros a decorrer. Mas com esses já JPP não se preocupa. Exactamente da mesma maneira que acusa os outros de não se preocuparem. Irónico, não é?
JPP abusa das referências circulares. Pode-se ler no Público um pouco do que se lê no Abrupto. Pode-se ler no Abrupto um pouco do que se lê no Público. JPP é um mestre da desinformação que tanto critica. E não se coíbe de a usar para servir os seus intentos: a sua vontade de evangelizar de acordo com a sua cartilha.

quarta-feira, outubro 22, 2003

Só por piada...

...chamo a atenção para este post do Espigas ao Vento.

Meta-blogar

De vez em quando apareço por aqui a dar largas aos meus pensamentos meta-bloguísticos. Nesses devaneios quase nunca faço referência aos leitores deste blogue. Esse aparente desleixo prende-se com dois motivos. O primeiro relaciona-se com a minha relutância em ceder aos sitemeters e aos softwares que permitiriam ter uma leitura detalhada dos visitantes. O segundo relaciona-se com o facto de o meu principal interesse, desde o início, ter sido o espaço de liberdade que os blogues constituem. Nessa medida, a preocupação com os leitores parece vir em segundo plano. Não é inteiramente verdade. Já recentemente afirmei que, em primeiro lugar, este espaço deve servir para meu gozo, o que não significa que exista qualquer forma de desprezo ou de menosprezo por todos os que por aqui passam. Bem pelo contrário. A simples ideia de que alguém poderá ler os meus posts influencia a sua elaboração. Esforço-me para que essa influência não se faça sentir mais do que o imprescindível. Nomeadamente, que não afecte muito mais que o controlo de qualidade do que por aqui vou deixando.
Volta e meia descubro uma referência ao Viva Espanha noutros blogues. Por vezes um link permanente. De vez em quando, descubro mais um(a) leitor(a). A todos agradeço a honra que me concedem ao gastarem um pouco do vosso tempo com este blogue. Um sincero muito obrigado. E fica prometido, desde já, que para a próxima que se misture a lamechice com a meta-bloguice perco um bocado de tempo a explicar o “curioso nome” deste blogue.

terça-feira, outubro 21, 2003

Montalbán

Com vergonhoso atraso, aqui fica a singela homenagem a Manuel Vázquez Montalbán.
Perdura a força da sua escrita e dos seus livros.

segunda-feira, outubro 20, 2003

...e depois acordei. (III)

Posto isto, vamos ao caso em concreto. As transcrições das escutas que supostamente constam do processo contra Paulo Pedroso a que a SIC teve acesso merecem muita reflexão. Sobretudo a dois níveis: o da fuga de informação por parte de quem fez chegar esse material à estação de televisão e a forma como esta fez a sua divulgação.
No primeiro caso, não podemos esquecer que ou se defende a relevância do segredo de justiça para o correcto procedimento judicial, ou se descarta de uma vez por todas este conceito. Qualquer que seja a posição adoptada, convém que se comecem a demarcar os campos e os opositores para se iniciar uma reflexão profunda sobre o segredo de justiça, tão urgente e pertinente como a reflexão sobre a aplicação da prisão preventiva. E que não se venha dizer que só agora é que se fala disto ou daquilo porque está envolvido este ou aquele. Com esse argumento não se começaria a reflectir sobre nada. Se existe agora preocupação suficiente sobre os temas, que se aproveite. O que não se pode é continuar a tolerar esta solução intermédia, em que toda a gente se está a borrifar para o segredo de justiça, mesmo que a informação divulgada não venha suprir nenhuma necessidade informativa real e apenas se preste à exploração do populismo.
A fuga de informação sobre as transcrições das escutas é muito grave. Como são todas as outras quebras do segredo de justiça. Afectam de forma profunda a (pouca) confiança que a justiça vai merecendo em Portugal. Pactuar paulatinamente com esta realidade compromete o presente e o futuro da nossa justiça e da nossa democracia.
No segundo caso, a forma que a SIC escolheu para divulgar a informação a que teve acesso pautou-se por uma enorme falta de profissionalismo e de sentido de dever. O que a SIC divulgou foram meros excertos de diálogos, totalmente desinseridos do contexto. Nenhuma das referências às conversas tem mais que duas ou três frases. Muitas limitam-se a um excerto de uma frase. Não é possível compreender que a estação televisiva tenha procedido a uma edição tão cirúrgica das transcrições a que teve acesso. Se foi esse o caso levantam-se, pelo menos, duas perguntas: o que foi dito no resto das conversas? Por que razão se procedeu a esta opção de edição? Se, pelo contrário, foi a este conteúdo tão espartano que a SIC teve acesso também não podemos deixar de interrogar se em momento algum os profissionais envolvidos pararam para se perguntar no que se estavam a meter. Faz sentido emitir aqueles conteúdos sem qualquer análise crítica? Faz sentido emitir aqueles conteúdos, de todo? Qual é o serviço que está a ser prestado neste caso? Existe realmente um direito à informação sobre conversas privadas e que estão protegidas pelo segredo de justiça? A SIC preferiu ignorar estes aspectos e centrar-se no furo jornalístico, nas audiências. Tendo a oportunidade de escolher, preferiu indubitavelmente bater no fundo em nome do share. Justiça lhe seja feita, conseguiu.
Através das transcrições divulgadas pela SIC, em momento algum se pode concluir que algum dos envolvidos está a pressionar a justiça. Ao contrário do que Pacheco Pereira afirmou, do que foi divulgado não se pode concluir absolutamente nada. Para se extrapolar abusivamente que existiram pressões sobre a justiça teria que se admitir que o Presidente da República, o Procurador-Geral, o Procurador e o juiz encarregues do processo estariam na disposição de se colocar ao serviço das eventuais pressões exercidas. Alguém quer assumir abertamente esta hipótese? Para arrumar de vez com a democracia para as próximas décadas...

...e depois acordei. (II)

Acredito na protecção das fontes informativas. Julgo que é um pilar de segurança contra os abusos autoritários, monopolistas e corporativistas, entre outros, que existem nas sociedades democráticas. Garantir a protecção das fontes é garantir que existirá sempre uma válvula de segurança, um espaço de liberdade onde se faça ouvir a voz dos discordantes. Contudo, para credibilizar uma notícia baseada em fontes anónimas é necessário estabelecer alguns métodos. Entre outros, enquadráveis nas boas práticas jornalísticas, destaco três, enquadráveis nas boas práticas do bom senso e da ética profissional. Em primeiro lugar, a informação deve ser, de alguma forma, verificada, sob pena de se poder ver trocadas notícias por desinformações. Em segundo lugar, quando possível, deve ser dada a indicação da proveniência da informação, salvaguardando, evidentemente, a identidade da fonte. Por último, o processo informativo não pode ficar por aí. A investigação deve continuar e apurar todos os factos em profundidade.

...e depois acordei.

Cheguei a preparar, na semana passada, um pequeno post sobre a minha fé no amadurecimento democrático da sociedade portuguesa. Faltavam-lhe uns pequenos acertos, interrompidos pelo fim-de-semana (ver post anterior), para o considerar pronto para o blogue. Entretanto, vieram as revelações das escutas em horário nobre na SIC que me fizeram perder toda a vontade de colocar um post dessa natureza.
Para já, só me apetece clamar contra o péssimo serviço noticioso, ou mesmo televisivo, que a SIC prestou.

Este fim-de-semana senti-me assim...

Just a perfect day,
Drink Sangria in the park,
And then later, when it gets dark,
We go home.
Just a perfect day,
Feed animals in the zoo
Then later, a movie, too,
And then home.

Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

Just a perfect day,
Problems all left alone,
Weekenders on our own.
It's such fun.
Just a perfect day,
You made me forget myself.
I thought I was someone else,
Someone good.

Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

You're going to reap just what you sow,
You're going to reap just what you sow,
You're going to reap just what you sow,
You're going to reap just what you sow...

"Perfect Day" - Lou Reed

sexta-feira, outubro 17, 2003

Regresso

O Guerra e Pas voltou.

Manuais, educação e responsabilidade

Ainda em relação ao tema dos manuais escolares, o Aviz cita o Liberdade de Expressão. Sobre o que lá está dito, parece-me que no caso da educação não será bem assim. Quando se permite a publicação de manuais recheados de incorrecções o que principalmente se arrisca é o desenvolvimento educativo dos alunos. É de capital humano e cultural que estamos a falar.
Tenho grandes reservas em considerar a educação como, apenas, mais um ramo de actividade económica. Aliás, parece-me perfeitamente razoável um qualquer mecanismo de acreditação das editoras para a realização de manuais de estudo que serão, não o esqueçamos, obrigatórios para os estudantes. Trata-se, portanto, de uma dupla responsabilidade. Por um lado, a responsabilidade educativa a que o estado não pode e não deve furtar-se. Por outro, a responsabilidade de garantir material de cariz obrigatório com qualidade praticamente inatacável. Se não agirmos agora, o que poderemos esperar, ou exigir, das próximas gerações?

Eu e as datas

- Gostaste do post sobre Bragança?
- Sim, mas julgava que tínhamos começado a namorar em 1999...
- Ora bem... se já lá vão quatro anos... 2003 menos 4... deve ter sido.
- Bem me parecia.
- Vou já alterar isso.
- Realmente, tu e as datas...

quinta-feira, outubro 16, 2003

A minha prenda. Felicidades!

O surrealismo português revisitado no século XXI

Loja do AKI, no Carrefour de Telheiras, balcão das informações:

- Boa tarde, estava à procura de bancos.
- Que tipo de bancos? Redondos?
- Bancos. Bancos de plástico.
- Não temos uma grande variedade. Não vendemos muitos. Nem sequer temos cadeiras ou mesas. O que temos são uns banquinhos de trabalho.
- E estão aonde?
- Nos corredores do fundo, à sua direita.

Nos corredores do fundo:

- Desculpe incomodar, eu ando à procura de bancos e disseram-me que estariam aqui ao fundo...
- Bancos? Que tipo de bancos?
- Uns banquinhos de trabalho...
- Não, nós só temos cadeiras!

E eu, mesmo com as preciosas indicações dos funcionários, não encontrei nem bancos, nem sequer cadeiras. Já agora, por que raio toda a gente pergunta pelo tipo de banco se, pelos vistos, não têm nenhum.

quarta-feira, outubro 15, 2003

As memórias de ti

A última vez que estive em Bragança decorria o longínquo ano de 1999. Foi o ano do eclipse e foi, claro, o teu ano. Foi das muralhas do castelo que vimos o eclipse. Foi pelas serras de Montesinho que parámos para escutar os sinos das igrejas que anunciavam aldeias invisíveis. Ou então, escutávamos simplesmente o silêncio.
Bragança e as terras que a circundam têm, para mim, inevitavelmente, o teu cheiro, o teu sabor e a tua ternura. Como a Primavera. Por isso, é-me impossível imaginá-la de outra forma, por mais que me queiram convencer do contrário.

To run or not to run...

No Terras do Nunca surgem as perguntas:
Quando chove, é preferível andar calmamente ou correr? Sei que o problema foi estudado cientificamente há uns anos. Alguém se lembra da resposta?
Eu lembro-me. Quem corre molha-se menos. Mas cansa-se mais. É sempre assim, quando se pensa que se resolveu um problema, logo outro se levanta.
Sejam amáveis e façam o favor de avisar o JMF.

terça-feira, outubro 14, 2003

EUA vs Europa

Vale a pena ler a entrevista a Madeleine Albright publicada no DN. Uma interessante perspectiva sobre as relações entre os EUA e a Europa.

segunda-feira, outubro 13, 2003

O elogio da estupidificação

Uma boa súmula do que se tem dito sobre os tremendos disparates que são alguns manuais escolares está no Aviz. Um óptimo ponto de partida para outras paragens onde se dá largas à indignação.
Mais concretamente, e no que se refere aos últimos exemplos conhecidos, trazer os saberes dos alunos para a sala de aula é uma pobre desculpa para o encobrimento da estupidificação de massas que determinados programas televisivos representam. Discutir o Big Brother e as telenovelas tem uma relevância inegável. As ilações que se podem tirar desses produtos televisivos dizem muito sobre a televisão que temos e sobre quem a vê. Mas promover o assunto a tema de estudo no ensino secundário à custa de tempo para explorar a Língua, as obras e os autores resulta de uma insensatez e de uma incúria indescritíveis. Se calhar é de mim, mas era capaz de jurar ter visto há uns meses o ministro David Justino a dissertar sobre o seu comprometimento com o rigor e a exigência dos programas e do ensino. Devo estar enganado...

13 é o número dos sonhos

A Scuderia Ferrari conquistou o seu 13º Campeonato Mundial de pilotos e o seu 13º Campeonato Mundial de construtores na Fórmula 1. A Ferrari não constrói automóveis, constrói sonhos que voam baixinho. Tão baixo que alguns conseguem alcançá-los. Hoje em dia parece que só este vermelho é que me dá ainda algumas alegrias desportivas. Festejemos, então!

P.S.: A esta alegria junta-se outra. A de saber que há mais quem saiba o que é torcer por uma equipa na Fórmula 1. Se ainda não sabem, eu ajudo: é este.

sexta-feira, outubro 10, 2003

Os responsáveis que temos

O Procurador-Geral Souto Moura continua, de disparate em disparate, a sua cavalgada contra a serenidade do exercício da Justiça que zelosamente deveria defender.

quinta-feira, outubro 09, 2003

A angústia do bloguista no momento do post

Sensivelmente um mês e meio depois do início, às vezes dou por mim a cair na tentação de conceber este blogue de forma a agradar aos seus leitores. Só que, antes disso, é suposto que me agrade a mim. E quando me pergunto se há mesmo necessidade de alimentar este vício todos os dias, a resposta só pode ser um redondo não. Porque se não me apetecer, não escrevo. Porque mais vale estar quieto do que andar a escrever asneiras. A menos, claro, que me apeteça escrever asneiras. Mas isso já são outros blogues, digo, outras histórias.

Homo suburbanus

Não resisto a citar uma das melhores definições da condição de suburbano, retirada da Voz do Deserto, de que já tive conhecimento. É assim: uma pessoa sabe que é suburbana quando num automóvel com o rádio ligado na canção certa se torna capaz de recuperar a heroicidade das grandes narrativas gregas.
Ainda assim, fica a pergunta: não passámos já todos por uma situação igual.

Estudo de caso

Quem quiser reflectir um pouco sobre os problemas de trânsito e a sinistralidade em Portugal tem um óptimo estudo de caso nos hipermercados. Ainda que em escala reduzida, está lá tudo. A distracção, o desrespeito, a falta de civismo. Deus nos livre de alguma vez introduzirem motorizações nos carrinhos de compras. Seria, definitivamente, o nosso fim.

terça-feira, outubro 07, 2003

Jorge Palma

Um bom site sobre Jorge Palma é este http://jorgepalma.web.pt/primeira.htm. Para quem quiser conhecer e para quem quiser relembrar.

segunda-feira, outubro 06, 2003

As questões de fundo

Será de mim ou estas histórias de helicópteros e de acessos mal justificados à Universidade eclipsam, convenientemente, outras discussões mais sérias. Como aquelas sobre o futuro da Europa, ou sobre a derrapagem do défice, ou sobre o financiamento do ensino superior, ou sobre a revisão constitucional... Triste país, este.

O cheiro dos dias

Ontem Lisboa cheirava a melancolias insondáveis, a cheiros de outros tempos. Hoje cheira inequivocamente a Inverno. Aquele cheiro que nos entra pelo nariz e arrefece o corpo até à alma.
Faltam seis meses para a Primavera...

sexta-feira, outubro 03, 2003

Sobre o aborto II

Voltando ao debate sobre o aborto acrescento alguns esclarecimentos sobre o referendo de 1998.
Resumidamente, a abstenção pode explicar-se, claro, pelo grau de interesse que a questão referendada suscita. Mas também pela “certeza” do resultado, pelo apoio de alguma(s) força(s) política(s) nesse sentido e pela divergência entre a indicação de voto de um partido e o sentimento da maioria do seu eleitorado (neste caso também serão importantes as divisões dentro do próprio partido acerca do assunto).
Concretamente, e segundo estudos elaborados a esse respeito, o resultado que se verificou e a elevada abstenção que lhe esteve associada, influenciando inegavelmente o resultado, dependeram de diversos factores.
Contribuíram para esse resultado, por exemplo, as divisões internas no PS, que na altura se encontrava no governo e era o partido mais votado. Igualmente importante foi a maior mobilização dos partidos de direita (PSD e CDS/PP), quer se tenha verificado por razões ideológicas, quer se tenha verificado por razões eleitorais. Convém não esquecer que 1999 foi ano de eleições e que os referendos também serviram de aferição de intenção de voto do eleitorado. Desta forma, os partidos de direita registaram menores taxas de abstenção. Outro factor de grande importância foi a mobilização da Igreja contra o aborto. O peso desta instituição na sociedade portuguesa é muito grande e de maneira nenhuma se poderá negligenciá-lo. Fazendo a ligação do poder da Igreja em sectores tradicionalmente associados à direita, facilmente se concluirá que, mais uma vez, foi este lado da contenda que registou menos razões para a abstenção. Finalmente, as previsões de uma vitória certa para o “Sim” tiveram um efeito de desmobilização dos seus apoiantes, registando-se o efeito inverso no campo oposto.
Se o referendo se repetisse hoje os resultados seriam os mesmos? De certeza que não. Depois do que ficou dito em cima, não se pode esperar que a actual conjuntura política repetisse os passos dados no passado. É de crer que o número de eleitores mais sensibilizados para votar fosse maior. Sem que isto queira, obviamente, dizer que a votação se desse no sentido contrário. Mas estou convencido que, sendo certo que a abstenção se verificou sobretudo entre os apoiantes do sim, uma repetição, por estes dias, traria, em princípio, mais vantagens para estes.
Quanto à clarificação das expressões utilizadas no Barnabé que a Briosa me pede, julgo que será muito mais correcto pedi-las ao autor. Do mesmo modo, recordo que a re-introdução da questão do referendo foi proposta e não aqui, por isso reservo a minha posição a esse respeito para outra altura.
Por último, claramente que não defendi o direito à vida somente a partir de um determinado nível de qualidade. Limitei-me a polemizar sobre o facto de ser impossível separar o aborto das causas e consequências que lhe estão associadas. O aborto, para além de uma questão de ética ou moral, é também uma questão de saúde pública e de dignidade humana. Não se pode iludir este facto. É uma realidade que deve ser discutida em todas as suas componentes, mesmo que isso implique ir para além das convicções de cada um para compreender o fenómeno. Com o actual cenário também se perdem vidas. Muitas vezes duas de uma só vez. É esta realidade e este contra-senso que gostaria de ver alterados.

Para uma visão mais completa sobre o tema da abstenção nos referendos de 1998, consultar na Revista Análise Social, nº 158/159 o estudo de André Freire e Michael Baum.

Masters of War

Tantos anos depois esta canção ainda faz sentido:

Come you masters of war
You that build all the guns
You that build the death planes
You that build the big bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks

You that never done nothin'
But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly

Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain

You fasten the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
As young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud

You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins

How much do I know
To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
Even Jesus would never
Forgive what you do

Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul

And I hope that you die
And your death'll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand o'er your grave
'Til I'm sure that you're dead

"Masters of War" Bob Dylan

quinta-feira, outubro 02, 2003

Mais links

Mais uns links na coluna da direita. De todos, queria destacar um dos novos e um dos antigos. O antigo é a Janela Indiscreta. Não há blogue com maior capacidade de me surpreender pela positiva do que este. Mais do que surpreender, o Janela Indiscreta deslumbra.
O novo é o Nietzsche & Schopenhauer. É, provavelmente, um dos melhores blogues nacionais. Muito mais do que um blogue sobre o Benfica, é um blogue sobre uma maneira de estar na vida.
Qualquer um deles tem o poder de nos alterar o dia. Mesmo!

quarta-feira, outubro 01, 2003

Sobre o aborto

Num tema levantado pelo Barnabé – um novo referendo para a questão do aborto – a Briosa vem reclamar algumas posições que importa esclarecer. Não discutindo a questão da pretensa superioridade intelectual ou moral da esquerda, que nem sequer me parece aflorada pelo Daniel Oliveira, o que importa referir é que, em Portugal, os resultados dos referendos só se tornam vinculativos se neles participar mais de metade da população eleitoral. Ou seja, do ponto de vista formal, o resultado expresso pelo referendo não tem qualquer carácter normativo. Não é o que o Daniel Oliveira diz, é o que a lei diz.
Este facto não retira força às convicções de quem votou, independentemente do sentido do seu voto, mas a realidade é que a maioria da população não votou. Pelo que não se trata de admitir se a maioria está, ou não, connosco, mas sim constatar que a maioria não se expressou.
As razões pelas quais o referendo sobre o aborto atraiu tão poucos votantes são variadas e complexas. Para essas razões contribuíram: o dia de realização, a temática abordada, a formulação da pergunta, as campanhas desenvolvidas e um sem número de outros aspectos difíceis de inventariar. Dizer, no entanto, que votou quem achava que o assunto era importante, como faz a Briosa, é redutor e não corresponde, de todo, à realidade.
Além disto, é discutível a ordem de importância que a Briosa atribui à discussão sobre o aborto e sobre a legitimidade de um novo referendo. É discutindo o tema do aborto, que me parece primordial, que se chegará à conclusão, ou não, da relevância de repetir o referendo. O tema não se apresenta fácil, como, de resto, nunca se apresentou. É polémico e fracturante, como diz a Briosa. Mas isso não nos deve furtar à sua discussão.
Para concluir esta abordagem, por enquanto, deixo umas provocações. Quando a Briosa fala dos que gostam de defender a Vida como ela é, está a falar da vida de quem? E de que tipo de vida? Da vida a qualquer preço e a qualquer custo? E por que será que alguns dos que defendem a Vida se opõem veementemente à celebração do amor, estado privilegiado da vida, se este envolver pessoas do mesmo sexo?
Responda quem souber, ou quem quiser.

Errata

No post de 30 de Setembro, intitulado Ferrari, onde se lê Ferrari deve ler-se Ferrari e onde se lê A Sombra deve ler-se A Sombra.
As minhas desculpas.

As obras, os cartazes, as inundações...

As obras de repavimentação da Avenida Marechal Teixeira Rebelo, pomposamente anunciadas nos famosos outdoors de Santana Lopes, não foram capazes de evitar uma inundação provocada pela chuva desta madrugada, que veio a afectar consideravelmente o trânsito matinal. Se se verificar a má execução das obras, levanta-se uma questão: de que tamanho será o cartaz do pedido de desculpas?