sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Deja vu

Será que já postei alguma coisa parecida com o texto anterior? Era capaz de jurar que sim. Por outro lado, ainda na quarta-feira reli o blogue e não me lembro de nada em concreto.
Deja vu terá acento? Se calhar mais do que um. Que se lixe...

A angústia do título no momento do post

Das primeiras coisas que fiz no blogue foi activar a opção dos títulos. Agora vejo-me recorrentemente na situação de ter um texto prontíssimo para publicação, já copiado para a respectiva janela, e o título ainda por definir. Chega a ser exasperante encontrar meia dúzia de palavras que se adaptem ao texto. É a angústia do título no momento do post (olha, isto se calhar dá um bom título).

A impossibilidade da escolha

O Janela para o Rio postou uma lista dos seus singles preferidos. Na metade estrangeira estão também algumas das músicas que me têm feito companhia nestes anos. Por exemplo, Black dos Pearl Jam, Brothers in Arms dos Dire Straits, Creep dos Radiohead e One dos U2. Já de Smashing Pumpkins proponho Soma, do álbum Siamese Dream.
Na parte nacional, dos incontornáveis Xutos, um empate técnico entre Longa se Torna a Espera e Circo de Feras e do Jorge Palma pode ficar quase tudo. Então se for ao vivo, ainda melhor.

Este post lembra-me o filme Hi-Fi com John Cusack e Gwineth Paltrow (seria mesmo ela ou é a minha memória a pregar-me uma partida?). O filme é uma sucessão de listas em formato Top 5. Pessoalmente não consigo elaborar nenhuma lista deste género. Nem para músicas, nem para filmes, nem para livros, nem para o que quer que seja. Parece-me sempre que chego a uma solução incompleta ou injusta. O que, como se sabe, não é grande coisa para se apelidar de solução.

Pré-campanha

Quem percorre as ruas de Lisboa depara com os novos cartazes do PS. O foco centra-se nas promessas não cumpridas por Santana Lopes. Desta vez o tom é mais calmo e ao mesmo tempo mais acutilante. Devia ter sido assim desde o início.

Malhar no Ferro

Ferro Rodrigues volta a ser tema de conversa nalguns blogues. A causa, desta vez, é uma sondagem onde o líder do PS tem uma avaliação negativa por parte do eleitorado, ficando atrás dos outros líderes da esquerda parlamentar e acima dos líderes dos partidos da direita.
O Bloguítica lançou uma alfinetada e está à espera do troco do Viva Espanha. Acho que o vou deixar mal. Mesmo assim, vamos a isto. Resumidamente, sobre Ferro Rodrigues e o PS, não só o peso do processo Casa Pia ainda se faz sentir, como as políticas governativas causam desconforto a cada vez mais pessoas. Ou seja, eu colocaria a análise neste ponto: não é tanto a vontade de eleger o PS, é mais a vontade de derrotar a coligação. Ferro nunca foi um político carismático e não tem perfil para fazer oposição tal como muitos gostariam que fizesse. O que talvez queira dizer que estará mais à vontade no exercício do poder, quando não é preciso que levante a voz nem que se ponha em bicos de pés para fazer passar a sua mensagem. Quanto à Casa Pia, se é certo que não terá tido o melhor desempenho, fica por provar se outros teriam feito muito melhor.
Em relação aos resultados dos partidos e dos líderes da coligação, não há dúvidas que as opções políticas são cada vez mais criticáveis por um número cada vez maior de pessoas. Durão Barroso, como Primeiro-Ministro, sofre as consequências directas de dar a cara pelo governo. Já Paulo Portas é outro assunto. No seu caso, depois das suas últimas intervenções, assim como do seu partido, não recolherá confiança noutros eleitores que não os do PP. A esquerda não gosta dele, ponto final. No PSD também há muitos que gostariam de o ver pelas costas. E não só pelo seu passado de carrasco do cavaquismo. Também deve haver muitos simpatizantes sociais-democratas que responsabilizam o PP pelos actuais maus resultados da coligação. Por último, o conflito com Mário Soares, ex-presidente com um capital de simpatia que extravasa largamente o seu espectro partidário, não veio ajudar em nada.
Nestas questões da sabedoria popular, pessimista como sou, tenho sérias dúvidas sobre as lógicas que se queiram encontrar para explicar as escolhas racionais do eleitorado. O meu conselho é que se frequente um pouco mais os transportes públicos, verdadeiros instrumentos de aferição dos sentimentos populares. Ainda agora, quase a chegar ao trabalho, vinha a ouvir umas conversas sobre Salazar de meter os cabelos em pé. Quer se queira quer não, isto é o eleitorado nacional.

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Portugalismo

Aconselho vivamente a leitura deste post do Quase em Português. É a constatação do que já todos sabemos mas, apesar disso, continuamos a preferir fechar os olhos. Não sei se dói mais saber que é tudo verdade ou saber que todos sabemos que é verdade. Pode ser que na Alemanha as coisas também sejam mais ou menos iguais, salvaguardadas as devidas idiossincrasias, ou que em Espanha seja quase a mesma coisa. Não interessa. É perfeitamente indiferente. O que incomoda verdadeiramente é saber que por cá é assim. E que não há luz ao fundo do túnel. Porque, de facto, não há.

Poder simbólico

Há já umas semanas valentes, numa daquelas conversas de referência das quais nos recordamos por muito tempo, a certa altura dei por mim a pensar na carga simbólica que recheia todas as nossas acções. Sobretudo, interessou-me a capitalização que fazemos do poder simbólico que os objectos têm. Transportando para a realidade dos blogues, já algum blogger se perguntou qual é o significado simbólico que o blogue tem para si e para os outros? Não será que este hábito, que também tenho, de assinalar os aniversários dos blogues não passa de uma forma de capitalizar o poder do simbolismo associado à sobrevivência temporal de um blogue?

Adopção - contribuição tardia (II)

No que diz respeito à possibilidade dos homossexuais poderem adoptar, tenho uma posição muito definida. As opções sexuais de uma pessoa não devem ser impeditivo para que possa adoptar uma criança. Por uma questão de justiça, de coerência e de humanidade.
É uma questão de justiça porque, ao vedar o acesso à adopção aos homossexuais, estamos a cercear a sua cidadania, a sua plena participação na sociedade, limitando o seu papel como educadores, baseados em meros preconceitos. É também uma questão de coerência porque, se admitimos que o comportamento homossexual não deve ser discriminado, não é possível suportar a ideia de que uma pessoa não possa ter os mesmos direitos que outra somente por não partilhar as mesmas opções sexuais. Mais ainda, se defendemos que o comportamento sexual pertence à esfera privada de cada um, não podemos cair, sem justificação razoável, na devassa da vida privada alheia para fundamentar decisões que limitam o acesso à adopção. E mesmo que se verificasse que os educadores homossexuais potenciam um desenvolvimento sexual com a mesma orientação nos seus educandos, a pergunta a fazer é: e depois? O que é que temos a ver com isso? Se uma pessoa se sente confortável a expressar a sua sexualidade de uma forma que não é directamente lesiva para terceiros, como é que podemos definir exteriormente e de forma totalmente artificial que, na realidade, se trata de uma pessoa diminuída e infeliz? Não faz, de facto, qualquer sentido. Finalmente, trata-se de uma questão de humanidade porque não faz, também, qualquer sentido manter crianças em instituições sem lhes dar a oportunidade de poder usufruir de figuras paternas ou maternas e de privarem com outros significativos. Por muito competentes, vocacionados e bem intencionados que sejam os profissionais das instituições que albergam crianças, infelizmente, e com todo o respeito e admiração que merecem, não passam disso mesmo. São profissionais. Os laços que criam com as crianças poderão ser recíprocos e muito intensos, não duvido. Mas não se equiparam aos laços que se criam numa relação familiar.
Desde que se garanta que o adoptante possui um perfil adequado para as funções que vai exercer, o que não passa pela sua orientação sexual, estão satisfeitas, por parte deste, todas as condições principais para a adopção. O resto são os preconceitos que ainda continuam a vigorar na nossa sociedade.
Não tenho qualquer dúvida de que o que uma criança mais precisa, desde a mais tenra idade, é amor. Parafraseando o Quase em Português, o amor gay é tão bom como outro qualquer.

Adopção - contribuição tardia

As consequências de estar uma semana sem postar são imprevisíveis. Neste caso, calhou-me o azar de ter sido uma semana repleta de acontecimentos, no mínimo, interessantes. Um meio dinâmico como a blogosfera não se compadece com ausências tão grandes. A obsolescência dos temas avança a um ritmo vertiginoso. No entanto, esta percepção pode estar redondamente errada. Não sei bem até que ponto é que o dinamismo dos blogues desactualiza com justiça os temas que vão sendo abordados. Certamente muitos temas não merecem muito mais atenção do que a que lhes é dedicada. Mas outros poderão sofrer bastante com a volatilidade temática dos blogues.
Na semana passada, as declarações de Luís Villas-Boas despoletaram encaloradas reacções. Já muito foi dito e escrito e, embora ainda não tenha posto todas as leituras em dia, não tenho vontade de acrescentar muito mais ao que já tenho lido. Ainda assim, além de o tema estar longe de se ter esgotado nos últimos dias, um blogue também serve para organizar ideias. Sobretudo, é pertinente reflectir sobre o acesso à adopção por pessoas, ou casais, homossexuais. O desenvolvimento deste tópico segue dentro de momentos.

6 meses

Faz hoje seis meses que dei início ao Viva Espanha. Daqui a pouco vou imprimir todo o conteúdo do blogue e dedicar uma leitura atenta ao que aqui tenho publicado. Tenho uma certa curiosidade em saber se isto faz algum sentido ou não.

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Começar a semana

Os primeiros momentos da manhã são passados na central de marcação de consultas do Hospital de Santa Maria. Quando finalmente consigo marcação, presenteiam-me com um caderno de consultas. A ideia de um caderno de consultas é muito útil. É prático e económico. Mas, ainda que bastante pequeno, um caderno com tantas folhas não deixa de ser desanimador para qualquer paciente.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Dificuldades

Mais uma semana em que vai ser muito difícil postar.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Jorge Coelho

A diferença entre as palavras de João Soares e as de Jorge Coelho é que o primeiro quer mostrar-se como alternativa a curto prazo e o segundo prefere esperar. Jorge Coelho lá vai afirmando a sua solidariedade para com Ferro Rodrigues, enquanto também manifesta a sua vocação para um dia vir a liderar os destinos do partido. Nesta pequena nuance pode interpretar-se um sinal interno. Nenhum candidato à liderança do PS se poderá esquecer de Jorge Coelho. As consequências poderão ser graves. Não se ganha o PS sem Jorge Coelho, muito menos contra Jorge Coelho.

Mudar porquê?

Se as movimentações para substituir Ferro Rodrigues já começaram, ou se tardam em começar, ou se sempre existiram, não é a questão central. A questão central é a forma como o país está a ser governado e as reais alternativas que se apresentam. O PS lidera as sondagens, tem a direcção mais à esquerda de que há memória e demonstra abertura a uma coligação com outra(s) força(s) política(s) do mesmo espectro. Há condições palpáveis para alcançar o poder e consolidá-lo com uma coligação que permita governar estavelmente durante quatro anos. Sem cinzentismo, sem centrismo, sem Daniel Campelo. Compreendo que as coligações à esquerda assustem muita gente. Mas para todos os que querem ver a actual coligação substituída o mais rapidamente possível, não faz sentido enjeitar a oportunidade que se apresenta. Ou será que se contesta tanto a liderança de Ferro Rodrigues porque, com ou sem coligação, pode vir aí um governo de esquerda?

Uma liderança a prazo?

Para mim, uma das coisas mais intrigantes da política nos últimos tempos tem sido a vontade, evidenciada por tantos, de substituir Ferro Rodrigues na liderança do PS. A direcção de FR apareceu para ser queimada. Julgo que todos anteciparam um líder transitório. FR perderia, como se anunciava, as legislativas e colocaria o lugar à disposição nessa altura ou pouco depois. Aí sim, apareceriam os verdadeiros salvadores do PS, que o levariam de vitória em vitória até às próximas legislativas.
Esta teoria começou a ruir quando FR conseguiu, logo nessas legislativas, um resultado notável, o que lhe garantiu um balão de oxigénio para permanecer no seu lugar.
Ao dar a cara pelo partido quando era mais difícil fazê-lo e ao alcançar esse resultado eleitoral, FR ganhou o direito, por mérito próprio, a permanecer na liderança do PS.
Veio depois o caso Casa Pia com os pormenores que já se conhecem. Mais uma vez, FR mostrou, contra todas as previsões, ser capaz de aguentar o barco. Podemos questionar a gestão política que fez, mas não podemos negar que indubitavelmente resistiu à intempérie. Aliás, não só resistiu como colocou o PS, o seu PS, na liderança das sondagens eleitorais. Há quem queira ver nisto mais uma fraqueza da coligação PSD-CDS/PP do que um fortalecimento do PS. Independentemente das causas reais, o facto é que o PS parece, neste momento, reunir a preferência eleitoral dos portugueses.
Por isso, é muito estranho continuar a assistir aos ataques, tanto internos como externos, à liderança do PS. É muito estranho que as atenções se concentrem na dissecação das divisões internas no PS, que não são nenhuma novidade, e não nos crescentes sinais de mal-estar na coligação governamental. E é estranho que se continue a falar de FR a prazo, quando ele já conquistou o direito a levar o PS às próximas legislativas há muito tempo.

Mais links

Já estão disponíveis os links para o Tugir e para O Jumento.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Boas e más notícias

Boa notícia: mais dia menos dia, Celeste Cardona vai abandonar o governo.

Má notícia: o seu sucessor, muito provavelmente, sairá igualmente das fileiras do CDS/PP.

Celeste Cardona

Segundo o Público, Celeste Cardona já percebeu que o seu nome é dos primeiros na lista de remodelações deste governo. Nem dentro da coligação a ministra encontra apoio.
Celeste Cardona limitou uma boa parte da sua governação à conclusão de propostas políticas iniciadas pelo anterior governo. O seu nome fica também ligado a uma das fases mais controversas do sistema judicial português. É certamente injusto imputar-lhe mais responsabilidades do que as que realmente teve na presente situação da Justiça. Para isso, teria sido necessário que a ministra tivesse esboçado algo que se assemelhasse, ainda que remotamente, a uma estratégia de governação. O que não foi o caso. Celeste Cardona passou sempre ao lado das grandes questões da Justiça. E se não se pode inflacionar as suas responsabilidades, também não se poderá esquecer que este foi o ministério das violações sistemáticas do segredo de justiça, da recusa autista das recomendações sobre as salas de injecção assistida e da retenção dos descontos dos funcionários eventuais. Em poucas palavras, do definitivo reconhecimento público da crise generalizada no sector. E tudo isto sem que se tenha ouvido uma palavra à ministra. Tudo sem um sinal de confiança da sua parte. Algo que fizesse acreditar que a situação seria controlada. Pelo contrário. O que sempre sobressaiu na ministra foi uma fé inabalável numa entidade superior de ordem metafísica para prosseguir o seu trabalho. Sem dúvidas. Sem perguntas. Sem respostas.

Uma forma de estar na vida

A França aprovou ontem, por larga maioria, restrições aos símbolos religiosos nas escolas públicas. É impossível evitar uma certa perplexidade perante uma medida que parece confundir a desejável laicização do Estado com uma, no mínimo, duvidosa laicização dos estudantes. Mais ainda, causa desconforto sentir que é uma lei, na sua génese, talhada de propósito para a comunidade islâmica.
Não é incomum encontrar pessoas surpreendidas com esta medida. Sobretudo surpreendidas com o facto de tudo se ter passado em França. Os estereótipos ainda são o que eram. Ainda estamos habituados a pensar numa França revolucionária; numa França iluminista e progressista; numa França pátria da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Com esta legislação sabemos que não só no meio estudantil, mas também em toda a França, a Fraternidade foi descuidada, a Liberdade está mais limitada e a Igualdade foi nivelada por baixo.
Não são fenómenos que nos sejam desconhecidos. Também por cá sabemos o que é nivelar por baixo. Perante as regalias de determinado grupo social surgem imediatamente a inveja mais torpe e a pequenez de mentalidade. As posições confortáveis nunca são atribuíveis ao mérito. Se alguém se destacar da mediania, para não dizer da mediocridade, logo aparecem as vozes de indignação, clamando contra injustiça, exigindo a reposição da condição de igualdade miserabilista que caracteriza os que são incapazes de conviver com o conforto e a felicidade alheia. Pobres miseráveis que, à custa de tanto lutarem contra o bem-estar dos outros, nunca encontrarão a sua própria felicidade.
É sempre mais fácil destruir, deitando por terra as conquistas dos outros, do que exercer os direitos de cidadania com responsabilidade e perseverança, construindo um país melhor.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Educação Sexual

Adaptar os conteúdos e as formas de transmissão dos mesmos ao público é uma das regras básicas da comunicação. Muitas campanhas começam a falhar por aí. Como parece que vai ser o caso da Educação Sexual nas escolas. Tendo por base o que se lê no Barnabé, que por sua vez se baseia no que se lê na Notícias Magazine, Mariana Cascais entregou ao Movimento de Defesa da Vida muitas responsabilidades nas acções de Educação Sexual nas escolas. Advogar junto dos jovens, como faz este movimento, valores como a abstinência e a fidelidade traduz não só juízos de valor dispensáveis no meio escolar, como também uma incompreensão gritante da cultura juvenil. Vir pedir a adolescentes e pré-adolescentes que ajam de acordo com estes princípios é uma ideia perfeitamente peregrina. Embora possa haver um número significativo de jovens dispostos a proceder desta forma, para os outros, os que não compreendem ou não se identificam com estes valores, a estratégia vai resultar totalmente improdutiva. Já para não falar que qualquer pessoa tem direito à sua sexualidade e a vivê-la da forma que lhe apetecer, desde que obviamente salvaguardados os direitos de terceiros.
Uma pessoa pode optar por um estilo de vida promíscuo. Eu posso não me identificar com isso, mas não tenho o direito de condenar ou subvalorizar essa opção, muito menos de o fazer institucionalmente na escola. O que se pretende da Educação Sexual é que ela permita aos jovens conhecerem a sua sexualidade de forma a dela usufruírem com responsabilidade. O objectivo não passa por uma supressão medieval da vida sexual na juventude ou na idade adulta. Quem não compreender que a desadequação do discurso ao público mina qualquer estratégia está condenado ao fracasso.
Perante este cenário desanimador, quer ele seja atribuível à incompetência, quer se deva à insensatez, aos pais resta a solução actual. Quem tiver sensibilidade e sapiência para tal vai continuar a ter sobre si a responsabilidade da educação sexual dos filhos. Depois é esperar que eles tenham juizinho. Os crentes podem rezar...

P.S.: A educação sexual também passa inquestionavelmente pelos progenitores. O que a educação sexual nas escolas, e dentro do ensino obrigatório, oferece é uma democratização do acesso a esse campo. Deste modo, quem não tiver acesso no agregado familiar, pode ter acesso no meio escolar. Ficam assim colmatadas as insuficiências que se registam na sociedade portuguesa e que têm vindo a ser divulgadas por estudos bem recentes.

Previsões adiadas

O dia de publicação dos textos sobre o futuro da blogosfera acaba de ser transferido para quinta-feira. Isto é que é volatilidade blogosférica.

Media 2

Ainda na 2:, também ontem se pode assistir a um programa intitulado Clube de Jornalistas. Nele se debateram, em diversas vertentes, as fontes dos jornalistas. Apesar de ter seguido o programa com interesse, fiquei sem saber o que é que permite a um jornalista ter confiança numa fonte. Dos assuntos tratados, e mais do que ver dissecados os casos apresentados, estava particularmente interessado em saber em que medida se estabelece uma relação de confiança entre um jornalista e a sua fonte. Como é que se estabelecem os contactos iniciais? O que é que a torna credível? Como é que se diferencia a informação da manipulação? Existe uma análise crítica e periódica das fontes e das informações? Julgo que são aspectos essenciais da acção jornalística que gostaria de ter visto esclarecidos. Para beneficiar essa relação de confiança que também existe entre os consumidores e os jornalistas e que se tem vindo a deteriorar.

As previsões

Hoje deve haver publicação dos exercícios de adivinhação sobre o futuro da blogosfera no Bloguitica. Aguardo paciente e curioso.

Resposta de esquerda gaiteira à direita trauliteira

'Posso desde já dizer que não tenho saudades de regime nenhum, de colónia alguma, que não sou fascista nem de extrema direita'

Olhe que sim, olhe que sim.

Revisitar a História

'A necessidade de descolonizar à pressa é fruto de justificar o 25/4, mais nada. E não é seguramente pelas ânsias das populações locais (...) porque essas “ânsias” não existiam na generalidade da população das colónias.'

Então, afinal a guerra era para quê?

Media 1

Na entrevista a Jorge Coelho, emitida ontem pela 2: e disponível no Público de hoje, ressaltou a forma de jornalismo que os entrevistadores privilegiaram. Foi um jornalismo de guerra. Os entrevistadores optaram por lançar projécteis e ficar a assistir à capacidade do ex-ministro de se esquivar deles com maior ou menor dificuldade (de uma forma geral esquivou-se bem).
De uma entrevista a uma pessoa com as responsabilidades políticas que teve e tem Jorge Coelho, espera-se um pouco mais. Não compreendo nem a entrevista que opta por encostar à parede o entrevistado, nem a entrevista de reverência. São más opções informativas. Algures no meio existe um equilíbrio que um profissional credenciado e experiente deve saber encontrar. Transformar a entrevista numa fórmula de agressividade mais ou menos gratuita é tão pérfido quanto assistir passivamente à elaboração propagandística a que alguns entrevistados se entregam.

O PS e Lisboa

No Forum Cidade está publicado um post que reproduz um texto de Miguel Coelho sobre os tristemente famosos cartazes do PS em Lisboa. Pergunta o responsável do PS ‘porque é que o PS está proibido de abordar as questões que se prendem com a segurança? É um terreno onde só a direita pode intervir, vedado à esquerda?’
Evidentemente, o problema não reside no facto de o PS ter privilegiado o tema da segurança, mas sim na forma como resolveu abordá-lo. A forma como os cartazes estão pensados é, no mínimo, passível de induzir interpretações securitárias. Este é que é o ponto fundamental. A campanha foi mal pensada e não surte o efeito desejado pelo PS. Pode ser que custe a admitir para os seus responsáveis, mas é uma evidência para quase todos os outros.
Mesmo assim, privilegiar a segurança no combate político por Lisboa também merece reparos. O exercício de Santana Lopes pode e deve ser criticado em muitos aspectos. Na política de habitação, na política cultural, na política ambiental e nos espaços verdes, na propaganda pessoal e partidária com o selo da CML, na falta de ideias e projectos concretos que não passem pelo Casino, pelo Parque Mayer e pelo túnel das Amoreiras. As possibilidades são tantas que centrar a atenção dos lisboetas somente em uma ou duas questões peca por defeito. Existe um verdadeiro manancial à disposição da oposição. Se não for aproveitado pelo PS, certamente haverá outras forças políticas dispostas a fazê-lo.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Está para breve

Devido a pressões insustentáveis sobre o autor, muito brevemente serão acrescentados mais blogues à coluna de links. Espero desta forma apaziguar os ânimos de determinado grupo de pressão, especialmente interessado no link para um certo blogue com nome de besta de carga.

Meritocracia à portuguesa

O Belenenses possui uma das poucas piscinas olímpicas de Portugal. No ano passado, as piscinas do clube foram seriamente afectadas pelo mau tempo, inviabilizando a sua utilização. Especialmente prejudicada tem sido a equipa de natação, onde pontificam alguns jovens valores da natação nacional, incluindo alguns detentores de records nas suas classes. O Belenenses tem vindo a adiar a recuperação das instalações, o que obriga os nadadores a treinar noutros complexos. Mesmo admitindo que a despesa para reparar as piscinas seja avultada e que o clube não tenha propriamente uma situação financeira invejável, não se percebe muito bem como é que pode ter sido considerado prioritário reforçar a equipa de futebol com oito (!) jogadores. Recorde-se que o CFB está a fazer uma temporada miserável no futebol, pouco diferente daquilo a que tem habituado os sócios nos últimos anos, enquanto desportistas que também defendem as cores do clube, já com provas dadas e com uma carreira desportiva à sua frente são negligenciados pela direcção. Exemplar e edificante…

Um a menos

Requicha Ferreira foi substituído nas suas funções. Depois do caso Martins da Cruz e do caso da lista de grevistas, o mínimo que se pode dizer é que já saiu tarde. Sem querer ser exaustivo, ocorre-me que continuam em funções, sem condições políticas para o fazer, Paulo Portas, Celeste Cardona, David Justino e José Cesário. Figueiredo Lopes e Amílcar Theias também possuem um historial governativo que clama por uma remodelação.

P.S.: Evidentemente, não acalento ingénuas esperanças de que Paulo Portas abandone o actual governo. Já se Celeste Cardona sair, só demonstra uma certa maturidade na coligação, mais concretamente no que se refere ao PP, que muita falta lhe tem feito.

Enganou-se

Por falar em Bloguítica, Paulo Gorjão anunciou o seu regresso definitivo a Portugal. Se a decisão foi tomada sem constrangimentos desagradáveis e de livre vontade, só há uma coisa a dizer. Erro. Grande erro. De qualquer forma, aqui ficam os votos de boas vindas.

Como disse?

-What’s your name?
- My name is Brzezinsky, Zbigniew Brzezinsky.

Com um nome destes, este tipo deve ter sido um caso sério de popularidade nas escolas por onde andou. Imagino o impacto junto das miúdas quando pronunciava estes dois nomes mágicos.
Curiosamente, o artigo que o Público transcreveu, e a que o Bloguítica já tinha aludido, deixa-se ler com muito mais facilidade que o nome do seu autor. Dele se pode extrair uma interessante ideia: ‘accountability is needed to restore credibility.’ Um princípio fundamental em política que lá, como cá, não se aplica tanto como merece.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Uma dúvida - no seguimento do post anterior

Desde há muito tempo que me interrogo se a alarvidade tem mais expressão na classe da esperteza saloia, em que o alarve se apercebe das implicações das suas palavras ou gestos, mas não se constrange, ou na classe da estupidez congénita, em que o alarve nunca chega a ter noção da profundidade do disparate.

Contra a reabilitação do salazarismo

Fico impressionado, no mau sentido da palavra, com o (re)surgimento de saudosismos salazaristas. Essa magnífica interpretação branqueadora, desculpabilizante e implicitamente elogiosa da ditadura salazarista ou provém dos adeptos do regime, ou dos desconhecedores da realidade, ou dos espertalhões mal intencionados, cuja escrita é mais rápida que a honestidade e o bom senso.
Sempre que se falar do Portugal desses tenebrosos 48 anos não se podem esquecer as perseguições políticas, as prisões, a tortura, os assassinatos, as violações, a guerra, os massacres, os mortos, os estropiados, o orgulhosamente sós, o racismo, a discriminação sexual, a censura, a exploração, a pobreza, a fome, o analfabetismo, as oligarquias, o compadrio, a hipocrisia moral, a pequenez das mentalidades, o centralismo e a escassez de recursos e de estruturas.
Ainda mais impressionado fico, no muito mau sentido da palavra, quando se tenta generalizar esse saudosismo à restante população portuguesa. Que fique registado, eu não tenho nem nunca tive qualquer simpatia ou apreço pelo Estado Novo. Nem conheço quem tenha. Pelo contrário, conheço quem tenha vivido o melhor que a ditadura tinha para oferecer: o assédio policial, a PIDE/DGS, as prisões e a guerra colonial. E conheço as desastrosas consequências que esses 48 anos de trevas trouxeram à mentalidade e aos costumes deste país.

Bola de cristal

Paulo Gorjão, no Bloguítica (Post 326), pede colaboração para a divulgação do seguinte desafio:

'Num texto entre 50 e 125 palavras, deverão descrever como é que acham que será a blogosfera portuguesa daqui a um ano.
Todos os artigos que receber (bloguitica@hotmail.com) serão publicados no Bloguítica na próxima segunda-feira. A identidade do autor (e o nome do blogue se tiver um) será revelada ou não, dependendo da vontade do mesmo.'

As razões da guerra

Concordo inteiramente com o teor do artigo de Vital Moreira no Público de hoje.

Ano Novo

Ontem foi dia de arrumações. Finalmente consegui voltar a ver o tampo da minha secretária. É castanho.