segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Leitor nº 209,5

Voltou. E ainda bem. Uma excelente notícia para começar a semana.

A preguiça, a preguiça...

O João Tunes mudou, novamente, de domicílio. A preguiça, esse pecado mortal tão idiossincrático, impediu-me de actualizar o link a tempo e horas. No novo Água Lisa podem encontrar-se os links para os três (!) blogues que o João Tunes já alimentou. E depois os outros é que são uns perros callejeros.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Pequenos nadas, ou talvez não

José Sócrates, após o convite do Presidente da República, naturalmente, vai formar governo. Desde já, e ainda antes de entrarmos efectivamente no período de governação PS, podemos esperar algumas diferenças significativas em relação ao executivo que cede o seu lugar:

1 – a cerimónia de tomada de posse não será atrasada porque o primeiro-ministro indigitado se atrasou a fazer qualquer coisa num sítio qualquer.

2 – não haverá alterações dos nomes dos indigitados no dia da tomada de posse.

3 – os ministros não ficarão surpreendidos com a nomenclatura dos seus ministérios.

4 – a relevância para o desempenho do cargo dos seus futuros detentores não será aferida através da carreira profissional dos avós ou de outros familiares próximos.

5 – imediatamente após a tomada de posse, os detentores dos cargos não adoptarão uma atitude esquiva em relação à comunicação social, mais própria de blackouts futebolísticos do que de detentores de cargos públicos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Mar Adentro

Esta semana estreia Mar Adentro, realizado por Alejandro Amenábar e com Javier Bardem no principal papel. É o mote ideal para tentar, mais uma vez, abordar o tema da eutanásia neste blogue.

A superioridade moral dos votos

Ivan Nunes publicou, ainda antes das eleições, uma reflexão longa, porém muito interessante, sobre o seu sentido de voto. Nela discorreu sobre a agenda do BE, a agenda do PS e respectivas diferenças.
Mas não é sobre essa parte do texto que me quero debruçar. Em jeito de introdução, Ivan Nunes tece algumas considerações sobre o voto em branco. Fundamentalmente, estas considerações baseiam-se em generalizações e, como todas as generalizações, são profundamente injustas, quando não simplesmente erróneas. Há, subjacente a toda essa parte do texto, uma superioridade moral que em nada difere da que é apontada aos votantes em branco.
Mesmo considerando todas as implicações futuras de um acto eleitoral, o voto é algo entre o votante e a sua consciência. Outra coisa é que seria de estranhar. Aliás, só assim faz sentido a reflexão que cada um faz para decidir o seu voto. Se assim não fosse, o votante não passaria de um inimputável, de um inconsequente ou de um clubista. Também os há, é certo, mas não deve ser essa a essência do voto. O voto deve ser reflectido, deve ser contextualizado e devem ser avaliadas as suas implicações.
As consequências sociais do voto não deixam de estar presentes só porque a opção escolhida passa pelo voto em branco. Pelo contrário, podem ser essas mesmas consequências que impedem uma pessoa de sancionar com o seu voto a chegada ao poder de determinado grupo de interesses, de determinada filosofia social ou de determinado modelo económico.
Por outro lado, o voto em branco pode traduzir, mais do que uma recusa do sistema político, uma falta de representação ideológica no sistema partidário. Distancia-se da abstenção na medida em que permite compreender que o eleitor optou por não escolher. A abstenção é incapaz de garantir, por exemplo, que o eleitor levou a cabo uma opção voluntária, ou se apenas se viu impossibilitado de se deslocar às mesas de voto. Desta forma, o voto em branco é um indicador muito mais concreto do que a abstenção.
Não me parece razoável fazer juízos morais sobre o voto, exceptuando, talvez, algumas circunstâncias muito particulares. A Constituição garante que ninguém deve ser discriminado pelas suas opções políticas e isso inclui, evidentemente, o voto em branco. Graduar valorativamente a respeitabilidade da orientação do voto é uma acção profundamente discriminatória que vai contra os princípios básicos da democracia.
Embora concordando que o voto é um assunto substancialmente muito diferente do da religião, do amor ou do sexo, julgo que, acima de tudo, não deixa de ser uma matéria pessoal. Pensar que se deve divulgar o sentido do voto é, na realidade, uma séria limitação às liberdades individuais. Quem quer divulga, quem não quer não divulga e não deve ser censurado por isso. Apesar das diferenças, quando interrogado sobre a orientação do voto, tal como sobre a orientação religiosa ou sexual, a resposta pode ser a mesma: ninguém tem nada a ver com isso. Se querem pedir satisfações, façam-no, sobretudo, a quem de direito, aos representantes políticos, aos que governam, aos que decidem. Não a quem vota.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Faltam três minutos para a meia-noite...

e eu estou um bocado cansado desta semana que termina. Por isso, não me apetecendo estender-me muito em considerações, importa dizer, claramente, que a estabilidade não é um fim em si mesmo. Aliás, de raciocínios desses costuma vir muita asneira. Defender a democracia passa, também, por compreender isso.

Balanço final

Há uns meses, quando Jorge Sampaio convocou eleições antecipadas, alguém fez notar que estas seriam as primeiras legislativas em que a blogosfera poderia funcionar como um observatório. Pela parte que diz respeito a este blogue, por razões várias, não me parece que isso se tenha verificado. Até porque houve muitas coisas nesta campanha a que teria sido preferível nunca ter assistido.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Fragmentação social

Num post no ...Blogo Existo, JPC aborda a fragmentação grupal da sociedade e manifesta algum receio que este processo conduza a um esboroamento da sociedade.
Importa dizer que a fragmentação social não implica, forçosamente, que a sociedade se esboroe à nossa frente. Permanecem laços que nos unem a todos. Tal como Giddens demonstra, há assuntos que têm um alcance global, tais como as ameaças nucleares e ambientais, pelo que nos dizem respeito a todos. Nessa medida, não parece que a(s) sociedade(s) corram o risco de colapso. Com efeito, existe uma tendência para que se criem grupos de interesses muito restritos, mas este facto é amplamente compensado pela rede de ligações que a mesma globalização permite. Os interesses podem ser cada vez mais dispersos, mas também o são as formas de interagir. Por exemplo, hoje é relativamente fácil para uma pessoa inserir-se num grupo transnacional de defesa das espécies ameaçadas da selva amazónica, ou de especialistas em medicina tradicional chinesa, etc. Para mais, não só aumentam as formas de interacção como as relações de interdependência, nem que seja puramente emocional. A tragédia que assolou recentemente a Ásia teve, a esse nível, repercussões mundiais. De forma semelhante, os atentados de 11 de Setembro provaram como um acontecimento local pode ter amplas consequências globais.

Podemos interrogar-nos, com pertinência, sobre a qualidade de cidadania que as nossas sociedades promovem. É incontestável que existem sérias ameaças neste campo e que provêm de diversos factores, muitas vezes interligados, dos quais a relação política-meios de comunicação é um bom exemplo. Mas os sentimentos de pertença estão, ainda assim, sempre presentes. O sentimento de pertença, tal como o próprio funcionamento de uma sociedade, depende dos processos de socialização e estes não estão para acabar, por mais que proliferem os micro-grupos. Somente num cenário de total ausência de referências culturais isso seria possível. Mas enquanto existirem, pelo menos, um sistema de ensino coerente, produtos culturais de massas e um sistema económico baseado no capitalismo empresarial temos asseguradas estruturas de socialização com referências comuns que abrangem várias pessoas simultaneamente.

O sentimento de cidadania que o JPC refere tem muito a ver, ainda, com a pertença a um estado-nação. Compreensivelmente, as mudanças que se têm registado, por exemplo, no seio da União Europeia levam-nos a equacionar o futuro deste conceito. Parece claro, hoje em dia, que uma pessoa se sente muito mais cidadã do seu país do que de uma região definida de forma mais ou menos abstracta como a UE. No entanto, caminha-se no sentido de uma progressiva integração e há ferramentas que podem ser utilizadas para promover o sentimento de pertença de que a UE ainda carece. Uma revisão da escolha dos representantes nacionais nas estruturas da UE e da sua capacidade de resposta aos problemas dos cidadãos, sem comprometer o louvável princípio da subsidiariedade, são dois dos aspectos que merecem maior atenção.

A globalização desenvolve-se por paradoxos. Qualquer análise não pode deixar-se apanhar nas suas teias. A sociedade transforma-se, agora a uma velocidade cada vez maior. O que está em causa são, precisamente, essas transformações. A velocidade e a profundidade destas tornam difícil perceber o seu sentido e arriscar uma previsão. Não restam dúvidas que a política tem a difícil e exigente tarefa de encontrar soluções para os problemas que se levantam, mas parece abusivo que a sociedade se possa esboroar algures pelo caminho. Trata-se, simplesmente, de definir para onde queremos ir, qual o percurso para lá chegar e quem reúne melhores condições de liderar a viagem.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Da isenção

Quem, ontem e hoje, comprou as edições do Público pode fazer uma comparação interessante. Observem-se as fotografias escolhidas para ilustrar as entrevistas do líder do Bloco de Esquerda e do líder do PS, edições de hoje e de ontem, respectivamente. A contrastar com a candura de Francisco Louçã aparecem imagens de um Sócrates irado, quase violento. O que, sobretudo para quem viu a entrevista, mas mesmo para quem apenas a pode ler, não transmite, de forma alguma, a postura do secretário-geral do PS. Perante isto, o que é que apetece dizer? Que se trata de um trabalho isento? Que é uma mera coincidência? Depois de ver, até ao final da semana, as opções para retratar os líderes do PSD e do PP, podemos falar mais sobre este assunto.

Ainda a propósito destas entrevistas, qual é o critério para a sua realização e subsequente publicação? Mais concretamente, o facto de os representantes dos partidos no governo serem os últimos a ser entrevistados deve-se ao acaso, às agendas de todos os candidatos ou a quê?

Também na edição de hoje é possível encontrar uma notícia cujo título é o seguinte:

Sócrates Questionado Sobre a Sede do PS em Felgueiras

Agora façam o favor de seguir o link e verificar se o conteúdo da notícia justifica o título que lhe foi dado. Ou sou eu que estou a ver filmes onde eles não existem?

De Espanha

Bons exemplos - pelo insuspeito Vital Moreira.

O Túnel - encore

Não se percebe esta vontade irredutível de não fazer um estudo de impacte ambiental ao Túnel do Marquês. O que é que se perde com isso? Não ficávamos todos mais descansados sabendo o que realmente se arrisca com esta obra?

O Túnel - encore

Não se percebe esta vontade irredutível de não fazer um estudo de impacte ambiental ao Túnel do Marquês. O que é que se perde com isso? Não ficávamos todos mais descansados sabendo o que realmente se arrisca com esta obra?

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Mudanças

A Rua da Judiaria mudou-se para http://ruadajudiaria.com/. O link já está actualizado.

Dresden

Se vos escapou o post sobre o bombardeamento de Dresden no Quase em Português, não percam muito mais tempo. É ir lá e ler até ao fim. Sobretudo o fim, porque duas asneiras não se transformam - nunca se transformaram - numa coisa certa.

Diferenças significativas

Não é verdade que Sócrates e Santana sejam as duas faces da mesma moeda. Simplesmente, não é. Nem será necessário referir as manifestas divergências ideológicas que os separam para o constatar.

A principal e mais significativa diferença ente eles reside no facto de José Sócrates, como hipotético primeiro-ministro, não constituir uma vergonha para o país. Podemos não concordar com as suas propostas ou com a sua forma hiper-planeada de fazer política, mas não nos envergonhamos da sua presença no executivo. Sócrates, simpatize-se ou não com a personalidade política, nunca evidenciou a falta de sentido de Estado, a falta de respeito pelas instituições e pela democracia que Santana mostrou à saciedade. O ex-ministro do PS pode fazer antever uma governação cinzenta, vocacionada para o centrão, mas não levanta suspeitas de enveredar pela falta de vergonha, pela dissimulação e pela incompetência gritante que Santana Lopes semeou e colheu em menos de meia dúzia de meses.

A verdade é que Santana Lopes e os seus acólitos ultrapassaram limites inconcebíveis, dos quais a estratégia de campanha é o mais recente exemplo. Perante o insucesso governativo e a derrota eleitoral anunciada, o PSD de Santana Lopes não hesita em recorrer à deturpação consciente da realidade ao sabor das conveniências e, até, à insinuação rasteira.

Por isso é tão importante que a derrota do PSD nas próximas eleições seja avassaladora. Só assim se pode extirpar uma forma de estar na política que é danosa para todos, ao mesmo tempo que se envia uma mensagem clara aos que continuam a pensar alicerçar a sua carreira em métodos semelhantes. Para que as novas gerações de Santanas, Gomes da Silva e quejandos se veja remetida à insignificância política.

Tonight

Believe in me as I believe in you.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Falando de coisas estranhas

O Carnaval, tal como é celebrado por cá, em biquini e ao som de samba no pico do Inverno, transforma-se na mais tristemente estranha festividade que temos.

Definição

Asco é a palavra que melhor define o estilo da campanha do PSD de Pedro Santana Lopes. Uma náusea que se instala à boca do estômago sempre que os olhos se deparam com mais um cartaz ou com mais um tempo de antena totalmente falacioso.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Uma boa lição

Santana Lopes, entrevistado na TSF, acaba de deixar transparecer que qualquer resultado eleitoral superior ao que o PSD terá eventualmente alcançado nas europeias, que o próprio definiu a rondar os 29 ou 30%, já é louvável. Desengane-se quem pensa que será fácil afastá-lo da liderança do partido depois de uma derrota nas legislativas. Ao PSD faltou força de vontade, no momento certo, para não se ver colado a uma liderança previsivelmente danosa. Agora sofre as consequências.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

O teu choque fiscal, por outro lado, foi o que se sabe

Nuno Morais Sarmento questionou várias promessas dos socialistas, com o objectivo de "esclarecer os eleitores", "desmontar ilusões" e mostrar que "o plano tecnológico (do PS) é um grande flop".

Teoria da conspiração

O que estão a fazer a José Sócrates é de uma indignidade inqualificável. Mais ainda, convém recordar que, no que toca a calúnias vergonhosas lançadas sobre a vida de dirigentes políticos, tomando em consideração o que fizeram a Ferro Rodrigues, esta é, num curto espaço de tempo, a segunda que se conhece que tem como alvo um líder do PS. Dá que pensar. Assim é mais difícil - muito mais difícil - não acreditar em bruxas.