Contra a reabilitação do salazarismo
Fico impressionado, no mau sentido da palavra, com o (re)surgimento de saudosismos salazaristas. Essa magnífica interpretação branqueadora, desculpabilizante e implicitamente elogiosa da ditadura salazarista ou provém dos adeptos do regime, ou dos desconhecedores da realidade, ou dos espertalhões mal intencionados, cuja escrita é mais rápida que a honestidade e o bom senso.
Sempre que se falar do Portugal desses tenebrosos 48 anos não se podem esquecer as perseguições políticas, as prisões, a tortura, os assassinatos, as violações, a guerra, os massacres, os mortos, os estropiados, o orgulhosamente sós, o racismo, a discriminação sexual, a censura, a exploração, a pobreza, a fome, o analfabetismo, as oligarquias, o compadrio, a hipocrisia moral, a pequenez das mentalidades, o centralismo e a escassez de recursos e de estruturas.
Ainda mais impressionado fico, no muito mau sentido da palavra, quando se tenta generalizar esse saudosismo à restante população portuguesa. Que fique registado, eu não tenho nem nunca tive qualquer simpatia ou apreço pelo Estado Novo. Nem conheço quem tenha. Pelo contrário, conheço quem tenha vivido o melhor que a ditadura tinha para oferecer: o assédio policial, a PIDE/DGS, as prisões e a guerra colonial. E conheço as desastrosas consequências que esses 48 anos de trevas trouxeram à mentalidade e aos costumes deste país.
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