terça-feira, setembro 30, 2003

Ferrari

Pelos vistos, n’A Sombra há Ferraristas. Por aqui também. Não me lembro de alguma vez ter torcido por algum piloto de Fórmula 1, excepção feita aos que se encontravam ao volante dos carros de Maranello. Sempre foi esta a minha relação com as corridas de automóveis. Quase nenhuma ligação com os pilotos, toda a atenção focada nas marcas.
A Ferrari representa um fenómeno no mundo automóvel, de uma forma geral, e na competição, de uma forma particular. Estatisticamente é a melhor equipa de sempre na Fórmula 1, apesar do lote de rivais dos quais se destaca inevitavelmente a Mercedes.
Mas o maior encanto da Ferrari reside na relação que consegue criar entre os seus carros e os seus admiradores. Certamente, entre os Ferraristas, só um número muito pequeno poderá alguma vez chegar a ter o prazer de possuir, ou sequer conduzir, alguma dessas sedutoras máquinas. Mesmo assim, a Ferrari desencadeia paixões que não parecem conhecer fronteiras nem classes.
Já há uns anos, numa entrevista publicada numa qualquer revista da especialidade, um membro de uma associação espanhola de proprietários de Ferraris comentava que não existia marca de carros mais inútil que a Ferrari. Estava totalmente certo. O Ferrari desloca-se naquelas condições especiais em que não chove, nem faz muito calor, nem o piso não é muito irregular. Não se adapta à condução citadina, nem a muitos outros tipos de condução que não permitam aproveitar as potencialidades do seu motor. Mais ainda, não é um carro fácil de guiar e costuma ser proibitivamente caro, quer no momento da aquisição, quer no da assistência. De resto, tirando os últimos anos, depois da aquisição pela FIAT, nem sequer era uma marca que fizesse questão no luxo ou no conforto.
E é sobretudo aqui que reside a essência do Ferrari. O Ferrari é, antes de tudo, um motor. É um super-desportivo. É essa a sua razão de ser e tudo o resto vem em segundo lugar. Mesmo a reconhecida estética das suas linhas, apuradíssima, aparece como complemento e não como fundamento.
A grandeza da Ferrari reside nas suas opções, na sua tradição e na sua história. Uma marca que não terá tido como campanha de marketing, pelo menos até meados dos anos noventa, muito mais do que as vitórias nas provas onde compete.
Voltamos a encontrar-nos no Japão...