O prazer dos livros
Faço parte daqueles para quem os livros são um objecto de reverência. Para mim o livro possui uma dimensão estética, separável do conteúdo da obra, relacionada com as próprias dimensões do objecto. Há livros de beleza irresistível nas suas dimensões, na relação entre o tamanho da lombada e o tamanho da capa, na concepção da capa, ou na escolha do tipo e tamanho de letra no seu interior. A paixão que nutro por estes objectos tem assim duas vertentes. Por um lado o enorme prazer que proporcionam pelos seus conteúdos. Por outro o enorme prazer que proporcionam enquanto objecto visual e táctil. Por estes motivos desenvolvi uma relação especial com os livros. Sofro ao vê-los mal tratados. Nunca compreendi o gesto de deitar livros para o lixo, por muito maus que possam ser. Abomino a violência inflingida sob a forma de riscos, rasgões, folhas separadas, capas dobradas. Acredito que as únicas palavras que se podem acrescentar a um livro são as de uma dedicatória de quem oferece para quem recebe. E nem mais uma!
Por tudo isto fiquei contente ao saber que o Pedro Mexia (Grande Reportagem, edição de Setembro) acredita que os livros não vão desaparecer no futuro. Mas, mesmo que ele esteja enganado, os que eu tenho já ninguém mos tira.
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