Absolutamente contra a bipolarização
"Sejamos claros. Sou um acérrimo defensor da bipolarização política entre o PS e o PSD. Como tal defendo também que a lei eleitoral deve ser alterada. A obtenção de maiorias absolutas quer pelo PS quer pelo PSD deve ser a regra e não a excepção.
O PS e o PSD não podem continuar reféns dos partidos à sua esquerda e à sua direita."
Não percebo. Juro que não percebo a razoabilidade desta argumentação. Não consigo conceber como é que uma democracia, toda uma sociedade, fica a ganhar com a bipolarização partidária. Um condicionamento eleitoral que reduz a representação do eleitorado é anti-democrático por natureza.
Já por diversas vezes aqui escrevi a defender a definição ideológica dos partidos e não me apetece estar a repetir-me neste momento. O cnceito da maioria absoluta não me agrada. Não me sinto confortável com os absolutos. Mas compreendo que seja apelativo para os partidos. É mais fácil governar com a segurança de uma maioria unipartidária no parlamento do que ser obrigado ao difícil equilíbrio de negociar coligações ou acordos parlamentares. No entanto, considero que a essência da política pode ser sumarizada numa gestão de interesses com vista à transformação social. Nesta óptica, parece-me desejável que haja uma pluralidade de interesses representada nos locais de poder. Fugir a esta negociação é uma solução facilitista, conformista e, em última análise, uma negação da essência da política.
Compreendo que se discorde destas considerações e que se defenda as vantagens das maiorias absolutas. Mas tenho mais facilidade em fazê-lo dentro do actual sistema eleitoral do que num outro, fruto de uma alteração que pretenda deliberadamente afastar dos locais de decisão um número muito considerável de sensibilidades políticas. A estabilidade, traduzida numa maioria absoluta, pode ser conquistada legitimamente no actual sistema. Não é comum, mas já aconteceu e as sondagens indicam a iminência de poder voltar a acontecer já nas próximas eleições legislativas. O sistema pode não ser perfeito, mas é sem dúvida preferível a qualquer fórmula artificial bipolarizadora.
3 Comments:
Defender uma bipolarização onde o sistema expurga logo à partida cerca de 40% de eleitores que se abstiveram é caso que dá para pensar...
Dá para pensar que o que os partidos gostam é de sentar-se nas nos lugares para os quais ninguém os sufragou!
Subscrevo inteiramente.
Pode ser muito bom para eles...mas será com certeza péssimo para todos nós!
caro miguel,
tenho refletido bastante (não tanto no blog, porque as melhores reflexões têm outra vista que não o ecrã) sobre o nosso sistema eleitoral, que cada vez me convenço mais que é o pior da Europa.
se percebo a sua lógica, também há-de convir que não é bom que se mude constantemente de governo, ou seja que este não dure 4 anos.
não consigo perceber como o miguel defende o actual sistema que coloca nas mãos de um presidente (afastando todas as sensibilidades possiveis) o ir para eleições...
Eu defendo, um sistema (bipolarizado tb me custa a aceitar) onde o poder legislativo seja independente do governativo mas onde se perceba claramente que aquilo vai durar 4 ANOS, custe o que custar.... Assim haveria certamente consensos.
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