sexta-feira, dezembro 17, 2004

Absolutamente contra a bipolarização

"Sejamos claros. Sou um acérrimo defensor da bipolarização política entre o PS e o PSD. Como tal defendo também que a lei eleitoral deve ser alterada. A obtenção de maiorias absolutas quer pelo PS quer pelo PSD deve ser a regra e não a excepção.
O PS e o PSD não podem continuar reféns dos partidos à sua esquerda e à sua direita."


Não percebo. Juro que não percebo a razoabilidade desta argumentação. Não consigo conceber como é que uma democracia, toda uma sociedade, fica a ganhar com a bipolarização partidária. Um condicionamento eleitoral que reduz a representação do eleitorado é anti-democrático por natureza.

Já por diversas vezes aqui escrevi a defender a definição ideológica dos partidos e não me apetece estar a repetir-me neste momento. O cnceito da maioria absoluta não me agrada. Não me sinto confortável com os absolutos. Mas compreendo que seja apelativo para os partidos. É mais fácil governar com a segurança de uma maioria unipartidária no parlamento do que ser obrigado ao difícil equilíbrio de negociar coligações ou acordos parlamentares. No entanto, considero que a essência da política pode ser sumarizada numa gestão de interesses com vista à transformação social. Nesta óptica, parece-me desejável que haja uma pluralidade de interesses representada nos locais de poder. Fugir a esta negociação é uma solução facilitista, conformista e, em última análise, uma negação da essência da política.

Compreendo que se discorde destas considerações e que se defenda as vantagens das maiorias absolutas. Mas tenho mais facilidade em fazê-lo dentro do actual sistema eleitoral do que num outro, fruto de uma alteração que pretenda deliberadamente afastar dos locais de decisão um número muito considerável de sensibilidades políticas. A estabilidade, traduzida numa maioria absoluta, pode ser conquistada legitimamente no actual sistema. Não é comum, mas já aconteceu e as sondagens indicam a iminência de poder voltar a acontecer já nas próximas eleições legislativas. O sistema pode não ser perfeito, mas é sem dúvida preferível a qualquer fórmula artificial bipolarizadora.

3 Comments:

At 1:26 da tarde, Blogger Carlos Araújo Alves said...

Defender uma bipolarização onde o sistema expurga logo à partida cerca de 40% de eleitores que se abstiveram é caso que dá para pensar...
Dá para pensar que o que os partidos gostam é de sentar-se nas nos lugares para os quais ninguém os sufragou!

 
At 8:15 da tarde, Blogger mfc said...

Subscrevo inteiramente.
Pode ser muito bom para eles...mas será com certeza péssimo para todos nós!

 
At 4:29 da tarde, Blogger cparis said...

caro miguel,

tenho refletido bastante (não tanto no blog, porque as melhores reflexões têm outra vista que não o ecrã) sobre o nosso sistema eleitoral, que cada vez me convenço mais que é o pior da Europa.

se percebo a sua lógica, também há-de convir que não é bom que se mude constantemente de governo, ou seja que este não dure 4 anos.


não consigo perceber como o miguel defende o actual sistema que coloca nas mãos de um presidente (afastando todas as sensibilidades possiveis) o ir para eleições...

Eu defendo, um sistema (bipolarizado tb me custa a aceitar) onde o poder legislativo seja independente do governativo mas onde se perceba claramente que aquilo vai durar 4 ANOS, custe o que custar.... Assim haveria certamente consensos.

 

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