sexta-feira, setembro 05, 2003

Sobre a poligamia

As Terras do Nunca chamam a atenção para um artigo sobre a poligamia masculina. O tema parece-me interessante, não só pela questão da poligamia em si, mas também pela questão do crescente conhecimento sobre a genética humana e as subsequentes relações com a cultura do Homem.
Chegar à conclusão que a poligamia tem antecedentes genéticos parece-me razoável. Está em consonância com o que se passa com uma boa parte da bicharada deste planeta, da qual, não o esqueçamos, também fazemos parte. O mecanismo biológico aumenta as hipóteses de sobrevivência da espécie e segue a lógica darwinista da selecção natural do mais forte. Até aqui nada a apontar, se estivermos a falar do ponto de vista estritamente biológico.
Acontece que o Homem ultrapassou a barreira da consciência de si e tornou-se, algures no processo evolutivo, animal cultural e social. Nesta medida, o facto de a poligamia ter decaí­do no mundo ocidental deve-se a constrangimentos sociais e culturais.
Não querendo, nem podendo, ser exaustivo na história da sexualidade humana (que não domino e por isso constitui filão que não posso explorar), penso que existe um tema com relevância explicativa e passí­vel de ser melhor desenvolvido. Na modernidade ocidental ter famí­lia e filhos é um encargo cada vez maior. As despesas que uma famí­lia com filhos tem tornam a sexualidade com fins reprodutivos algo em que vale a pena pensar duas vezes. Uma criança já não se pode considerar uma fonte de rendimento, ideia que vingava na transição do sec. XIX para o sec. XX e que se prolongou por este último mais do que seria recomendável. Educar uma criança, cem anos decorridos, acarreta despesas para os orçamentos familiares (saúde, educação, vestuário, actividades extra-curriculares, ATL's, etc.) que se podem tornar demasiado pesadas para as bolsas médias. Se o caso se afigura assim para uma famí­lia, podemos facilmente imaginar as consequências num cenário de poligamia. Este, definitivamente, já não é um comportamento financeiramente rentável.