Somos o que fazemos
Não é propriamente novidade o mau serviço jornalístico prestado pelas estações televisivas nacionais. Também não é nenhuma novidade a curiosidade mórbida que assola a mentalidade de algumas (demasiadas) pessoas. Quando a grande maioria dos automobilistas reduzem a velocidade para poder observar um pouco melhor os vestígios da desgraça alheia, o que é que se poderia esperar quando os momentos derradeiros da vida de uma pessoa foram captados por um sem número de câmaras.
A televisão tem o dom de poder aproximar os fenómenos distantes, de tornar mais familiares os acontecimentos. Ver tombar um jovem de 24 anos ajuda a colocar muitas coisas em perspectiva. O que não tem absolutamente nada a ver com o aproveitamento boçal do sofrimento alheio para conseguir mais uns algarismos no share. Mas isto também não é exactamente novidade.
Seria bom que juntamente às perguntas sobre os meios de auxílio disponíveis em Guimarães, e às quais é necessário dar resposta, nos interrogássemos sobre a cobertura dada à morte do jogador do Benfica. Seria bom que alguém perguntasse aos responsáveis pela transmissão repetitiva do enorme sofrimento vivido na altura se alguma vez pensaram que entre os possíveis algarismo de share estariam familiares e amigos do jogador, obrigados a renovar a dor uma e outra vez.
Há quem deposite demasiado optimismo nas gentes deste rectângulo geográfico. Eu mantenho as minhas reservas. E revejo neste episódio o calcorrear do mesmo caminho fácil, as mesmas soluções populistas, as mesmas características que nos afastam da educação, dos livros, dos jornais, dos museus, da cultura, do civismo, do respeito pelos outros, de tantas coisas mais...
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