quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Adopção - contribuição tardia (II)

No que diz respeito à possibilidade dos homossexuais poderem adoptar, tenho uma posição muito definida. As opções sexuais de uma pessoa não devem ser impeditivo para que possa adoptar uma criança. Por uma questão de justiça, de coerência e de humanidade.
É uma questão de justiça porque, ao vedar o acesso à adopção aos homossexuais, estamos a cercear a sua cidadania, a sua plena participação na sociedade, limitando o seu papel como educadores, baseados em meros preconceitos. É também uma questão de coerência porque, se admitimos que o comportamento homossexual não deve ser discriminado, não é possível suportar a ideia de que uma pessoa não possa ter os mesmos direitos que outra somente por não partilhar as mesmas opções sexuais. Mais ainda, se defendemos que o comportamento sexual pertence à esfera privada de cada um, não podemos cair, sem justificação razoável, na devassa da vida privada alheia para fundamentar decisões que limitam o acesso à adopção. E mesmo que se verificasse que os educadores homossexuais potenciam um desenvolvimento sexual com a mesma orientação nos seus educandos, a pergunta a fazer é: e depois? O que é que temos a ver com isso? Se uma pessoa se sente confortável a expressar a sua sexualidade de uma forma que não é directamente lesiva para terceiros, como é que podemos definir exteriormente e de forma totalmente artificial que, na realidade, se trata de uma pessoa diminuída e infeliz? Não faz, de facto, qualquer sentido. Finalmente, trata-se de uma questão de humanidade porque não faz, também, qualquer sentido manter crianças em instituições sem lhes dar a oportunidade de poder usufruir de figuras paternas ou maternas e de privarem com outros significativos. Por muito competentes, vocacionados e bem intencionados que sejam os profissionais das instituições que albergam crianças, infelizmente, e com todo o respeito e admiração que merecem, não passam disso mesmo. São profissionais. Os laços que criam com as crianças poderão ser recíprocos e muito intensos, não duvido. Mas não se equiparam aos laços que se criam numa relação familiar.
Desde que se garanta que o adoptante possui um perfil adequado para as funções que vai exercer, o que não passa pela sua orientação sexual, estão satisfeitas, por parte deste, todas as condições principais para a adopção. O resto são os preconceitos que ainda continuam a vigorar na nossa sociedade.
Não tenho qualquer dúvida de que o que uma criança mais precisa, desde a mais tenra idade, é amor. Parafraseando o Quase em Português, o amor gay é tão bom como outro qualquer.