Uma liderança a prazo?
Para mim, uma das coisas mais intrigantes da política nos últimos tempos tem sido a vontade, evidenciada por tantos, de substituir Ferro Rodrigues na liderança do PS. A direcção de FR apareceu para ser queimada. Julgo que todos anteciparam um líder transitório. FR perderia, como se anunciava, as legislativas e colocaria o lugar à disposição nessa altura ou pouco depois. Aí sim, apareceriam os verdadeiros salvadores do PS, que o levariam de vitória em vitória até às próximas legislativas.
Esta teoria começou a ruir quando FR conseguiu, logo nessas legislativas, um resultado notável, o que lhe garantiu um balão de oxigénio para permanecer no seu lugar.
Ao dar a cara pelo partido quando era mais difícil fazê-lo e ao alcançar esse resultado eleitoral, FR ganhou o direito, por mérito próprio, a permanecer na liderança do PS.
Veio depois o caso Casa Pia com os pormenores que já se conhecem. Mais uma vez, FR mostrou, contra todas as previsões, ser capaz de aguentar o barco. Podemos questionar a gestão política que fez, mas não podemos negar que indubitavelmente resistiu à intempérie. Aliás, não só resistiu como colocou o PS, o seu PS, na liderança das sondagens eleitorais. Há quem queira ver nisto mais uma fraqueza da coligação PSD-CDS/PP do que um fortalecimento do PS. Independentemente das causas reais, o facto é que o PS parece, neste momento, reunir a preferência eleitoral dos portugueses.
Por isso, é muito estranho continuar a assistir aos ataques, tanto internos como externos, à liderança do PS. É muito estranho que as atenções se concentrem na dissecação das divisões internas no PS, que não são nenhuma novidade, e não nos crescentes sinais de mal-estar na coligação governamental. E é estranho que se continue a falar de FR a prazo, quando ele já conquistou o direito a levar o PS às próximas legislativas há muito tempo.
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