sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Malhar no Ferro

Ferro Rodrigues volta a ser tema de conversa nalguns blogues. A causa, desta vez, é uma sondagem onde o líder do PS tem uma avaliação negativa por parte do eleitorado, ficando atrás dos outros líderes da esquerda parlamentar e acima dos líderes dos partidos da direita.
O Bloguítica lançou uma alfinetada e está à espera do troco do Viva Espanha. Acho que o vou deixar mal. Mesmo assim, vamos a isto. Resumidamente, sobre Ferro Rodrigues e o PS, não só o peso do processo Casa Pia ainda se faz sentir, como as políticas governativas causam desconforto a cada vez mais pessoas. Ou seja, eu colocaria a análise neste ponto: não é tanto a vontade de eleger o PS, é mais a vontade de derrotar a coligação. Ferro nunca foi um político carismático e não tem perfil para fazer oposição tal como muitos gostariam que fizesse. O que talvez queira dizer que estará mais à vontade no exercício do poder, quando não é preciso que levante a voz nem que se ponha em bicos de pés para fazer passar a sua mensagem. Quanto à Casa Pia, se é certo que não terá tido o melhor desempenho, fica por provar se outros teriam feito muito melhor.
Em relação aos resultados dos partidos e dos líderes da coligação, não há dúvidas que as opções políticas são cada vez mais criticáveis por um número cada vez maior de pessoas. Durão Barroso, como Primeiro-Ministro, sofre as consequências directas de dar a cara pelo governo. Já Paulo Portas é outro assunto. No seu caso, depois das suas últimas intervenções, assim como do seu partido, não recolherá confiança noutros eleitores que não os do PP. A esquerda não gosta dele, ponto final. No PSD também há muitos que gostariam de o ver pelas costas. E não só pelo seu passado de carrasco do cavaquismo. Também deve haver muitos simpatizantes sociais-democratas que responsabilizam o PP pelos actuais maus resultados da coligação. Por último, o conflito com Mário Soares, ex-presidente com um capital de simpatia que extravasa largamente o seu espectro partidário, não veio ajudar em nada.
Nestas questões da sabedoria popular, pessimista como sou, tenho sérias dúvidas sobre as lógicas que se queiram encontrar para explicar as escolhas racionais do eleitorado. O meu conselho é que se frequente um pouco mais os transportes públicos, verdadeiros instrumentos de aferição dos sentimentos populares. Ainda agora, quase a chegar ao trabalho, vinha a ouvir umas conversas sobre Salazar de meter os cabelos em pé. Quer se queira quer não, isto é o eleitorado nacional.