As eleições em Espanha
Muito embora não tenha o hábito de comentar a actualidade internacional, não resisto a escrever sobre o último fim-de-semana na vizinha Espanha. Num cenário eleitoral dominado pelos trágicos atentados terroristas de quinta-feira, o PSOE, com alguma surpresa, alcançou uma vitória concludente. Tal como refere José Manuel Fernandes no Público, este resultado, muito provavelmente, tem mais de castigo ao PP do que mérito do PSOE. Ainda que assim seja, o regresso da esquerda ao poder em Espanha resulta de um sinal de maturidade política do eleitorado. A forma desastrosa como o PP e o governo geriram e manipularam descaradamente a informação, a relembrar episódios anteriores que conferem ao comportamento uma marca distintiva do seu carácter político, foi fortemente penalizada pelos eleitores.
Ao contrário do que afirma José Manuel Fernandes no final do seu editorial, ou do que está escrito no Acanto, a vitória do PSOE não constitui qualquer cedência ao terrorismo ou aos objectivos dos terroristas. O voto dos espanhóis não foi um castigo à intervenção no Iraque nem uma resposta amedrontada aos atentados. Foi antes um castigo do aproveitamento político eleitoralista que tresandava das posições oficiais do governo. O que se pode concluir é que o eleitorado espanhol soube dar uma magistral lição de respeito pelos princípios mais elementares da democracia.
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