As consequências das europeias para Ferro Rodrigues
Não há como iludir o facto, o resultado das eleições europeias representa uma retumbante vitória para o PS em particular e para toda a esquerda em geral. A tentativa de escamotear a consequente derrota da direita não surtiu qualquer efeito. Os números já são bem conhecidos e foram amplamente comentados, pelo que não valerá a pena acrescentar muito mais. Sendo indisfarçável que as políticas da coligação saem profundamente deslegitimadas deste acto eleitoral, o foco de atenção centra-se, como não podia deixar de ser, na liderança de Ferro Rodrigues. Parece uma sina que o líder do PS veja a sua liderança cronicamente discutida mesmo quando tanto há para discutir sobre o rumo que PSD e PP estão a imprimir ao país.
Inevitavelmente, qualquer que fosse o resultado do PS, a sua liderança sofreria críticas. Mesmo depois de levar o PS a uma votação histórica, ainda há quem continue a ver em FR o líder errado para o PS. No entanto, as razões para tal vão-se esfumando. O actual líder do PS tem provado sistematicamente que é capaz de manter o PS à frente da coligação nas sondagens que têm sido feitas. E na primeira prova de fogo, se excluirmos as legislativas de 2002, obtém um resultado que não pode oferecer contestação. Donde se pode concluir que, por muito mau que seja o seu projecto, parece ser mais que suficiente para atrair o eleitorado. Como se pôde confirmar nestas eleições, perante a ineficácia dos partidos que governam, o eleitorado responde votando preferencialmente no PS. É claro que se pode referir que estas eleições foram para o parlamento europeu e que a abstenção foi muito elevada. Mas o que é um facto é que neste acto eleitoral a maioria das pessoas decidiu escolher o PS de FR. Contra isto não há muito a dizer.
Temos, então, que quem pensava que FR jamais conseguiria cativar o eleitorado se enganou. Não é por aí que FR parece ser o líder errado para o PS. Porém, as críticas mantêm-se.
O principal problema de FR, dentro do PS, é a sua teimosa insistência em manter-se à frente do partido. FR, que estava destinado a ser um líder para “queimar”, conseguiu obter resultados, logo nas primeiras eleições que disputou, que legitimaram a sua liderança. A esta legitimidade deve juntar-se também o relevante facto de FR ter sido o único elemento a mostrar a coragem de assumir o partido no seu momento mais difícil dos últimos anos. Este acto não pode ser menosprezado e todos os que na altura não quiseram arriscar têm hoje um claro deficit de autoridade para se apresentarem contra o actual projecto de liderança.
Assim, depois de ter assumido a difícil tarefa de pegar no partido depois da saída de António Guterres, depois de ter discutido as eleições legislativas que se seguiram de forma muito positiva, depois de ter resistido a uma ainda mal explicada campanha para denegrir o seu carácter, depois de alcançar o brilhante resultado das europeias, provando a mais valia que representava Sousa Franco como cabeça-de-lista (seria interessante rever o que por aí se disse quando o seu nome foi anunciado), o grande pecado de FR parece ser, Deus lhe perdoe, o seu pendor de esquerda. Dos hipotéticos candidatos à liderança que se perfilam, ou são perfilados, FR aparenta ser o que se encontra mais à esquerda. Este facto tem servido para alimentar os receios de uma coligação entre o PS e alguma das outras forças políticas de esquerda com assento parlamentar. Se é certo que esta liderança pode ter dado sinais mais ou menos tímidos nesse sentido, também é garantido que tudo não passou, nem passa, de muito mais que uma mera hipótese. De resto, para descansar os críticos de uma coligação de esquerda, o PS tem condições para chegar às legislativas sem ter que se comprometer com outras forças políticas.
O que falta mesmo ao PS, neste momento, é que os seus militantes, sobretudo os mais mediáticos, se unam e trabalhem para ajudar a actual liderança a atingir os seus objectivos. O PS precisa que as intrigas internas, as lutas de poder, as questiúnculas, deixem de ser o prato forte. Se as diversas correntes dentro do PS gastarem tantas energias em construir uma alternativa coesa como parecem gastar na salvaguarda das suas pretensões, muito poucas coisas poderão impedir o PS de atingir registos eleitorais notáveis nas eleições que se avizinham, legislativas incluídas. Obviamente, sem ser necessário, de todo, afastar FR da liderança.
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