terça-feira, junho 08, 2004

Vitorino e os Portas

Pergunta o Paulo Gorjão (post 1129) se ainda alguém (os suspeitos do costume) quer que ele explique o problema de uma coligação com o BE. Pela parte que me toca, estou sempre receptivo a discutir o nosso sistema político-partidário. Não deixa de ser curiosa a forma como as coligações, que chegaram a ser comuns a seguir a 1974, parecem ter gerado anti-corpos. Não é fácil encontrar quem seja um apologista confesso da coligação como forma de exercer a governação. Penso até que seria muito interessante discutir, com a pluralidade de opiniões que já são (re)conhecidas, os custos e benefícios das coligações numa perspectiva bastante ampla.
Neste caso concreto, a posição do BE sobre Vitorino nem me parece o maior inconveniente para uma eventual coligação com o PS. Há muito mais, sobretudo em política interna, por onde se pode pegar. O que está aqui em questão, sobretudo, é o tipo de construção europeia que se pretende. Numa UE cada vez mais perto de uma definição política fundamental, ou se pretende uma construção europeia mais ligada às solidariedades nacionais ou se pretende uma alternativa mais ligada às solidariedades ideológicas. Confesso que não vejo razão para que, numa óptica de progressiva integração europeia, não se opte pela segunda em detrimento da primeira. Se um dia vamos ter uma política externa e uma política de defesa comuns, assim como, possivelmente, uma política de impostos e de direitos sociais comum, faz muito mais sentido que as escolhas para a UE se baseiem na representação ideológica dos interesses de cada um. Suponho que há aqui pano para mangas.
Mas já que o Paulo Gorjão queria uma pergunta, eu deixo aqui uma. Se, por absurdo (mas mesmo muito absurdo), Paulo Portas estivesse em condições de concorrer à Presidência da Comissão Europeia, será que o Paulo apoiaria a sua nomeação, só porque ele é português, sancionando desta maneira, entre outras coisas, a sua forma de estar na política? Conhecendo a sua admiração pelo ministro da Defesa, sempre quero ver como é que descalça esta bota.

2 Comments:

At 3:18 da tarde, Blogger Unknown said...

Miguel, o mais provável é que ficasse em silêncio, não hostilizando, nem promovendo.
Nos vários aanos em que vivi no estrangeiro, retirei uma lição importante: a nacionalidade constitui um elo muito mais importante do que se imagina. Chega ao ponto de atenuar divergências e acentuar afinidades.
Assim, por muito absurdo que lhe possa parecer, e conhecida que é a minha antipatia pelo Paulinho, preferia-o a ele do que a um estrangeiro.
É incoerente? Talvez. Mas esta percepção resulta da experiência.
Apesar das minhas antipatias, teria sempre muito mais em comum com o Paulinho do que com um estrangeiro comq uem partilhasse muitos pontos de vista.
E olhe que eu até sou bastante cosmopolita...

 
At 10:22 da tarde, Blogger Rui MCB said...

Sem a experiência do Paulo custa muito a engolir essa... E se me vez de Paulo Portas fosse a luso-brasileira Fátima Felgueiras? Dupla razão para manter o silêncio? Felizmente que há cenários que nunca se colocaram, pois não?

Adufe.weblog.com.pt

 

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