A carreira e a maternidade
No Blogame Mucho tem-se produzido vasta quantidade de posts a propósito da relação entre as mulheres e a medicina. O distinto Besugo, que fala com a autoridade de quem conhece o sector por dentro, publica uma hipotética situação de conflito entre a, nas suas palavras, “legítima vocação procriadora [de uma mulher] com a sua (também verdadeira) vontade de fazer carreira”. Defende o Besugo, se bem o compreendo, que uma mulher que privilegie a maternidade não tem muitas razões para se queixar se for preterida na sua carreira profissional. Porque, no fundo, alguém se sacrificou para que, nos dias e nas noites em que essa mulher não trabalhou, o trabalho não ficasse por fazer.
O que me parece falhar na forma como o Besugo expõe o problema é que fica subjacente que o trabalho que fica por fazer pertence à mulher que está em casa por ter engravidado. Na forma como eu vejo a situação, esse trabalho pode pertencer a qualquer pessoa menos a essa mulher. Os responsáveis pelo serviço têm a obrigação de encontrar uma solução que preencha essa lacuna. O que não se pode é enfraquecer o direito à licença de parto. Esse período pertence inteiramente à mulher e ao recém-nascido. E ao pai, também, mas isso já seria outra conversa. É efectivamente injusto que uma mulher que opte pela maternidade seja prejudicada no seu posto de trabalho. Não podemos andar por aí a carpir as amarguras do envelhecimento da população e da baixa taxa de natalidade e depois não apoiar as medidas que ajudem a combater essas situações. de facto, a grande questão parece-me ser a forma como se pode conciliar o direito inalienável à licença de parto, a promoção da justiça nas carreiras profissionais e a manutenção de índices de produtividade razoáveis.
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