quarta-feira, março 16, 2005

Tirania da beleza

Na semana passada, um tema passou relativamente despercebido. A directora da rede para a Ciência e Tecnologia de África e das Caraíbas, Elizabeth Rasekoala, defendeu que devem ser os investigadores mais atraentes a falar com os média. Rasekoala chegou mesmo a afirmar: "basta de mulheres de bigode".
Não está em questão a necessidade que existe de tornar os discursos da Ciência mais inteligíveis, evidentemente sem comprometer o rigor. A democratização do discurso científico é um objectivo que não pode ser esquecido, sobretudo num mundo globalizado. A Ciência e o seu corpo de conhecimentos deve ser facilmente acessível a todos e não se pode contestar um maior esforço de divulgação, até junto de públicos tradicionalmente menos receptivos.
Contudo, o que transforma esta pequena notícia num fenómeno interessante é o desassombro com que é assumida a apologia da beleza física. Sem entrar na difícil questão do que é a beleza, é interessante constatar até onde está difundida esta cultura de verdadeira idolatria.
A beleza, hoje em dia, não é só beleza. É também sucesso e, muitas vezes, dinheiro. Ser bom, simplesmente, parece não chegar. Por outro lado, ser bonito sugere quase automaticamente uma associação com o sucesso. Esta conexão está disseminada um pouco por todo o lado. É sobretudo mais visível na televisão, no cinema e na publicidade, meios de simulação e manipulação por excelência. Meios particularmente bem colocados para filtrar, criar e difundir modelos.
As palavras de Rasekoala constituem uma cedência à muito moderna feira mediática e à dominação do fenómeno da imagem. Algo que se enquadra muito bem nas tendências actuais, mas que causa perplexidade vindo de quem tem tamanhas responsabilidades.

1 Comments:

At 1:04 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Muito bem colocado!
acredito que o fato de muitas mulheres hoje em dia não se sentirem satisfeitas com seu corpo, sua imagem, deve-se justamente, em grande parte, a essa tirania da beleza que usa estratégias como publicidade, televisão, para se fortelecerem e expandir essa forma de pensar. e, infelizmente, parece que está funcionando.

 

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