sexta-feira, novembro 14, 2003

As vidas são todas iguais, mas umas são mais iguais do que as outras

Celeste Cardona recusou liminarmente a proposta do Provedor de Justiça para se efectuarem estudos sobre a introdução de salas de injecção assistida nos estabelecimentos prisionais. Esta ministra é do mesmo partido que aqueles rapazes que queriam consagrar na Constituição a inviolabilidade da vida desde o momento da concepção. Sendo que medidas como as salas de injecção assistida e os programas de troca de seringas se destinam a combater a propagação de doenças como a SIDA e as hepatites, tenho alguma dificuldade em compreender a coerência entre as duas posições.
Celeste Cardona pretende refugiar-se nos valores de segurança pelos quais se regem os EP’s que tutela. Mesmo assim, não se afigura muito complicado imaginar cenários que reduzem a mínimos aceitáveis as condições de risco para os funcionários e para os próprios reclusos. É possível imaginar condições nas quais os reclusos, desde que estivessem na posse de uma seringa, não poderiam estar em contacto com qualquer outra pessoa.
No entanto, a ministra prefere ignorar, desde logo, qualquer discussão sobre o tema. É mais confortável. Afinal, como toda a gente sabe, os presos não constituem uma parte muito significativa do eleitorado, nem se deixam seduzir facilmente pelas fabulosas promessas de aumentos nas pensões. Sobretudo, depois de morrerem em consequência das doenças infecto-contagiosas que contraíram nas prisões que Celeste Cardona tutela.