Blitzosfera
Quem cresceu com a companhia mais ou menos regular do jornal Blitz lembrar-se-á certamente da secção dos Pregões. Consistia na publicação de curtíssimas mensagens dos leitores, muitas vezes de natureza insultuosa. A troca de mimos girava à volta, sobretudo, de gostos musicais. Mas também de bairrismos, clubites e outras afecções do género. Havia mensagens sem destinatário concreto, embora uma parte muito significativa identificasse o(s) alvo(s) visado(s). Apesar da lentidão previsível das respostas e contra-respostas (o Blitz era e é semanal), o sistema funcionava com surpreendente empenho dos envolvidos. Geravam-se diálogos, controvérsias, simpatias, inimizades, verdadeiras alianças de defesa e contra-ataque. Embora nunca tenha sido admirador da secção e do estilo literário que a caracterizava, reconheço algum interesse às dinâmicas ali criadas.
De certa forma, existe um paralelismo entre essa realidade e a realidade vivida na blogosfera. Por vezes penso que a essência das duas é até bastante semelhante, embora seja claro que os bloguistas têm uma agenda e uma capacidade argumentativa muito diferentes daquelas evidenciadas nas páginas do jornal. Nunca fui um especial apreciador da secção dos pregões. Por isso, custa-me sempre quando julgo reconhecer nalguns posts os mesmos maneirismos. A adjectivação descuidada, a categorização fácil, a absolutização dos argumentos, a agressividade mal disfarçada do discurso.
Pode parecer que este post assume um papel moralizador do exercício da escrita. Também se encontravam facilmente mensagens com esse propósito no Blitz. Mas não, não é minha intenção pregar normas de conduta a ninguém na blogosfera. Cada um escreve o que quer e lê o que gosta. Agora, que não tenho nenhum prazer em deparar-me com posts ‘a la Blitz’, isso, de facto, não tenho.
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