O paradoxo cubano
A grande fonte de receitas e de esperança para o regime cubano é o turismo. Paradoxalmente, pode tornar-se também um dos seus maiores problemas. A sociedade cubana encontra-se muito homogeneizada. As condições sociais e materiais são muito semelhantes para todos os cubanos. De facto, a teoria parece funcionar: abolindo a propriedade privada terminam as classes sociais. Infelizmente para os cubanos, isso significa que todos pertencem à classe baixa. As privações são mais que muitas, quer em termos materiais, quer em termos de informação e de liberdades. Não se notam crispações sociais baseadas na diferenciação do poder de compra, muito menos na ostentação de sinais exteriores de riqueza. Muito simplesmente, porque não há poder de compra que possibilite os sinais exteriores de riqueza.
No entanto, o turismo está a introduzir mudanças fundamentais na estruturação social de Cuba. São dois os eixos principais em que este facto ocorre. Em primeiro lugar, no nível de informação que passa a circular na ilha. Embora as autoridades não vejam com bons olhos o convívio entre cubanos e turistas, este não só acontece como se tornou mesmo inevitável. O nível geral bastante elevado de habilitações que os cubanos possuem contrasta fortemente com as possibilidades de acesso a informação independente. Desta forma, qualquer turista é transformado numa potencial fonte de notícias. O turismo passou a ser um grande veículo de divulgação de informação contrariando as limitações impostas pelas autoridades.
O segundo aspecto prende-se com as diferenciações socio-económicas que o turismo introduz. Os cubanos com acesso aos turistas têm oportunidade de aceder também aos dólares que estes pretendem gastar. A orientação para o turismo do quotidiano dos cubanos já é notória. Muitos cubanos procuram uma forma de transformar os contactos com os turistas numa oportunidade de negócio. O acesso aos turistas torna-se, assim, numa possibilidade de aceder aos desejados dólares. O que, por sua vez, introduz uma diferenciação no poder de compra entre os cubanos que contactam com os turistas e os que não têm essa oportunidade. Se até agora a igualdade social tem sido uma constante, a partir do momento em que se comecem a notar as estratificações, a sociedade cubana vai conhecer um outro nível de tensões sociais ao qual já não estava habituada.
A prazo as consequências do turismo far-se-ão notar. Parece inegável que ele permite uma abertura na sociedade cubana ao mesmo tempo que pode potenciar o processo de erosão do actual regime.
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