Durão Barroso
A entrevista que Durão Barroso concedeu à RTP não lhe podia ter corrido melhor. Foi uma óptima oportunidade propagandística. Dos quatro entrevistadores, nenhum pareceu apostado em confrontar o PM com situações politicamente complicadas. Os temas podem ter sido sensíveis mas as perguntas nunca roçaram a acutilância que se impunha. Durão falou de tudo com a mesma superficialidade que tem caracterizado a actuação do seu governo perante a benevolência generalizada dos jornalistas presentes.
Os temas do desemprego e da saúde formam um bom exemplo da prestação do PM. O desemprego é uma grande preocupação, assim o afirma o PM, mas não se vislumbram quaisquer sinais de que haja uma inversão das políticas que fizeram disparar as estatísticas. Não foram anunciadas medidas fiáveis para combater o espantoso crescimento do desemprego. Durão chegou mesmo a cometer a insensatez de elogiar o trabalho de Bagão Félix e de Carlos Tavares sem que os entrevistadores esboçassem qualquer perplexidade.
O segundo aspecto a salientar é a política da Saúde. Para além do escandaloso ardil da separação das listas de espera ter passado relativamente impune, ficou a imagem de marca desta governação, que se baseia na alienação das funções do Estado. Enquanto ia fazendo juras da sua preocupação social, o PM não deixou nenhuma ideia que contrarie a notória impressão que este é um governo apostado em entregar o sector da saúde aos privados sem qualquer salvaguarda dos interesses dos utentes. A ingenuidade de pensar que o sector privado da saúde está imune à óptica economicista é gritante. Como se a orientação para o lucro não comportasse riscos para a prestação dos cuidados de saúde, quer no aspecto da qualidade quer no aspecto da acessibilidade.
Durão Barroso, ao longo da sua prestação televisiva, cimentou a ideia de que o político deve saber falar. Falar muito, falar sempre. Mesmo que não esteja a dizer nada, nunca se deve calar. Teve sucesso.
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