O Monsanto, a CML, o seu Presidente e mais algumas coisas que me apeteceu escrever
A serra do Monsanto representa um espaço ambiental de inegável valor. Além disto, tem a particularidade de se situar quase no centro de Lisboa. Assim sendo, é compreensível que as suas vertentes de apropriação sejam múltiplas.
O Monsanto apresenta diversas facetas. Desde logo, é um espaço ecológico. Mas constitui também um espaço que se presta à vivência urbana dado existirem algumas infra-estruturas que a isso convidam. O conceito que o executivo da CML parece querer aplicar ao Monsanto passa mais por esta segunda vertente. Para isso, foram já avançadas algumas ideias que pressupõem uma intensificação do aproveitamento do espaço do Monsanto para receber infra-estruturas que, por sua vez, atrairão um maior número de pessoas. O que está por trás desta concepção do futuro do Monsanto é uma noção de que o usufruto deste espaço tem de passar forçosamente pelo seu aproveitamento em termos económicos.
Ora, a importância da componente ambiental do Monsanto precisa de ser salvaguardada e de maneira nenhuma pode ser subalternizada aos interesses económicos, sob pena de se deteriorar a qualidade de vida de toda a cidade. O facto de Lisboa dispor de um espaço verde com a dimensão da serra do Monsanto permite que exista um forte contraponto às diversas formas de poluição urbana de que padece. O Monsanto cumpre assim uma função de importância vital. Por isso, não é realmente importante, muito menos fundamental, que o aproveitamento do Monsanto passe pelo cimento ou pela intensificação do número de pessoas que por lá passam anualmente. O Monsanto já contribui de forma decisiva e muito positiva para a qualidade de vida dos lisboetas.
Segundo as contas de Santana Lopes, acorrem ao Monsanto cerca de dois milhões de pessoas por ano. São mais de cinco mil pessoas por dia, em média, embora seja natural que a maioria lá se desloque apenas durante o fim-de-semana. Se a vontade do Presidente da Câmara é aumentar esse número para oito milhões de utilizadores anuais, facilmente se conclui que durante os fins-de-semana percorrerão o Monsanto bem mais de vinte mil pessoas. Há concelhos inteiros com menos população. Por isso, qualquer intervenção deve ser cuidadosamente pensada, de forma a que os resultados não tragam mais inconvenientes do que os desejados benefícios que se pretende colher. Conhecendo as preocupações ambientais que caracterizam uma boa parte da intervenção política portuguesa e a apetência dos lobbys do cimento e do turismo pelos espaços verdes, só se pode ficar, no mínimo, apreensivo com o que o executivo da CML está a reservar para o futuro do Monsanto.
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