A estratégia do PP
Um governo com as características do que conhecemos neste momento permite concluir que a sua orientação é muito mais política que técnica. É claro o incremento de nomes provenientes do CDS-PP que pertencem à primeira linha política do partido. A Paulo Portas e Bagão Félix juntam-se Nobre Guedes e Telmo Correia. São nomes que têm como principal objectivo ganhar visibilidade. Se o Ambiente é uma pasta tão actual quanto difícil, também é certo que não tem, como nunca teve, a atenção mediática devida. A asneira ambiental passa frequentemente impune sem que a maior parte dos cidadão e das entidades competentes consigam aperceber-se em tempo útil. A acção, claro, fica extremamente diminuída. Trata-se de uma daquelas pastas que se presta muito a comunicados de imprensa divulgando as melhores das intenções, mas que é pouco acompanhada no terreno. Por mais que se queira proteger as reservas naturais, a parte essencial está sempre centrada na aplicação concreta das medidas criadas, na fiscalização e na punição dos infractores. E a verdade é que em Portugal ainda compensa poluir, assim como compensa pressionar para obter a rentabilização económica dos recursos ambientais. Aliás, utilizando um discurso que é caro ao CDS-PP, sobretudo quando lhe convém dramatizar as questões de segurança interna, algumas punições por crimes ambientais são simplesmente ridículas. Os proveitos superam largamente os custos. Enquanto estas situações se mantiverem não haverá mudanças reais na área do ambiente.
De resto, existe uma ligação muito grande, nesta altura, entre o sector ambiental e o sector turístico, a outra pasta que passou a ser tutelada pelo CDS-PP, através de Telmo Correia. O Turismo tem aquela vantagem de, por muito pouco que se faça, poder ser uma pasta que apresenta quase sempre resultados. Com a ameaça terrorista globalizada, Portugal apresenta-se como um dos países de low profile (se preferirmos esquecer a triste cimeira das Lages) na Europa e no Mundo. Garante assim uma função de destino alternativo que não deve ser menosprezada. O peso negativo de Portugal como destino está na força do euro face a outras moedas. Algo que pode ser compensado pelo maior poder de compra dos turistas que cá se deslocam. O resultado acaba por ser mais uma pasta que pode gerar mais visibilidade e menos desgaste para o seu detentor.
Outro factor de dinamização do sector do turismo passa pelo aproveitamento do ambiente como pólo de atracção. Os interesses imobiliários e turísticos rondam frequentemente as apetecíveis zonas ambientais. Mas se se pretende dinamizar um sector à custa do outro estamos longe da melhor estratégia. O ambiente é um património de todos que não pode ser reduzido a uma escala meramente económica. A defesa dos interesses ambientais não pode ser posta em causa em favor dos interesses económicos. A economia funciona por ciclos. Os prejuízos ambientais são, muitas vezes, para sempre.
Por todos estes motivos existe uma preocupação acrescida com o futuro das relações entre estes dois ministérios no actual governo. Qualquer uma das pastas se ajusta à estratégia de branqueamento político em que o CDS-PP está apostado após a péssima experiência da anterior governação. Boa visibilidade, pouco desgaste, ministros com um forte pendor político que não dão garantias de competência técnica, mas que asseguram aquela "habilidade natural" perante a comunicação social. Características que irão certamente pautar a actuação do partido de Paulo Portas nos próximos dois anos.
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