Apetite por destruição
Voltou a acontecer. Os especialistas já se desdobraram a explicar que o equilíbrio de tensões nas placas tectónicas é frágil e que não se pode garantir que após uma catástrofe não se verifique outra em relativo curto espaço de tempo. Não conforta, mas é a explicação que existe.
Percebeu-se que alguma comunicação social salivou com o alerta. Devem ter-se imaginado a captar a desgraça que se adivinhava em directo. Ainda não foi desta. Mesmo assim, isso não impediu alguns canais de televisão de recuperar as gravações de Dezembro. Se não há tragédia, revive-se o que de mais parecido ou mais recente se encontrar.
O contexto é essencial para o conteúdo da comunicação. Esta só se torna inteligível e tolerável por referência ao contexto adequado. Num contexto em que já se afastavam os cenários mais pessimistas, a recuperação das imagens e da sua violência constitui, ela mesma, uma outra forma de violência. Um aproveitamento obsceno da emotividade potencial da desgraça alheia. Sem suporte justificativo, não passou de violência gratuita contra o espectador.
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