O crescimento do BE e as estratégias do PS
A ala esquerda do PS, como o Paulo Gorjão fez notar, veio defender um posicionamento da governação do PS direccionado para o eleitorado de esquerda. Inerente a esta proposta está a perspectiva de crescimento eleitoral do BE. Há aqui duas questões a merecer atenção: o crescimento eleitoral do BE e a estratégia de governação PS. Para já, analisemos o primeiro.
Sobre o crescimento eleitoral do BE, tenho sérias dúvidas que o seu potencial não esteja já muito próximo do esgotamento. O Bloco tem tido um crescimento fundamentado no facto de ser um partido anti-sistema. Muito claramente, não é plausível que quase sete por cento dos portugueses simpatizem com o trotskismo ou com as outras correntes de extrema-esquerda que integram o Bloco. A vantagem do BE passa, então, pela sua retórica, pelo seu talento para aproveitar as oportunidades mediáticas e pelo facto de não fazer parte do sistema.
O BE é uma organização em crescimento, que se aproxima a partir de fora, não tendo os vícios dos partidos mais antigos. Uma parte do encanto do BE reside precisamente aí: o BE não tem passado executivo (o ideológico será outro assunto). Não tendo sido posto à prova, nunca falhou.
O recente resultado do BE nas legislativas catapulta-o para uma condição de representação na AR que não é nada negligenciável. O BE passou a ser um partido que pouco se diferencia dos restantes. Só muito dificilmente – na prática é impossível – o BE não terá de actualizar as suas estruturas organizativas. O primeiro indício foi dado com o possível fim da rotatividade dos deputados. Ou seja, a luta pelo poder interno no BE vai agora fazer-se sentir com muito mais força. O que terá como consequência quase imediata que o BE passe a ser visto como uma organização partidária semelhante às restantes.
Por outro lado, muito embora a maioria absoluta do PS não o obrigue a entendimentos no Parlamento, aproximam-se eleições autárquicas nas quais o BE quererá ter uma palavra a dizer. A implantação eleitoral do BE nos meios urbanos não é desconhecida do PS e já há sinais de possíveis entendimentos, nomeadamente em Lisboa. Este factor, que torna o BE muito mais apetecível para o carreirismo partidário, não só contribuirá para a luta interna no BE, como também para uma alteração significativa na forma como o BE é percepcionado pelos eleitores.
O problema do BE, como o de todos os partidos que crescem baseados numa certa revelia contra o sistema partidário, reside no facto de quanto mais se aproximar do poder mais riscos correr de esvaziar o seu suporte eleitoral. Afinal, não há soluções milagrosas e não é possível ter o melhor de dois mundos.
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