Sinal dos tempos
Não é difícil perceber a atenção dedicada à morte de João Paulo II. Compreende-se a dimensão das coberturas pelos meios de comunicação social, sobretudo pelos canais televisivos, assim como se compreende a curiosidade do espectador. Também se compreende os elogios provocados pela emotividade do momento, e também, há que reconhecê-lo, pela personalidade que foi João Paulo II. Mesmo a quase total ausência de crítica ao que foi o seu papado é enquadrável na reserva que o período de luto impõe. Algo semelhante aconteceu após o 11 de Setembro. Foi necessário que se cumprisse um período de decoro até que alguém tivesse coragem para evocar a política externa dos EUA como factor essencial de compreensão do anti-americanismo presente nos movimentos fundamentalistas.
É igualmente perceptível a estratégia delineada pelo Vaticano, talvez mesmo pelo próprio João Paulo II, posta em acção nestes dias. A gestão dos problemas de saúde do papa, do primeiro ao último dia, obedeceu a uma exaltação do sacrifício e da abnegação individual. Tudo com implicações óbvias na construção, ou sedimentação, de uma determinada imagem do papa junto da opinião pública, sobretudo junto dos católicos. Uma imagem exemplar, um fôlego para uma Igreja Católica que precisa de se aproximar e de motivar os fiéis.
Neste aspecto, a IC parece ter percebido bastante bem o tempo em que vivemos e a notável força da comunicação social. No entanto, se for esse o caso, saberá igualmente que as leis do imediatismo mediático, do qual beneficia neste momento, deixam claro que estes fenómenos tendem, muito rapidamente, a atingir a caducidade, sendo facilmente substituídos pelo próximo "grande acontecimento", ou a despertar o desinteresse, fruto da sobre-exposição. Para obter resultados que não se esgotem no acontecimento, a IC precisa de uma intervenção mais profunda e mais alargada no tempo. Ou seja, precisa que o próximo papado saiba interpretar o mundo actual e aproveitar o capital gerado nestes dias.
1 Comments:
miguel,
é preciso não esquecer que nos dias em que o Papa não apareceu na televisão, logo se disse que estava morto e que o Vaticano o ocultava para fazer manobras de bastidor.
A ICAR, e João Paulo II em particular, perceberam que há um sector da sociedade que tem como único objectivo atacar a ICAR independentemente da atitude tomada.... Este ataque constante é vísivel e chega a ser ridículo.... Atente-se nos não católicos e veja-se o profundo impacto que a morte do Papa teve junto desses. Por exemplo veja-se o caso de Lula, comunista não católico, que decreta 7 dias de luto e leva o Governo todo com ele, e compare-se com o caso do Falcon cedido ao cardeal....
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