segunda-feira, junho 06, 2005

Encolher os ombros

O estado de normalidade do Presidente do Governo Regional da Madeira é um caso especial. Um estatuto excepcional do qual mais ninguém parece usufruir. O Presidente do GRM permite-se liberdades que mais ninguém, com responsabilidades semelhantes, possui. Uma excepcionalidade que resulta do facto de o desfasamento entre o seu comportamento e o que se espera de um alto dignitário do Estado ser amplamente compensado pela sua coerência em proceder assim. Parece, e é, paradoxal. De uma forma geral, as pessoas esforçam-se por corresponder às expectativas. Alberto João Jardim conseguiu furtar-se com sucesso a este constrangimento precisamente pela frequência com que rompe com o bom senso e com as regras de educação.
Por vezes – a maioria das vezes – parece existir um gigantesco encolher de ombros, como se toda a gente suspirasse em uníssono. Um “que é que se há-de fazer” colectivo. Alberto João Jardim pode reivindicar a proeza de ter promovido a uma categoria socialmente tolerável a boçalidade, o insulto, o disparate e a alucinação. Uma estratégia assente na duplicidade da forma como é visto: caudilho na Madeira e bobo-da-corte no continente. Enquanto no arquipélago a sua influência tentacular se estende praticamente sem obstáculos, para o resto do país, AJJ, a Madeira e o seu défice democrático estão demasiado longe para representarem uma ameaça real.
Acontece que AJJ é um destacado membro do PSD. Não pertence a um obscuro partido regionalista, nem é uma personalidade marginal dentro do partido em que milita. Um dia AJJ cansa-se do Carnaval madeirense e decide transportar a sua forma de estar para o centro da vida política nacional. Não vai ser o PSD, como nunca foi, a fechar-lhe a porta. No dia em que esta realidade nos venha bater à porta talvez já seja tarde demais para a evitar. Nesse dia hão-de relembrar-se que encolher os ombros nunca resolveu nenhum problema.