Final infeliz
Instado a comentar as declarações de Alberto João Jardim, Jorge Sampaio não se limitou a encolher os ombros. O Presidente da República invocou a vaca sagrada do encolher de ombros em política e afirmou que ninguém se podia esquecer que "são as pessoas que votam". O encolher de ombros de Sampaio ainda se torna mais ofensivo quando o Presidente da República se presta a legitimar a falta de nível do Presidente da Região Autónoma da Madeira.
Alberto João Jardim não dignifica nem a Madeira, nem as autonomias, nem o país, nem a política, nem a democracia. Conseguiu, infelizmente, habituar-nos a isso. Pior do que isto, conseguiu que o mais alto representante da nação se furtasse a denunciar este tipo de comportamentos extremamente lesivos para a saúde do sistema democrático. Aliás, desde que decidiu não convocar eleições antecipadas que Sampaio é muito mais uma fragilidade do que uma garantia. A sua capacidade para avaliar as legitimidades e os riscos que o sistema corre está tão seriamente abalada que é penoso assistir a este final de mandato. Que acabe depressa.
4 Comments:
Desculpe lá, Miguel, mas o que é que, neste caso concreto das declarações de Alberto João Jardim, haveria para denunciar?
A meu ver nada, elas denunciam-se a si próprias.
O estranho, de facto, é o paradoxo que a nossa democracia permite - que pessoas destas sejam elegíveis e que haja cidadãos que votem nelas!
O que me parece mais condenável nesta situação é que Jorge Sampaio empreste legitimidade a este tipo de insultos aludindo aos resultados eleitorais. Ganhar eleições dá direito a este tipo de comportamento?
O problema, a meu ver, é que os insultos de AJJ já não se denunciam a si próprios. Já se espera que AJJ largue umas bojardas de vez em quando. Depois do episódio Santana Lopes, em que toda a gente se lembrou de perguntar como é que o vazio alcançava tamanha ascenção política, é ainda mais notório que alguém tem de gritar os perigos que assaltam esta democracia. mais vale precaver. O meu problema com Jorge Samapio começa no momento em que ele falha a análise da legitimidade de uma nova coligação PSD-PP e reforça-se na imensidão de tempo que levou a entender o nível dramático que estava a ser atingido antes de tomar a decisão de correr com o governo de PSL. Sampaio deixou de me oferecer confiança.
Evidentemente, é estranho e, no mínimo, indesejável que estas pessoas ganhem eleições para o que quer que seja. É um forte sinal da saúde democrática do país. O que não se pode é querer olhar para o lado quando este tipo de coisas acontece e depois queixarmo-nos quando elas ganham maiores proporções.
Não me parece que Sampaio tenha emprestado legitimidade a AJJ ao não comentar a frase que ele proferiu, Miguel.
Deu-me mais a impressão de que não quis mexer nessa lama, responsabilizando os eleitores pelas pessoas que elegem.
Somos ou não nós, os cidadãos, os primeiros responsáveis pelos eleitos? Não basta criticar e dizer mal, é necessário, mesmo, não os eleger.
Abraço
Ímpios. Parece que cada vez mais o mundo é deles. Talvez não cada vez mais. Como sempre é deles e com o aval daqueles que deviam ser mais imaculados do que desbotados.
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