quinta-feira, junho 09, 2005

UE vs EUA

Tem razão o João Castro quando afirma que "sem diferença, não existe identidade". A construção de uma identidade é sempre uma construção por oposição a algo, portanto, um processo de diferenciação. Não há um "nós", nem um "eu", sem ser por referência a um "eles". Aliás, a coesão da identidade de um grupo passa muito pelo sucesso da diferenciação em relação a outros grupos. Daí resulta, por exemplo, que a visibilidade da criminalidade suscite reacções tão fortes da generalidade da população.
No entanto, se a afirmação está correcta, é preciso admitir que a identidade europeia vai necessariamente construir-se, mesmo que apenas parcialmente, também contra os EUA. É evidente que a Europa e os EUA partilham valores fundamentais ao nível político, económico e, embora menos, social e cultural, mas há diferenças que não podem deixar de se fazer sentir.
Mas, mais do que isso, a questão principal é que se a UE tem o objectivo de se transformar na sociedade do conhecimento mais competitiva do mundo, isso acontecerá contra a actual potência no sector, precisamente os EUA. Os EUA e a UE, e as respectivas economias, estão já envolvidos numa luta pela hegemonia nos processos de crescimento.
O que é necessário entender é que a diferença na construção da identidade não tem forçosamente que corresponder a uma hostilização das outras identidades.
Nem se deve tomar como verdadeiro o mito da homogeneidade cultural e identitária, subjacente a determinadas interpretações da globalização, nem se deve acreditar nos cenários negros que prevêem um futuro de guerras civilizacionais. Algures pelo meio andará o fio condutor das mudanças que vivemos.

1 Comments:

At 6:49 da tarde, Blogger Ricardo said...

O problema está em ser cada vez mais difícil encontrar esse fio condutor ao meio. Isto não só em relação a “eles”. E “eles” não se resume apenas aos Estados Unidos. A China ameaça tornar-se grande potência, se bem que por aí a “oposição” seja mais fácil. Mas cá também se constroem identidades em oposição ao outro. O “eu” de cada povo face ao “nós” e, até certo ponto, mesmo “eu” e “nós” face a “eles” (entenda-se União Europeia em toda a sua dimensão política e institucional e em sentido abstracto…). E o problema de uma identidade Europeia que saiba diluir sem extinguir todas as outras identidades é o maior de todos. Sobretudo agora com os problemas levantados pelos referendos à Constituição.

 

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