quinta-feira, julho 07, 2005

Complicações

Somos demasiadas vezes confrontados com referências à correspondência em escudos para determinado valor em euros. Desde que abandonámos a antiga moeda que há quem não se consiga libertar dessa comparação. Aliás, esta chega mesmo a ser um dos fenómenos mais irritantes em diversos meios de comunicação social.
Foi compreensível alguma tolerância verificada na fase inicial de adaptação ao euro. Mas, tanto tempo depois, começa a ser absurdo insistir nestas comparações. De resto, se dentro de certos limites as comparações ainda se podiam entender, por outro lado, para valores muito altos, como, por exemplo, os investimentos anunciados recentemente por José Sócrates, o raciocínio deixa de fazer sentido. Num país em que o salário médio é pouco mais que miserável, quantas pessoas saberão realmente o potencial de 25 mil milhões de euros, mesmo que traduzidos para o seu equivalente em escudos?
O que é certo é que ainda há muita gente que não se sente confortável com o euro. E, entre eles, aparentemente, muitos profissionais de comunicação. Também existe a possibilidade desta atitude ficar a dever-se a um paternalismo grosseiro. Em qualquer dos casos, não se lhes exige que deixem de fazer contas, se isso lhes dá jeito. Em privado e a lápis, para poderem emendar, não vão enganar-se na tabuada do dois. Escusam é de nos massacrar todos os dias, extrapolando o seu desconforto para o resto da população. Mantendo este constante vai-vem de uma moeda para outra, não só não se habituarão ao euro como tornarão a vida mais complicada para toda a gente.