O défice visto pelos leigos
Para um leigo económico-financeiro como eu, a posição do governo em relação à Alemanha e à França soa, primeiro que tudo, a incoerência. Incoerência entre o que é defendido dentro das nossas fronteiras e o que é defendido fora delas. No seguimento do dramatismo e da importância dados às questões do défice, antes e depois da vitória eleitoral, o que faz da questão do défice uma questão do governo e não apenas da ministra das Finanças, não se afigura clara a mais recente posição tomada no contexto europeu. As minhas escassas noções económicas não me permitem entrar neste campo com a segurança que julgo conveniente. No entanto, do pouco que julgo saber, o défice depende do controlo das despesas correntes do Estado, assim como do investimento que injecta na economia do país. Sendo o investimento estatal inegavelmente necessário para o desempenho económico, sobretudo em tempos de estagnação ou recessão, é justo perguntar se o sacrifício económico pedido afinal tem razão de ser na actual conjuntura. Ou o governo continua fiel à linha dura que o tem caracterizado no cumprimento do défice (embora sobre isto se possam discutir as estratégias adoptadas), ou admite que existem situações excepcionais que escapam à lógica deste PEC, pelo que este deve, no mínimo, ser revisto. Uma posição de dois pesos e duas medidas é que não se afigura compreensível. Nem para a imagem do governo em Portugal, nem para a imagem da moeda e da UE no contexto internacional.
Existe, porém, uma certeza no mar de dúvidas que esta situação levanta. O futuro do governo está (ou deve estar) não só intimamente ligado ao sucesso/insucesso interno no cumprimento do défice, como também à sua posição externa nas questões do PEC.
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