Humilhações públicas
O Celta de Vigo, clube de futebol especialmente conhecido entre nós por ter espetado sete golitos sem resposta ao Benfica há uns anos atrás, acabou a presente temporada relegado para a segunda liga espanhola. Segundo o Público, os jogadores, no derradeiro jogo da época, pediram desculpa de joelhos aos adeptos. O gesto levanta-me logo duas questões. Em primeiro lugar, e enquanto espectador de desporto e adepto de futebol, custa-me que o ónus das responsabilidades seja sempre imputado aos mesmos intervenientes. Ou paga o treinador, que é incompetente, ou pagam os jogadores, ingratos e indignos representantes das cores do clube.
Raramente se vêem discutidos os projectos, a liderança, as estratégias de médio e longo prazo. Raramente a discussão excede o pontapé na bola, rasteiro, portanto, para se focar em aspectos porventura mais altaneiros mas de difícil decifração. Se de génio, de louco, de treinador e de político todos temos um pouco (excepto aqueles que são pouco dados à acumulação de cargos, o que, em Portugal, como se sabe, vai contra as nossas raízes culturais), também é certo que não são muitos os que se poderão gabar de conhecer os meandros do desporto-rei na actualidade. Quais são os postos chave? Quais são as áreas de influência de cada cargo? Quem manda em quem? Quais são as relações de poder? Quais são os interesses ocultos? Suponho que só depois de se apurar as respostas a estas perguntas se pode aferir quem tem efectivamente responsabilidades pelos desaires desportivos dos clubes.
Em segundo lugar, é impossível evitar o desconforto ao imaginar cena tão humilhante. A carga simbólica que o pedido de desculpa acarreta é incontornável. Mas neste caso acresce ainda a forma como foi feito: de joelhos, à guisa de penitência. Os pecadores curvados em submissão perante a altivez e a superioridade dos seus juízes e carrascos. No ocidente, na actualidade, é difícil de aceitar que se permita este género de demonstrações. Sobretudo se o que as causa são uns pontapés na porcaria de uma bola.
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