Resultados eleitorais
A análise de Vital Moreira aos resultados da sondagem apresentada pelo DN aponta numa direcção interessante. Reconhecendo que um resultado de 42% não é famoso tendo em conta as dificuldades que atravessa a coligação, VM aponta um défice de estratégia e de 'elan' à liderança do PS.
Curiosamente, a solução preconizada não parece passar pelas prescrições habituais. Se o PS está a perder eleitorado para a esquerda, talvez esse facto não se deva somente ao cinzentismo que se aponta ao seu líder, mas antes a uma definição estratégica de esquerda que tarda em se afirmar. Como se tem notado, levar o PS para a esquerda de Guterres não é uma tarefa fácil. A oposição começa, certamente, dentro do próprio aparelho partidário. Mas a ser verdade que não se está a conquistar eleitorado à esquerda, o que é que isso poderá dizer de uma disputa pela liderança em que os principais candidatos se assumem muito mais centristas do que a orientação actual do partido? Ou seja, se há uma esquerda que, não se revendo neste PS, se vai refugiar ainda mais à esquerda, uma mudança de liderança que posicione o partido mais ao centro irá, provavelmente, afastar ainda mais eleitorado. Por sua vez, esta perda poderá ser compensada pelos eleitores do centro entretanto atraídos pelo reposicionamento.
Uma questão, já aqui abordada, se levanta. Parece consensual que as eleições se decidem pelo eleitorado oscilante do centro. Mas a ser assim, não se estará a entrar numa reedição dos governos de António Guterres? Será isso o mais conveniente para o PS, para o país e para a reconciliação do eleitorado com a política? O centro pode ajudar a ganhar eleições, mas é o eleitorado ideologicamente definido que substancia a essência de um partido, dando-lhe identidade e até credibilidade.
Duas notas finais. Primeiro, se é conveniente que o PS não se deslumbre pelas recentes sondagens, também é importante que não se menospreze o resultado que o partido está prestes a alcançar. O PS prepara-se para derrotar sozinho os dois partidos de direita unidos. Se 42% é um resultado inferior aos registados noutras situações eleitorais, não deixa de ser notável que uma liderança atacada por quase todos os lados se prepare para infligir uma pesada derrota à direita.
O segundo ponto diz respeito ao resultado do PP. Numa coligação é natural que o partido minoritário veja o seu resultado canibalizado pela maior força política. Os 2,6% podem ser preocupantes para o PP, mas não são surpreendentes. O futuro eleitoral do PP passa, assim, por duas incógnitas. A primeira prende-se com durabilidade da ligação ao PSD. Não se prevê que o PSD queira continuar a subsidiar eleitoralmente o PP se daí não retirar benefícios. Mesmo o próprio PP, que terá alguma relutância em abandonar a actual coligação por receio de enfrentar sozinho os números que as sondagens lhe atribuem, terá de considerar quando é que o regresso à autonomia não será uma melhor opção, tendo em vista a continuidade da expressão eleitoral do próprio partido. A segunda incógnita tem a ver com a continuidade de Paulo Portas como líder. Se assim for, o actual ministro já mostrou ser capaz de recorrer ao que for preciso para arrancar um resultado que recoloque o PP no mapa político. Mas se Paulo Portas resolver sair podem adivinhar-se tempos difíceis para os lados do Largo do Caldas.
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