segunda-feira, maio 03, 2004

Um papel fundamental

O editorial do Público de hoje debruça-se sobre a superficialidade do debate político actual. Este é um dos temas incontornáveis para quem se preocupa com a degradação da qualidade do debate político. O discurso político está sobretudo orientado para os ciclos políticos de curto prazo, quando não mesmo para o imediato. Falta estratégia, planos ambiciosos de longo prazo e capacidade de mobilizar o eleitorado para a importância da política. Pelo contrário, parece ter-se alcançado um estado em que a fraqueza da troca de argumentos se alimenta de si mesma. O problema torna-se um ciclo vicioso. A elevação de nível é injustamente conotada com erudição e elitismo e parece impossível fugir a esta lógica redutora.
Como faz notar Eduardo Dâmaso, é importante para os partidos não perder de vista o resultado eleitoral. No entanto, o ponto fundamental devia centrar-se nas questões que verdadeiramente interessam. Nomeadamente, o género de políticas que se podem e devem implementar, as propostas de acção e os resultados esperados, para que os eleitores tenham oportunidade de poder comparar os fins pretendidos e os meios escolhidos para os alcançar. Porque já se sabe que os primeiros nem sempre justificam os segundos. Esta é uma tarefa que cabe a todos os partidos, para que a cena política nacional não seja campo fértil para populismos e demagogias que, a médio prazo, ajudam a afastar o eleitorado.
Mesmo assim, cabe à oposição, e ao PS de uma forma especial, conduzir o debate para os terrenos mais legítimos em cada momento, elaborando, apresentando e assegurando a notoriedade das suas propostas alternativas. É certo que a política de Manuela Ferreira Leite e de Durão Barroso criou uma situação económica praticamente insustentável e que a consolidação orçamental é uma miragem. Compreende-se que Sousa Franco se queira defender dos ataques que lhe são desferidos pelos actuais governantes, sobretudo quando os resultados do combate ao défice são os que se conhecem. Mas, sendo que o ex-Ministro é agora cabeça de lista às europeias, a sua defesa poderia passar, por exemplo, por uma recolocação do debate político no campo em que ele se deve centrar e esforçar-se por discutir a Europa nas variadíssimas vertentes que este tema tem. A sanidade do sistema político e partidário ficar-lhe-ia certamente grata.