Contra a sinceridade
Poucas coisas são tão irritantemente falsas como a defesa da “sinceridade”. Em rigor, passamos uma boa parte da nossa existência a fingir. É uma regra essencial do funcionamento das sociedades. Somos todos preparados para nos adaptarmos às pessoas e às situações. De uma forma geral, controlamos as nossas acções e não dizemos tudo o que nos apetece. É um processo afinado ao longo dos tempos para facilitar a sociabilidade, tão eficaz que poucas vezes nos impele a reflectir sobre ele. A sinceridade, aquela abertura frontal em que se confronta o outro com a verdade nua e crua, só ocorre em situações muito precisas e entre interlocutores com relações muito específicas. Tudo o resto são mitos que mascaram o facto de passarmos a vida a encenar peças escritas por outros autores.
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