quarta-feira, agosto 17, 2005

O anonimato nos blogues

Esta história do anonimato nos blogues ultrapassa-me. De tempos a tempos o assunto volta a ser tema do dia, debatendo-se credibilidades, legitimidades e responsabilidades. Acusam-se os blogues, muito particularmente os blogues anónimos, de alojarem muitas insinuações torpes e mal fundadas sobre figuras públicas. Não sei se será bem assim. Ao que parece, existem uns três mil blogues portugueses, o que torna perfeitamente impossível, para quem quer que seja, acompanhá-los a todos. Por este motivo, não sei até que ponto é justa aquela acusação. De resto, da forma como vejo as coisas, existe sempre um acto voluntário ao aceder a um blogue. Quem lê blogues anónimos enquanto se vai queixando da sua existência entra em contradição consigo mesmo. Faz recordar a polémica exibição do Império dos Sentidos pela RTP. Era possível encontrar pessoas que repudiavam veementemente a audácia do filme, mas que conseguiam recordar os pormenores mais provocantes com uma facilidade só ao alcance de quem tivesse visionado o filme com muita atenção.
Os blogues não favorecem mais a denúncia anónima do que a tradicional carta, ou o mais recente e-mail. Quem quiser fazer denúncias sem revelar o nome, por mais verdadeiras ou caluniosas que sejam, encontra diversos meios para o fazer. Muitas vezes são os próprios órgãos de comunicação social, ao abrigo da sempre presente figura da fonte anónima, que se posicionam como meio de eleição para verdadeiros autos de fé. O problema, nestes casos, como nos dos blogues, não passa pelo meio em si, embora seja de esperar mais de um meio de comunicação social do que de um blogue. O cerne da questão passa pelas pessoas que se dispõem a manipular ou a ser manipuladas, sendo de criticar a falta de escrúpulos das primeiras e a falta de juízo crítico das segundas.
É compreensível que as pessoas que escrevem e lêem blogues se preocupem com a legitimidade deste meio. Mas, por comparação com os meios de comunicação social, muito mais abrangentes e influentes, parece uma preocupação excessiva e desfasada. O verdadeiro poder ainda pertence aos meios tradicionais e é sobretudo neles que devem estar centradas as atenções.