Cocaína
Uma estatística sobre consumo de cocaína publicada pelo El País causou estupefacção no Nortadas. A Espanha regista a maior percentagem de consumidores e Portugal uma das menores. Nem tudo corre mal neste país, conclui-se por lá, para a seguir se questionar o que se passará com os nossos vizinhos para liderarem tão malfadada lista.
Para se fazer incidir alguma luz sobre razões para os resultados apresentados, convém conhecer a substância. A cocaína actua como um estimulante do Sistema Nervoso Central, produzindo agitação intensa e euforia. Ainda hoje os habitantes de determinadas regiões dos Andes continuam a mascar a planta da coca, acto que lhes aumenta a capacidade de trabalho e os ajuda a enfrentar os problemas relacionados com a altitude e as condições climatéricas. No mundo ocidental, após uma fase de ampla utilização entre finais do século XIX e início do século XX, dá-se uma remissão do consumo, especialmente com a Segunda Guerra Mundial. Só a partir dos anos 70 se volta a generalizar o consumo. Especialmente nos anos 80, esta droga fica sobretudo associada a meios sociais afluentes. É a droga dos bem instalados e dos executivos de sucesso.
A cocaína não é uma droga de excluídos sociais, embora o consumo regular de drogas duras seja um grande passo nesse sentido. Pelo contrário, é uma droga que, pelos efeitos que provoca e pela aura que lhe está associada, é mais característica de situações de contacto social, quer em trabalho quer em lazer, aumentando a sensação de auto-confiança, de agilidade mental, de poder e de capacidade de realização. O efeito de tolerância pode não ser tão intenso como noutras drogas, mas a dependência psicológica é fortíssima. De uma forma ou de outra, as dosagens tendem a aumentar com o tempo. As consequências deste consumo revelam-se devastadoras, tanto a nível fisiológico como psicológico.
O consumo de drogas tem associado um ritual e uma cultura. Um dos factores que podem explicar, então, as percentagens de consumidores de cocaína que Portugal e Espanha registam é a realidade sócio-económica. O que estes números ajudam a perceber é a diferença entre estas realidades de um e de outro lado da fronteira. À elevada percentagem de cocainómanos em Espanha não hão-de ser alheios o ambiente competitivo e produtivo e o sucesso económico que o país tem conhecido nestes anos. Ao passo que em Portugal, as condições que potenciam o consumo desta droga, como se sabe, não conhecem os melhores dias.
Evidentemente, não se pretende que o desenvolvimento económico nacional seja feito à custa do consumo de cocaína. Mas, ainda que muito basicamente, não se arrisca muito ao afirmar que em Portugal há menos consumidores de cocaína porque esta é uma substância associada a meios de sucesso, empreendedores, competitivos, com sede de vitória e de poder, e este é um país pobre, onde esses traços culturais estão longe de ser os mais marcantes. Ou seja, certamente entre outras explicações que concorrem para estes números, a baixa percentagem de consumidores pode explicar-se, ao contrário do que se verifica em Espanha, pela estagnação em que o país tem vivido.
3 Comments:
...esta é de facto uma explicação interessante!!!
Ou seja, os finlandeses que são os que menos consumem seriam os mais atrasados. Vai para a Espanha.
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