sexta-feira, janeiro 09, 2004

Acabar com o Estado

A inovadora medida de transformar os hospitais em S.A.’s já está a dar os seus frutos. Já há uma unidade hospitalar que, ao abrigo da lei, tenciona contratualizar cuidados de saúde com entidades seguradoras. Ou seja, os utentes com seguros de saúde terão áreas de atendimento exclusivo na unidade hospitalar. De forma absolutamente fantástica, o Estado potencia a operacionalidade dos serviços de saúde privados nas suas próprias instalações.
Existe neste caso, como em muitos outros, uma intenção clara de ajudar o sector privado. O que nem seria digno de reparo, se não implicasse uma estratégia de fragilização do sector estatal e uma subalternização dos utentes que não estão incluídos em sistemas de saúde particulares. Embora não seja reconhecido pelos responsáveis políticos deste governo, uma medida destas, ao introduzir um factor de diferenciação no tratamento na unidade hospitalar, promove uma discriminação positiva dos utentes do sector particular. Os profissionais e os meios materiais não serão comuns, mas as instalações sim. E acaba tudo por resumir-se a isso. Enquanto o utente do SNS continua preso às listas de espera e aos atendimentos lentos e burocráticos, na sala ao lado, o utente do particular esgueira-se a estes penosos incómodos.
Como ninguém gosta de se ver prejudicado, tanto menos quanto maior for o desespero da situação, poucos serão os que não pensarão se não estará na hora de investir num seguro de saúde. E se isto não é ajudar escandalosamente os interesses privados no sector da saúde, então não sei o que será.