segunda-feira, março 08, 2004

Os riscos acrescidos

Assumir que uma criança será infeliz se vier a desenvolver determinada orientação sexual é admitir que essa orientação é, em si, causa de infelicidade. Assumir que educadores com determinada orientação sexual podem interferir com o normal curso do desenvolvimento sexual de uma criança é admitir que existem orientações sexuais que caem no campo da anormalidade e da patologia. Este é um peditório para o qual não contribuo nem nunca contribuirei.
O grande risco acrescido que uma criança enfrenta ao fazer parte de uma família homossexual é o preconceito. Este deve ser o factor principal a ter em atenção e a merecer profunda reflexão. Uma família homossexual, para além das ameaças normais a que uma família está sujeita, tem que lutar diariamente contra o preconceito social. Luta contra os olhares de desdém, os comentários jocosos, a segregação social.
Quem quiser referir estes problemas como um dos factores que pode colocar sérias dúvidas sobre a adopção por homossexuais está a tocar num ponto realmente sensível. Julgo que é este o ponto mais complexo da inserção de crianças num ambiente familiar homossexual. Porque é certo que elas vão estar igualmente sujeitas a todos os preconceitos que recaem sobre a homossexualidade. Porque vão estar sujeitas aos mesmos olhares desdenhosos, aos mesmos comentários jocosos, aos mesmos preconceitos sociais, e isto independentemente da orientação sexual que venham a desenvolver. Ora, se contextualizarmos a adopção por homossexuais desta forma, é fácil verificar que o problema não reside tanto na família em si mas antes no universo de ideias feitas e preconceitos que grassam na mentalidade de cada um de nós. E não vejo como é que se pode suportar uma limitação dos direitos de uma pessoa, quer na qualidade de adoptante quer na qualidade de adoptado, simplesmente baseado nos preconceitos generalizados da sociedade. Porque se o que está mal é a fraca capacidade de tolerância à diferença e a discriminação que lhe está associada, não é justo que sejam os discriminados a pagar a factura. Não se pode ceder terreno neste campo. É da igualdade de direitos e de oportunidades que estamos a falar. A solução deve passar pela imposição, o mais rápido possível, de uma igualdade de facto. Algo que não permita ambiguidades em relação ao lugar que o preconceito tem nos fundamentos de uma sociedade.