sexta-feira, abril 23, 2004

Santana Lopes e a Política

A prestação do presidente da CML é cada vez mais custosa. Porque Santana Lopes representa quase tudo o que está mal no exercício da política. As prestações de PSL pautam-se pelo high profile e pela exacerbação do culto da personalidade. A ausência de conteúdo político, visão global e acção sistémica é quase total. A sua intervenção, sobretudo em Lisboa, é um corolário de ideias avulsas, muitas vezes desrespeitando lógicas elementares de respeito pelas instituições democráticas e pela honorabilidade do cargo. Aos seus críticos, PSL responde frequentemente com a dramaturgia da vitimização. Para PSL, ou as críticas vêm de mal intencionados que não o querem deixar trabalhar ou existe sempre a possibilidade de escarafunchar os arquivos em busca de um qualquer caso menos claro dos executivos anteriores. Ou seja, os erros são desculpáveis se já alguém os tiver feito antes. Para certas personagens políticas, a responsabilidade é uma palavra vã.
A popularidade que PSL granjeia em determinados meios contrasta com as consequências nefastas para a sanidade da política nacional. Como se pôde confirmar na recente entrevista ao DN, PSL consegue desenvolver facilmente um discurso do qual pode estar ausente qualquer argumentação baseada em factos ou em projectos concretos. Subjaz quase sempre a impressão de que os projectos são mal idealizados, insuficientemente planeados e incorrectamente executados, enquanto a sua divulgação é confundida com propaganda pura. A edilidade é gerida ao sabor dos momentos e dos humores. Mais ainda, o direito à informação dos munícipes e da oposição é aviltantemente negligenciado.
A actuação de PSL não contribui nem para a dignificação nem para a credibilidade da realidade política. A sua postura representa o sucesso do oportunismo sobre os princípios, da forma sobre o conteúdo, do imediatismo sobre o estrutural. Trata-se, no essencial, da construção de uma carreira política que não se baseia em convicções nem em ideologias, mas antes numa perspectiva arrivista da forma de estar na participação cívica. Por isso, a derrota eleitoral de PSL nem sequer se deseja em virtude das suas opções ideológicas. O seu afastamento eleitoral significa sobretudo que a insipiência política, o exagero mediático, o imperativo populista e demagógico tem limites. Significa que o eleitorado percebe que a política não tem de ser espectáculo, que se deve reger por princípios ainda mais rígidos do que os que são exigidos noutras funções, que a coerência não é impeditiva da humildade de reconhecer os erros, que é o político que serve as ambições dos eleitores e não os cargos que servem as ambições dos políticos. Que o bom desempenho político se pode aferir pelas transformações positivas que beneficiam as populações e não pela capacidade de nunca se ver comprometido ou pela sucessão de saídas airosas em situações complicadas.
Evidentemente, PSL não é caso único. Outros nomes podem ser encontrados em todos os quadrantes políticos. Mas constitui certamente o exemplo mais paradigmático de uma forma de estar na política que interessa denunciar e combater.