segunda-feira, julho 12, 2004

Neruda

A TSF recorda que hoje se celebra o centenário do nascimento de Pablo Neruda. A minha primeira recordação de Neruda remonta a um tempo que já não consigo precisar. Resume-se a uma ideia que a memória se encarregou de desprover de contexto. Recordo, simplesmente, a minha mãe a explicar-me com aquela doçura digna de poemas que só as mães parecem alcançar, que Neruda tinha morrido de desgosto. Isto, já nem sei bem porquê, mas ainda antes de conhecer os poemas de Neruda, ainda no tempo em que as palavras dos pais têm a força das leis divinas. Hoje nem sei se me sinto atraído pelas pessoas que morrem de desgosto por causa dos poemas de Neruda, ou se me atraem os poemas de Neruda por causa das pessoas que morrem de desgosto, ou se me atraem os poemas e as mortes por desgosto por causa de outra coisa qualquer. Mas sei que também eu me identifico com essas pequenas mortes que os desgostos trazem. Neruda faria hoje cem anos. As vidas assim merecem ser recordadas.

1 Comments:

At 8:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Os poemas de Neruda falam de uma outra poesia. Porque existe uma outra poesia na vida para além doa poemas dos poetas maiores. São as raízes mais fortes e promissoras da poesia da vida.
São versos escondidos na heroicidade de vidas acabrunhadas, em gestos imcompreendidos, em sonhos desfeitos, em esperanças frustadas, em opressão e ódio, mas também alimentados de solidariedade, justiça, liberdade e amor. Não há poesia maior do que a dignidade construida por todos os que, todos os dias, acreditam na humanidade e num futuro melhor e por isso lutam. Não há poesia maior do que a coragem dos que enfrentam anónimamente a adversidade com vontade de vencer o egoísmo o individualismo, a exploração e a prepotência. Não há poesia maior do que a vida vivida com dignidade por todos os homens e mulheres, sem quaisquer distinções. Neruda viveu e cantou essa poesia.
Tenho muito orgulho que tu o saibas e o vivas.
Rui

 

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