sexta-feira, julho 30, 2004

Os sonhos nunca morrem

A apresentação da candidatura de Manuel Alegre a secretário-geral do Partido Socialista veio mostrar que esta é a proposta mais sólida e credível para a liderança do partido. Ideologicamente consistente, motivada pelas causas e pelos princípios da esquerda e, ao mesmo tempo, politicamente hábil. O discurso de Manuel Alegre, talvez o melhor discurso político dos últimos 15 ou 20 anos, mostrou que a força das convicções possui um apelo que o tacticismo nunca será capaz de alcançar. E mostrou também que a ideologia e os valores de esquerda são hoje tão actuais como eram há 30 anos.
O anunciar a candidatura nos termos em que o fez, Manuel Alegre colocou inequivocamente o PS num campo de onde ele nunca devia ter saído. E fê-lo de uma forma que não compromete a natural autonomia eleitoral do partido, antes pelo contrário, denota bem a ambição dos seus propósitos. Mas também não teve medo de afirmar que mais valem os compromissos assumidos claramente do que os contorcionismos eleitoralistas. É um projecto com características para reabilitar o PS e a própria democracia portuguesa, que bem necessitada está deste novo fôlego.
O projecto que Manuel Alegre propõe não representa o passado, como alguns pretendem, mas sim o futuro. Representa o que a política deve ser e sempre devia ter sido. Uma actividade sem concessões ao populismo, ao simplismo e ao centrismo. Uma actividade que se quer expurgada dos interesses económicos, do peso dos aparelhos e das clientelas. A candidatura de Manuel Alegre reaviva a saudável pluralidade partidária, sem receio de defender os valores da esquerda, da criação e justa distribuição da riqueza, da solidariedade social, da transformação da realidade e da não subserviência ao primado da economia. É uma candidatura que não se conforma e ousa sonhar. A importância de nos devolver esta capacidade é incalculável. Se não fosse por mais nada, só por isto já tudo teria valido a pena.

2 Comments:

At 6:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Alguns sonhos morrem, acredita. Morte natural para alguns, para outros será provocada. Infelizmente, enquanto alguns continuam candidamente a sonhar, outros sofrerão na pele, dia a dia. O PS esteve no governo durante quanto tempo desde 1974? Esteve sózinho, com o PSD, com o CDS e sempre a fazer o quê? E Manuel Alegre e todos os que agora o apoiam não estiveram ao lado de todas as lideranças do PS ? Soares, Secretariado, Sampaio, Guterres, Ferro e muitos anos de poder e de oposição inconsequente. Não sei se fique triste, se magoado ou mesmo zangado com o escrito. Surprendeu-me o fundamentalismo argumentário da defesa e apologia de Alegre. Exercício de liberdade? Claro. Plural? Ainda mais. O romantismo não ajuda a encontrar soluções de entendimento e convergência entre os que pretendem seriamente "defender os valores da esquerda, da criação e justa distribuição da riqueza, da solidariedade social, da transformação da realidade e da não subserviência ao primado da economia". As soluções sérias dos problemas dos portugueses exigem homens sérios que as promovam. Já agora, como votou Alegre as moções de censura dos outros partidos da oposição ? Absteve-se com o seu grupo parlamentar? Credível, consistente, sólida a proposta de Alegre? Por mim continuo a pensar que há sonhos que morrem. E por este andar vai haver mais. Talvez ganhe forças neo-realistas para responder no Alibaba. Ainda não acredito no que acabei de ler.

 
At 3:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Acho o discurso de Manuel Alegre muito sumptuoso, mas a realidade da sociedade contemporânea é diferente. A sociedade é dinâmica e os valores sociais (puramente económicos) de hoje, são diferentes de à 30 anos. O partido socialista tem de evoluir e saber adaptar-se ao meio que o rodeia. Há quem chame populismo, eu chamo adaptabilidade política, porque é possível mudar para melhor, respeitando os interesses sociais, mas não devemos ser radicais, numa época de liberalismo económica. Uma velha máxima diz, "se não podes vencer os teus inimigos, junta-te a eles".

 

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