sexta-feira, outubro 01, 2004

O exemplo espanhol

A Espanha prepara-se para oficializar os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Algo perfeitamente natural, de resto. Definir o casamento numa perspectiva meramente reprodutiva é devolver a noção de relacionamento humano à Idade Média. Hoje em dia, nas sociedades ocidentais, o casamento diz respeito a uma noção de relacionamento afectivo entre duas pessoas, envolvendo as dimensões amorosa e sexual. O que tanto é válido para relações heterossexuais como para relações homossexuais.
O conceito de família, tanto como o de casamento, é histórica e geograficamente variável. Nesta medida, interessa perceber que está na altura da realidade político-legislativa acompanhar a realidade social. Existem relações de atracção entre pessoas do mesmo sexo, existem relações que evoluem para cenários de afectividade estável co-habitacional (ainda que a co-habitação não seja condição essencial para a estabilidade de uma relação), é da mais elementar justiça que finalmente se reconheça um conjunto de direitos que têm vindo a ser negados a algumas pessoas com base nas suas opções sexuais. Negar a equiparação de direitos tendo por base o preconceito sexual é perpetuar uma intolerável discriminação que não se coaduna com os valores que a chamada modernidade ocidental gosta de defender.

3 Comments:

At 10:13 da tarde, Blogger Pedro Farinha said...

É por estas e opor outras que se eu vivesse em Olivença também quereria manter-me espanhol

 
At 12:49 da manhã, Blogger mfc said...

Nada tenho a opor ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mas somos nós e as nossas circunstâncias, por isso tenho que confessar que no plano pessoal essa situação... provoca-me uns certos engulhos. Que se lhe há-de fazer?

 
At 9:26 da manhã, Blogger Miguel Silva said...

Já uma vez me meti num valente mal-entendido com o GAO que gostaria de não repetir. Não só por isso, penso que é injusto meter no mesmo saco todos os “amigos de Olivença”. No entanto, reconheço que existe um discurso, de certa forma recorrente, apostado na diabolização de Espanha, muitas vezes acompanhado de uma exaltação patriótica com a qual não me identifico minimamente.
No fundo, parece-me que, tanto no caso de Olivença como no dos casamentos homossexuais, estamos perante mais um caso de inoperância nacional. E se no primeiro ainda se poderá argumentar com a complexidade da delicada diplomacia ibérica, no segundo temos um claríssimo caso de imposição ao nível estatal da ideologia de determinados sectores mais conservadores da sociedade. Para utilizar a expressão de MFC, que cada um tenha os seus engulhos, nada contra. Que os queira impor a todos os outros, já é bastante diferente.

 

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