O silêncio na política
Não me quero meter em conversas para onde não fui chamado, mas, se me conseguir explicar bem, ficará claro que não é essa a minha intenção. Em dois posts (um do Irreflexões e outro do Bloguítica [2061]) é arguida a ideia de que a melhor coisa que José Sócrates tem a fazer é manter-se calado e quieto enquanto o governo se vai suicidando politicamente. Não duvido da apetência deste governo para a cavalgada de disparates, mas julgo que se deve esperar mais do líder da oposição.
Não é inteiramente justo comparar a situação política que Ferro Rodrigues enfrentou com a que se depara a José Sócrates, mas é perfeitamente razoável pedir a este último o mesmo que se pedia ao primeiro. O nível de exigência tem de ser o mesmo. A fasquia colocada para FR não pode ser agora reduzida para JS. Ao líder do maior partido da oposição pede-se uma actuação firme e a construção de uma alternativa forte e credível. Foi isto que foi pedido a FR e é o que se pede, certamente, também a JS.
Como político experiente e metódico que tem a fama de ser, os silêncios de JS correspondem a uma estratégia possivelmente sintetizada na citação de Napoleão que o Irreflexões relembrou. JS pretende gerir o timing das suas intervenções não só para evitar desgastar-se, mas também, como já foi referido, porque o governo vai contribuindo para o seu próprio descrédito a um ritmo acelerado. Esta gestão é delicada. Bem utilizada pode resultar em enormes benefícios eleitorais, mas pode igualmente revelar-se prejudicial em determinados cenários. Nomeadamente, caso transpareça mais nitidamente a vontade de colher dividendos políticos com a gestão dos silêncios do que a vontade de defender os interesses dos eleitores.
Por último, há ainda que considerar o aspecto ético da questão. O PS e o seu líder, qualquer que seja, ou qualquer outro partido com aspirações de governação, não podem esperar que o poder lhes caia ao colo, o que, desde logo, até contribuiria para fragilizar o seu executivo. Aos partidos e aos políticos que aspiram a ocupar o poder pede-se que ajam respeitando determinados códigos de conduta, que apresentem propostas concretas, que sejam capazes de construir alternativas (e não meras alternâncias), que estejam presentes nos momentos difíceis e que contribuam para a credibilidade do sistema. Neste momento, em que a coligação PSD-PP é o que se sabe, cabe à oposição, com especial destaque para o PS pelo seu peso eleitoral, um papel fundamental para desmontar toda esta mascarada governativa. O governo até pode cair de podre como uma vulgar peça de fruta, mas a actuação mais correcta é garanti-lo abanando a árvore.
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