Uma estratégia de irresponsabilidade
Julgo não estar enganado se disser que Santana Lopes é o principal seguidor do culto da sua própria personalidade. As constantes referências ao seu desempenho utilizando a primeira pessoa revelam um egocentrismo claro, algo perfeitamente notório mesmo em ocasiões oficiais, onde este comportamento se torna ainda mais inadmissível. Santana está habituado ao one man show e deve ser-lhe difícil partilhar focos de atenção. Além disso, o instinto de sobrevivência política de PSL (embora se possa, com muito mais justiça, apelidá-lo de arrivismo) está bastante desenvolvido. O que contribui para que a contenção de danos seja feita sempre tendo em vista a preservação da sua imagem, sacrificando-se pelo caminho os que tiverem de ser sacrificados.
Ultimamente tem-se assistido a uma culpabilização política dos assessores e dos ministros do governo, certamente merecida, mas que deve ser colocada em perspectiva. A diluição das asneiras governativas pelos níveis inferiores serve uma estratégia de preservação da imagem. A imponderação de PSL não o ajuda e os episódios tristes sucedem-se, mas as exposições difíceis estão reservadas para outros. Pelos blogues não falta quem vá desmascarando este fenómeno, mas nos órgãos de comunicação social que realmente têm peso não se assiste a este nível de exercício da crítica. O resultado prático é um branqueamento da paupérrima prestação de PSL enquanto primeiro-ministro.
O problema não está somente, nem sequer sobretudo, nos colaboradores de Santana Lopes. Existe, para qualquer detentor de um cargo político, uma responsabilidade política sobre a sua área de influência. A influência de um primeiro-ministro corresponde a todas as áreas de actuação do seu governo. É ele que, em última análise, responde pela prestação do governo que coordena, independentemente da sua responsabilidade directa nos assuntos ou do seu total alheamento dos mesmos.
Mas nem sequer tem sido esse o caso. O que se tem passado é uma intervenção de PSL, ainda que por interpostas pessoas, no sentido de definir planos de intervenção política, manipulando a comunicação social e a opinião pública à sua conveniência. Sobre isto o primeiro-ministro tem mais do que mera responsabilidade política, embora esta já fosse suficiente para questionar a sua governação. Assim, entre as declarações extemporâneas de PSL, as contradições diárias com os seus ministros e os comentários dos seus colaboradores mais próximos não há diferenças significativas. Tudo tem o seu estilo e cunho pessoal. O primeiro-ministro não só tem conhecimento e dá o aval como é o principal mentor deste estilo de (des)governar. Por isso, terá que ser, assim, também o primeiro a ser responsabilizado em toda a linha nas críticas que são feitas a este governo.
2 Comments:
Culpa in eligendo e in vigilando!
O Santana Lopes é passível de muita, muita crítica.
Mas não nos devemos esquecer de que é provavelmente o melhor Primeiro Ministro que o PSD tem para oferecer.
Para já está muitos pontos acima do Durão e até do Cavaco.
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