quarta-feira, novembro 17, 2004

A dinâmica do PCP

Miguel Coelho, presidente da concelhia de Lisboa do PS, em declarações ao Público sobre as premissas de uma futura coligação para as autárquicas na capital, refere que "a haver coligação, ela será de certeza com o Bloco, cujo eleitorado é muito mais dinâmico do que o do PCP".
Não se percebe muito bem o que quererá Miguel Coelho dizer com isto. Se estiver a falar de eleitorado num sentido lato, é incompreensível que a força eleitoral do PCP seja subalternizada desta maneira em relação ao BE. No mínimo, e mesmo com a erosão eleitoral que tem vindo a sofrer, o PCP representa o dobro ou o triplo dos votos do BE em Lisboa. Representa também uma estrutura muito mais homogénea e perfeitamente habituada à realidade de campanha eleitoral, quer como oposição quer como executivo, experiência esta que não pode ser despicienda. Não se pode esquecer o facto de que nas próximas autárquicas, caso exista coligação à esquerda, apesar de o actual executivo ser de direita, o PS e o PCP ver-se-ão, com toda a certeza, obrigados a evocar e a responder pelo trabalho feito durante os mandatos de Jorge Sampaio e de João Soares.
Por outro lado, se Miguel Coelho estiver, na realidade, a falar da militância dos respectivos partidos, ninguém poderá recusar que, apesar do menor mediatismo (sobre o qual há muito para dizer), a produção de uma máquina partidária com a expressão e as características do PCP ultrapassa, e muito, a capacidade do BE. Não se pode confundir o talento para aparecer nos noticiários com a capacidade de mobilização e de trabalho das respectivas militâncias. De facto, a única forma de dar sentido à afirmação do dirigente socialista é considerá-la em termos de oportunidades mediáticas. Mas isso não se fica a dever à apatia do PCP, mas às prioridades editoriais dos diversos órgãos de comunicação social.
Não está em causa a inclusão do BE numa hipotética coligação de esquerda para a CML. O que está em causa é que a dinâmica que o PCP consegue criar junto dos seus militantes e simpatizantes é provavelmente das mais fortes no espectro partidário nacional. Não faltam por esta blogosfera, quer como leitores quer como bloguistas, muitos antigos e actuais militantes e simpatizantes comunistas que podem, com a autoridade das suas experiências directas, corroborar esta evidência.

1 Comments:

At 5:02 da tarde, Blogger Carlos Araújo Alves said...

Pois é, Miguel, a marginalização do PCP que a chamada esquerda embarcou a reboque da chamada direita tem sido o maior trunfo da dita direita!
Não podemos, contudo, esuqecer que, apesar de parecer hoje arrependido, Mário Soares foi um dos principais se não o principal obreiro dessa marginalização.

 

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