Abandonar?
A facilidade com que as expressões "pegam" é fantástica. Carlos Carvalhas revelou a sua intenção de não se candidatar novamente ao cargo de secretário-geral do PCP, mas a maior parte da comunicação social optou por falar em "abandono". Ora, o ainda SG do PCP, que não apresentou a demissão, vai cumprir este mandato, que é já o terceiro, até ao fim. Ou seja, não abandona rigorosamente nada.
Para facilitar o entendimento do uso correcto da palavra abandonar, segue-se uma curta lista de pessoas de quem se pode dizer, com muito mais justiça, que abandonaram alguma coisa:
Durão Barroso – abandonou o seu mandato de primeiro-ministro a meio da legislatura para ocupar o cargo de presidente da Comissão Europeia
Pedro Santana Lopes – abandonou o seu mandato de presidente da CM de Lisboa para ocupar o cargo de primeiro-ministro sem ter que se sujeitar a essa maçada que são as eleições
Paulo Portas – quebrou a sua promessa de ficar na CM de Lisboa e abandonou-a sem terminar o mandato
Manuela Ferreira Leite – abandonou as regras do rigor quando recorreu a medidas de controlo do défice ineficazes e até perigosas
Celeste Cardona – abandonou as suas responsabilidades quando a Justiça atravessou a sua maior crise no período democrático
David Justino – abandonou o princípio da responsabilidade política (ou da vergonha na cara, dependendo do ponto de vista) em sucessivas entrevistas sobre o seu exercício nas funções de ministro da Educação
Luís Filipe Pereira – abandonou o Serviço Nacional de Saúde para o deixar ser devorado pelos interesses privados e abandonou os princípios da álgebra ao negar que o número de pacientes na segunda lista de espera para uma cirurgia deva ser somado ao número de pacientes que ainda restam na primeira lista
Bagão Félix – abandonou o princípio da solidariedade política ao distanciar-se das medidas adoptadas pelo anterior governo, do qual também fez parte
Alberto João Jardim – abandonou, há muito tempo, o respeito pelos outros e pelo funcionamento democrático das instituições (também poderá ter apenas abandonado a sanidade mental)
Rui Gomes da Silva - abandonou o princípio da liberdade de expressão para pressionar um conhecido comentador político
Jorge Sampaio – abandonou-nos a todos às mãos de um bando de incompetentes que se julgam inimputáveis
6 Comments:
oh Miguel,
esperava eu que falasse em abandonos mais recentes, tipo o do Ferro Rodrigues, mas esse escapou-Lhe ;-)
já agora, não se esqueça que Sampaio também abandonou o seu mandato de presidente da CM de Lisboa
Também é verdade, também é verdade. Mas esses ficam para uma listinha dedicada exclusivamente à esquerda, quando o PS voltar a ser governo. O que é que acha?
Mira Amaral abandonou a CGD
Marcelo Rebelo de Sousa abandonou a TVI
A Ministra da Educação abandonou os professores
Bagão Félix abandonou quem paga por conta de outrém
Avelino Fereira Torres abandonou o caciquismo
O país abandonou...
O que este País precisa é de uma alternativa real ao Bloco Central!
se continuar a registar estes "abandonos" temo que não fará nada mais no blogue... seja o PS ou o PSD no poder....
nós é que vamos abandonando a política....
Excelente post !
E é claro que também já existiram abandonos à esquerda, apesar de alguns dos referidos aqui nos comentários não serem verdadeiros abandonos.
Em suma, eu diria que o bom senso abandonou o nosso país
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