Mysterious ways
Só há uma forma de entender esta semana. O Altíssimo decidiu contrabalançar a alegria de celebrar os aniversários das pessoas que amo com doses reforçadas de labuta profissional e horas intermináveis de reuniões estéreis, o que me impediu de escrever em tempo oportuno sobre tantas coisas que me parecem importantes que me sinto mesmo muito aborrecido com isso. E agora parece-me mal amalgamar tudo num post, coisa que já se presta tão pouco a reflexões extensas, quanto mais a súmulas das preocupações semanais.
Não me satisfaz porque queria dizer mais sobre a aberração humana e urbanística que são os bairros sociais, sobre os rígidos critérios e fiscalizações para atribuir rendimentos e subsídios a quem já não tem quase nada, sobre a má fé de colocar o ónus de prova em pessoas que, muito provavelmente, têm poucos estudos, se tiverem alguns, e pouco tempo para perder nessa idiossincrasia nacional que é a burocracia levada ao extremo. Ou sobre o insulto e o contra-senso que são os deferimentos tácitos nos licenciamentos autárquicos, sobre a forma como se dá de mão beijada a paisagem aos interesses económicos ligados à construção e ao turismo, mas se parte do pressuposto que quem recorre ao RSI ou ao subsídio de desemprego é por natureza oportunista e mal intencionado. Ou sobre esta batalha para meter os do costume a pagar a factura, os que trabalham por conta de outrem e declaram ao fisco todo o pouco que ganham, os que não podem fugir por lado nenhum, os que estão e nunca hão-de deixar de estar mesmo a jeito para pagar as contas dos outros. Ou então sobre a insanidade de remodelar um governo que tem quatro meses, ou coisa que o valha, de tempo de trabalho, sobre a forma bonita como as fidelidades caninas são recompensadas com um lugarzito alternativo como ministro e sobre a esquizofrenia de se discordar hoje do que se aprovou ontem.
Mas sobretudo o que mais me aborrece é não ter tido tempo de dizer como amo e como são tão importantes para mim, tão fundamentais, as duas pessoas que fizeram anos esta semana. Sinto-me grato por existirem e por fazerem parte da minha vida.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home