sexta-feira, janeiro 30, 2004

Mais links

A prometida mega-actualização de links está concluída. São blogues para todos os gostos e sensibilidades. Julgo que alguns são mesmo muito diferentes do que até agora se podia encontrar na coluna dos links. A lista completa de novidades é a seguinte:

A aba de Heisenberg
Analiticamente Incorrecto
Blogame mucho
Elias o sem abrigo
Fórum Cidade
Grande Loja do Queijo Limiano
Grão de Areia
Ludotopia
Miniscente
Nagua
Nova Floresta
O Companheiro Secreto
O Farol das Artes
Outro, eu
Palombella Rossa
Portugal e Espanha
Quadratura do Círculo
Sous les pavés, la plage!
Xupacabras

A visibilidade do PCP

Nos últimos dias o Partido Comunista tem conseguido uma visibilidade a que não nos tem habituado. Não só Carlos Carvalhas foi entrevistado na SIC Notícias, como o PCP conseguiu dinamizar uma série de acções políticas que conseguiram a atenção da Comunicação Social. Faz falta que uma força política como o PCP recupere o seu espaço mediático. Os ganhos não são só para o próprio partido, mas sim para todo o sistema político português.

Novidades

Através do Adufe, descobri o Tugir, um novo blogue que alguns dos elementos do Ter Voz estão a preparar. Para quem se habituou a ler diariamente este último, é com agradável expectativa que se aguarda a inauguração oficial do Tugir. Agora só falta o regresso do Ter Voz.

Prioridades

Enquanto cruzava as ruas inundadas de Alcântara, ontem ao fim da tarde, não pude deixar de me interrogar se o dinheiro que Santana Lopes gastou em propaganda não teria sido melhor aproveitado em medidas que ajudassem a mitigar este mal crónico de Lisboa.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Mudar de casa

O blogue Pensativa mudou-se do Blogspot para a Weblog. Agora está aqui:

www.pensativa.weblog.com.pt/

O link já foi actualizado.

Mudanças

Vem aí uma mega-actualização da coluna dos links. Vão ser mais de dez novos blogues. Depois disso, decidindo-me eu a cumprir a promessa que aqui fiz, logo no começo do Viva Espanha, actualizo a lista de links das Notícias. A intenção é aumentar a lista de órgãos de informação nacionais e criar uma lista de órgãos de informação estrangeiros. Em lista de espera vai ficar uma lista de links para sites de museus e galerias, tanto nacionais como estrangeiros.
Também quero mudar a aparência do blogue. Mas, para isso, tenho de ir bater a algumas portas em busca de auxílio. É claro que se aceita voluntariado para esta tarefa. Se houver por aí interessados, sem mais que fazer, façam o favor de se anunciar para o e-mail.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Aproveitar as oportunidades

Não podendo acompanhar os esclarecimentos de Celeste Cardona, só me resta esperar que a oposição não perca a oportunidade de sangrar o governo de forma inquestionável. A coligação PSD/PP tem sido fértil em situações que se podem dizer, no mínimo, politicamente reprováveis. Se em 2003 houve alguns condicionalismos compreensíveis à actuação das oposições, sobretudo no que diz respeito ao PS, este ano, com o aproximar de eleições, não se poderão desperdiçar oportunidades de pôr a nu as deficiências do governo.

Um mau exemplo

Quer o Ministério da Justiça tenha incorrido em crime fiscal ou não, Celeste Cardona, Bagão Félix, Ferreira Leite e Durão Barroso não poderão deixar de tirar as conclusões políticas do facto. As titubeantes explicações até agora avançadas raiam o absurdo. Chegou a ser referido, em jeito de atenuante, que ninguém se tinha apropriado das importâncias, limitando-se estas a ter ficado retidas. Esta triste declaração estabelece o sentido de estado de quem a proferiu. Era o que mais faltava que alguém se tivesse apropriado dos descontos dos trabalhadores. Era o que mais faltava que estes tivessem sido utilizados para outra finalidade que não aquela a que exclusivamente se destinam. Para mais, ficou implícito que a situação não se solucionou antes por manifesta falta de coordenação entre ministérios. As pessoas responsáveis pelas tutelas terão de assumir as consequências de tanta insensatez e incompetência. E o Primeiro-Ministro, que responde por todos eles, também terá de o fazer.
Talvez eu seja impaciente com estes fenómenos, mas este caso parece reunir todos os ingredientes para fazer cair ministros, senão mesmo todo o governo. Governantes que personificam o descuido a que são votados os trabalhadores, o Estado e as contribuições de uns para o outro não reúnem condições para se manter no cargo. É tudo ainda mais escandaloso quando se sabe que a coligação PSD/PP quer fazer passar a mensagem do rigor nas contas e da caça às infracções. Comecem por eles próprios.

terça-feira, janeiro 27, 2004

Aguarda-se o regresso ao bom senso

O PS aderiu aos cartazes de pré-campanha. Tal como decorre da interrogação de Vital Moreira, este facto dá a entender a importância que o PS atribui à CML. E também a Santana Lopes, enquanto adversário político. A importância é de tal ordem que, onde seria preferível ter visto destacados elementos do PS Lisboa, sobressaiu o secretário-geral.
Nota negativa merece certamente o teor dos cartazes. O PS cedeu ao populismo e à demagogia de uma forma incompreensível. Nem o propalado resgate de temas mais caros à direita do que à esquerda (perspectiva mais que discutível) serve de desculpa. Nestes campos, como nos restantes, é sempre preferível a confrontação com factos objectivos fáceis de julgar pelos eleitores. Ao querer resgatar o tema da segurança, o PS, ironicamente, enveredou por caminhos nada recomendáveis.

A suprema ironia

O Ministério da Justiça está sob suspeita de ter cometido crime fiscal.
Eu repito. O Ministério da Justiça está sob suspeita de ter cometido crime fiscal.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Parecendo que não, há diferenças

No que diz respeito à cobertura mediática dos acontecimentos da noite passada, existe uma diferença, que não é tão pequena quanto isso, entre o que se vai escrevendo pelos blogues e o trabalho efectuado pelos jornalistas. Em primeiro lugar, porque uns constituem um grupo indefinido de sensibilidades que recorrem a um meio semi-público de partilha dessas mesmas sensibilidades. São visões pessoais, por vezes intimistas, que raramente vinculam mais do que o autor. Já os jornalistas constituem um grupo profissional com preparação específica para o trabalho que realizam e com muito mais responsabilidades pelos textos que assinam. O que me mereceu condenação não foram tanto as explorações e especulações inconsequentes, mas antes essa queda, e as expressões de dor que se lhe seguiram, repetida vezes sem conta. Sei que a minha sensibilidade não representa mais do que a minha pessoa, mas julgo que passar as imagens uma vez seria suficiente para transmitir todo o conteúdo emocional. E, mesmo assim, não sei se já não seria uma transmissão a mais. Não nego que a morte de um atleta de alta competição no exercício das suas competências seja notícia. Mas não estaremos a entrar em campos demasiado sensíveis quando se transmite e retransmite o momento da morte de uma pessoa? Como é que se podem tornar públicos os momentos de maior sofrimento, sem se estar a cair numa violação da privacidade alheia, seja ela da pessoa em questão ou dos que lhe estão mais próximos?
A transmissão de imagens de conteúdo violento nos noticiários pode ajudar a sensibilizar as consciências para a barbárie que grassa por demasiados locais do globo. Assim terá sido com os campos de concentração nazis, com os inúmeros genocídios em África e com o 11 de Setembro. Não sei em que medida ficámos mais sensibilizados com a retransmissão (note-se: com a retransmissão) dos momentos fatais de Feher. Não terá chegado o choque inicial?
Compreendo que o JMF veja nalguns blogues uma certa incoerência. Ainda que admitindo essa possível incoerência, quantos desses posts terão tido como principal motivação as audiências? Parece-me que o JMF está a pecar por algum excesso de ingenuidade ao não querer ver estas motivações nos órgãos de comunicação social e a confundir aquilo que cada um de nós sente perante o imprevisto com aquilo que os responsáveis pelas redacções pensam na luta pelas audiências.

Somos o que fazemos

Não é propriamente novidade o mau serviço jornalístico prestado pelas estações televisivas nacionais. Também não é nenhuma novidade a curiosidade mórbida que assola a mentalidade de algumas (demasiadas) pessoas. Quando a grande maioria dos automobilistas reduzem a velocidade para poder observar um pouco melhor os vestígios da desgraça alheia, o que é que se poderia esperar quando os momentos derradeiros da vida de uma pessoa foram captados por um sem número de câmaras.
A televisão tem o dom de poder aproximar os fenómenos distantes, de tornar mais familiares os acontecimentos. Ver tombar um jovem de 24 anos ajuda a colocar muitas coisas em perspectiva. O que não tem absolutamente nada a ver com o aproveitamento boçal do sofrimento alheio para conseguir mais uns algarismos no share. Mas isto também não é exactamente novidade.
Seria bom que juntamente às perguntas sobre os meios de auxílio disponíveis em Guimarães, e às quais é necessário dar resposta, nos interrogássemos sobre a cobertura dada à morte do jogador do Benfica. Seria bom que alguém perguntasse aos responsáveis pela transmissão repetitiva do enorme sofrimento vivido na altura se alguma vez pensaram que entre os possíveis algarismo de share estariam familiares e amigos do jogador, obrigados a renovar a dor uma e outra vez.
Há quem deposite demasiado optimismo nas gentes deste rectângulo geográfico. Eu mantenho as minhas reservas. E revejo neste episódio o calcorrear do mesmo caminho fácil, as mesmas soluções populistas, as mesmas características que nos afastam da educação, dos livros, dos jornais, dos museus, da cultura, do civismo, do respeito pelos outros, de tantas coisas mais...

O adeus em directo

Não sei o que custa mais. Não sei se será assistir à tragédia em directo, ou a dor transformada em lágrimas, ou ver o desespero transformado em gestos.
Ficou aquele sorriso de rapaz e um vazio enorme que perturbou a noite e escurece o dia.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

São Lopes, padroeiro dos túneis

Numa coisa Luís Delgado tem razão. Pedro Santana Lopes representa uma forma de estar na política que o destaca de outros políticos. PSL cresceu na política baseado na imagem. Deu-se a conhecer à custa das revistas e dos programas televisivos, sobretudo de carácter desportivo. Do seu pensamento político destaca-se a repetição exaustiva da sigla PPD/PSD e a evocação do nome de Sá Carneiro. E apesar da propaganda, das frases feitas e dos livrinhos publicados, a sua obra política continua a ser uma incógnita. Da passagem pelo governo, pela Câmara da Figueira e pela Câmara de Lisboa não lhe tem sobrevivido nada que se possa apelidar de inovador ou transformador. As suas ideias mais conseguidas para Lisboa passam pela construção polémica de um túnel, pela construção polémica de um casino (ninguém sabe bem para quê) e pelo alcatroamento das ruas. Fica-lhe, porém, traçado o perfil político. PSL é um arrivista político. Espera sempre subir mais nas escadarias dos cargos e do poder. Da sua trajectória, ressalta a impulsividade crónica para se candidatar. E a consequente falta de respeito pelos compromissos previamente assumidos. Ressalta também aquele espírito pequenino de vinganças quando se sente acossado. Como ficou claramente ilustrado nas discussões recentes sobre os túneis de Lisboa.
É este o político que se tem preparado para ser candidato à Presidência da República. Um arrivista impulsivo, populista e vingativo. Dir-me-ão que PSL revela inteligência e ambição política. Poderá ser que sim. Mas para se estar na política também é preciso sentido do dever, ideologias definidas, mais vontade de fazer do que vontade de ser, seriedade e respeito pelos compromissos. Muitas destas características estão fora do alcance de PSL. PSL na Presidência? Poupem-me. Já me chega ter de o aturar em cargos que só duram quatro anos.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Ary - um dos maiores

Estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto.


José Carlos Ary dos Santos

terça-feira, janeiro 20, 2004

Serviço mínimo

Ainda não é esta semana que o Viva Espanha regressa à actividade em pleno. Mas já vai sobrando algum tempo para postar qualquer coisinha.

Carrilho autarca

Das últimas intervenções de MMC tem ressaltado uma ideia. MMC assume-se como um político de esquerda e referiu que uma candidatura sua a Lisboa seria uma candidatura da esquerda. Estará com isto MMC a abrir portas para uma nova coligação? Se assim for, este não é o momento mais indicado, uma vez que o PS acaba de descartar a hipótese de apresentar listas conjuntas nos próximos actos eleitorais (embora a ambiguidade das declarações do PS permita traçar vários cenários). Esta será então uma demarcação das posições da actual liderança. Ora, não faz sentido uma demarcação se MMC estiver realmente interessado no apoio do partido para uma corrida eleitoral. Se MMC for o líder do PS, não vai concorrer à CML. Se concorrer à CML, não pode hostilizar o partido porque vai precisar dele. De onde se pode concluir que, qualquer que seja o lugar que MMC pretende, o de presidente da CML não deve ser um dos mais desejados.

Carrilho e Santana

O Acanto publicou uma análise às ambições de Manuel Maria Carrilho. Pode ser que tenha razão e que MMC esteja já a pensar nas Presidenciais, embora me pareça que se trata de um cargo político sem o relevo e o poder que o Acanto reconhece serem do agrado de MMC.
Não me parece de todo que a ambição seja algo condenável a priori. Julgo que faz parte do código genético de muitos políticos. E é natural que assim seja, desde que se baseie em pressupostos elementares como a competência, a seriedade e a demonstração de resultados. No entanto, na política, como em qualquer outra situação, é importante demonstrar que se pretende efectivamente ocupar os cargos intermédios na trajectória definida, para além de se reunir as condições de competência que estes exijam. O problema de MMC passa muito por aqui. De resto, tal como Santana Lopes. Todos lhe reconhecemos essa ambição política. Todos os imaginamos a quererem S. Bento ou Belém. Só que nesta espiral ascendente de aspirações políticas passam despercebidos os estágios intermédios. MMC e PSL passam tanto tempo a projectar a sua imagem para níveis superiores que se esquecem das suas responsabilidades imediatas. Alguém já se lembrou de analisar o mandato de PSL na CML? Alguém já se lembrou de como seria a CML com Carrilho? É isto que me parece reprovável. O futuro torna-se tão importante que o presente perde relevo. E o primeiro não faz sentido sem o segundo.

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Metablogar

Desde o primeiro contacto com este mundo, ainda antes da criação do Viva Espanha, pensei os blogues como um agradável exercício de liberdade e democracia. Espaços de intervenção, de debate, de troca de opiniões, às vezes mais cordiais, às vezes mais acaloradas. Espaços de fácil acesso, quer para os autores quer para os leitores. Mas foi só nesta semana que me ocorreu que os blogues são, na realidade, espaços profundamente elitistas. O blogue é um espaço construído por alguém que gosta de escrever, de ler, que tem acesso à Internet, que domina em maior ou menor grau algumas ferramentas informáticas, que dispõe de tempo (esse bem tão precioso) para dedicar ao blogue e que possui um traço de personalidade que lhe permite expor um pouco de si prórpio a terceiros. Não sei quantas pessoas reúnem estas características, mas não devem ser assim tantas como isso.

terça-feira, janeiro 13, 2004

A meio gás

Durante os próximos dias não vou ter muito tempo disponível para o Viva Espanha. O que quer dizer que alguns assuntos vão passar ao largo do blogue. Mesmo assim, pretendo, sempre que possível, deixar por aqui algumas ideias, ainda que sob pena de ter de fazer algumas concessões no capítulo da actualidade dos posts.

O regresso de Carrilho II

Manuel Maria carrilho foi dos primeiros a deixar o barco guterrista. Para além das eventuais motivações ideológicas, não devem ser menosprezadas as motivações políticas deste acto. E uma das principais vantagens para MMC ao sair naquela altura foi defender a sua imagem política do desgaste dos últimos tempos do guterrismo. Que talvez tenham chegado mais cedo do que MMC teria previsto. Esta defesa da imagem, que certamente MMC previu, faz mais sentido quando as ambições são no curto prazo. Se fossem antes no longo prazo, não haveria tantos problemas de desgaste pois o tempo de recuperação também seria maior. Ao querer defender-se, MMC deu o primeiro sinal claro de que as suas ambições políticas não são modestas e não estão dispostas a esperar muito mais tempo.

O regresso de Carrilho

Manuel Maria Carrilho manifestou a sua disponibilidade para concorrer à autarquia de Lisboa. Desconfio que o interesse de MMC se centra mais na liderança do PS do que no cargo de autarca. É claro que a câmara de Lisboa é um posto apetecível que pode funcionar como trampolim político. De lá, MMC poderia traçar uma rota mais consistente para assumir o lugar de secretário-geral do PS. No entanto, esta estratégia tem de partir do pressuposto de que MMC está disposto a esperar pelas autárquicas, fazer campanha, ganhar as eleições em Lisboa, exercer o mandato e só depois atacar a liderança do partido. Se não houver surpresas, ainda são uns anitos consideráveis até ao objectivo final. Porém, as últimas intervenções de MMC, sobretudo quando Ferro Rodrigues parecia enfrentar as piores críticas, fazem prever que talvez o ex-ministro da Cultura tenha um prazo mais curto para as suas ambições. Aliás, não faz muito sentido manifestar disponibilidade para um cargo tão relevante parecendo que a decisão era totalmente desconhecida dos responsáveis do PS. MMC poderia estar a lançar efectivamente o seu nome para a corrida à CML, mas parece muito mais plausível, e coerente com a sua actuação num passado recente, que MMC tenha tentado uma operação de charme político ao eleitorado de uma forma geral e ao PS em particular. Com esta tomada de posição, que não foi demasiado ostensiva, MMC aproveita, em primeiro lugar, para divulgar um pouco mais o seu nome nos jornais e nos noticiários, o que bem precisa porque, convenhamos, o cargo de ministro da Cultura não é dos mais mediáticos nem particularmente relevante do ponto de vista do combate político. Em segundo lugar, aproveita também para, junto do PS, assumir uma imagem de combatente político, disposto a outras lutas que não as internas, capitalizando assim alguma simpatia que seria muito bem vinda no momento de uma eventual candidatura à liderança do partido. A qual, segundo me parece, permanece o móbil principal da sua actuação política.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Acabar com o Estado II

Em casos como o anterior é possível identificar uma estratégia. Há um interesse em não investir na melhoria dos serviços e em deixá-los atingir o ponto de saturação. Há um interesse claro em não proporcionar ao utente um serviço de qualidade, bem organizado e bem gerido. Trabalha-se pouco e mal e gasta-se muito e mal. A estratégia é justificar a alienação dos serviços a cuja prestação o Estado está vinculado. Pelo meio, vai-se espalhando a mensagem da ineficácia, do despesismo, da falta de vocação do Estado para acumular todo o tipo de serviços. Vai-se alimentando a animosidade do cidadão contra o Estado para que a solução de alienar os serviços pareça ter todo o sentido. A estratégia passa por criar um Estado que pareça não se importar com os seus cidadãos para que estes também não se importem muito com o Estado. Para que continue a ser tolerável, por exemplo, fugir criminosamente aos impostos. Para que, finalmente, o Estado se possa demitir das suas funções vitais, cedendo-as aos interesses privados. É assim com a saúde, com a Segurança Social e agora também com as dívidas fiscais.
Acontece que o Estado, apesar de ser sempre tratado como uma entidade abstracta, possui rostos e nomes. Possui responsáveis, renováveis de quatro em quatro anos, que devem ser chamados a responder pelas escolhas que fazem e pelas consequências que estas acarretam. Se o Estado funciona mal é, em grande parte, porque quem tem a obrigação de o fazer funcionar melhor não está a cumprir a sua missão, quer seja por manifesta incompetência, quer seja por falta de vontade, ou outros obscuros interesses. Enquanto alguns contribuem activamente para a deterioração dos serviços estatais e outros assistem impávidos, resta-nos a esperança de haver também quem ainda vá resistindo, denunciando a lenta erosão do país.

Acabar com o Estado

A inovadora medida de transformar os hospitais em S.A.’s já está a dar os seus frutos. Já há uma unidade hospitalar que, ao abrigo da lei, tenciona contratualizar cuidados de saúde com entidades seguradoras. Ou seja, os utentes com seguros de saúde terão áreas de atendimento exclusivo na unidade hospitalar. De forma absolutamente fantástica, o Estado potencia a operacionalidade dos serviços de saúde privados nas suas próprias instalações.
Existe neste caso, como em muitos outros, uma intenção clara de ajudar o sector privado. O que nem seria digno de reparo, se não implicasse uma estratégia de fragilização do sector estatal e uma subalternização dos utentes que não estão incluídos em sistemas de saúde particulares. Embora não seja reconhecido pelos responsáveis políticos deste governo, uma medida destas, ao introduzir um factor de diferenciação no tratamento na unidade hospitalar, promove uma discriminação positiva dos utentes do sector particular. Os profissionais e os meios materiais não serão comuns, mas as instalações sim. E acaba tudo por resumir-se a isso. Enquanto o utente do SNS continua preso às listas de espera e aos atendimentos lentos e burocráticos, na sala ao lado, o utente do particular esgueira-se a estes penosos incómodos.
Como ninguém gosta de se ver prejudicado, tanto menos quanto maior for o desespero da situação, poucos serão os que não pensarão se não estará na hora de investir num seguro de saúde. E se isto não é ajudar escandalosamente os interesses privados no sector da saúde, então não sei o que será.

Pegar em armas

Não sei o que move o homem num cenário de guerra. Não sei se será a coragem, ou o medo, ou antes a loucura. Não sei se, mesmo para defender tudo o que me é querido, alguma vez teria forças para fugir aos snipers pelas ruas de Sarajevo ou desembarcar e correr pelas praias da Normandia. Algumas coisas só se sabem quando se passa por elas.
Não posso evitar um sentimento ambíguo em relação a esses homens. Esses que desembarcam nas praias e correm e fogem e se escondem e se levantam e lutam e matam e morrem. Sujeitos ao medo, à loucura, à dor e à morte. Capazes de actos tão bravos, quer lhes venham da coragem, do medo ou da loucura. Mas capazes também das maiores atrocidades, Capazes de cumprir o que quer que seja sem pestanejar. E também sem fazer perguntas. Sem nunca fazer perguntas. Sem nunca se interrogarem.
Acho que nunca me deixarei de espantar com os que são capazes de se exporem ao perigo, tal como nunca deixarei de me espantar com os que nunca fazem perguntas. Por motivos diferentes, claro.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Objectores de consciência

Um post muito bom no Quase em Português, que parte da objecção de consciência para lançar algumas questões importantes.

terça-feira, janeiro 06, 2004

Globalizar o quê

O termo globalização é, já de si, dado a interpretações diversas. As divergências atingem a sua definição, as suas causas e as suas consequências. No artigo de ontem no DN, Francisco Sarsfield Cabral defende a recente deslocação de postos de trabalho dos EUA para países de salários baixos. Diz FSC que esta deslocação de empregos beneficia não só os países de destino, como também, a prazo, os próprios EUA.
A argumentação de FSC, talvez devido ao exíguo espaço da sua coluna, é de uma ingenuidade e optimismo admiráveis. Não há razões nenhumas para crer que a deslocação de postos de trabalho para países onde se praticam salários muito baixos beneficia quem quer que seja. Em primeiro lugar, a desejada concentração de recursos em actividades de maior valor tem, no imediato, como reconhece FSC, consequências muito negativas para os trabalhadores do país de origem. Não só se encontrarão no desemprego, como estarão a lutar directamente num mercado de trabalho com menos postos de trabalho e a competir indirectamente com regiões do globo onde se praticam salários impensáveis em qualquer sociedade ocidental. Mais ainda, muito provavelmente estão inseridos num sistema económico altamente desregulado e liberalizado. Ou seja, em condições que não são conhecidas por privilegiar a segurança e a solidariedade social. Em segundo lugar, mesmo no país de destino, onde possivelmente se podem encontrar benefícios com a criação de emprego, também se torna necessário reflectir sobre as implicações totais destas medidas. Se por um lado são criados postos de trabalho, por outro é muito duvidoso que os mercados ocidentais se abram às economias dos países pobres ou em vias de desenvolvimento. Pelo contrário, não faltam exemplos de entrada abusiva nos mercados não ocidentais por parte das multinacionais sedeadas no ocidente, medidas estas acompanhadas de um proteccionismo desproporcionado às economias ocidentais. A deslocação de empregos faz ainda menos sentido se pensarmos que os postos de trabalho criados são bastante mal pagos, mas os preços praticados nessas economias têm tendência a equiparar-se aos preços praticados no ocidente.
Não quero com isto defender o imobilismo do investimento. Somente chamar a atenção para o tipo de investimentos que se praticam, assim como para as suas consequências, quer para os países receptores quer para os países investidores. O referido progresso não se alcança sem regras definidas e protecção dos mais frágeis. As multinacionais buscam, primeiro que tudo, reduzir custos para aumentar o lucro. E este tem tendência a ser distribuído pelos accionistas. Sem regras, a única coisa que se está a globalizar é a espiral descendente de condições precárias de trabalho e de más remunerações.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Procura-se exorcista

Há já uns dias que venho sentindo um peso no peito que se estende até às mãos. Os dedos soam pesados no teclado e as palavras custam a sair. Não há nada que o tempo não cure, dizem-me. Têm razão. Mas a minha pergunta é esta: E no entretanto?

A verdade das mentiras

Gosto das pessoas que não têm medo de expressar as suas incertezas. Tenho tendência a simpatizar com aqueles que não hesitam em gastar um pouco mais do seu tempo a amadurecer o pensamento antes da acção. Da mesma forma, sempre me pareceram estranhos todos aqueles que fazem gáudio da sua hiper-sinceridade; aqueles que se assumem sem papas na língua. Tanto a filogénese como a ontogénese nos têm afastado da espontaneidade. A mentira social, aquela que se emprega quando não nos queremos maçar demasiado, ou quando não queremos maçar terceiros, é uma ferramenta de utilidade inegável. Diferencia-se da hipocrisia e da calúnia na medida em que não tem como objectivo manifesto prejudicar ninguém. Usa-se como convenção, quando se diz que está tudo bem, mesmo se não for o caso. Sobretudo se não for o caso.
Desconfio que não há fronteiras para a utilização da mentira social. É empregue junto dos amigos, dos conhecidos e dos desconhecidos. Surge em casa, no trabalho e nos cafés. Talvez o principal elemento de diferenciação resida no facto de usarmos a mentira social junto dos amigos quando não os queremos importunar e junto dos desconhecidos quando não nos queremos maçar.
Como todas as regras, também esta conhece excepção. Existe um número muito restrito de pessoas junto das quais nos permitimos uma abertura quase total. Mas, se calhar, nesse caso já não é de sinceridade que estamos a falar. É de desabafos.