sexta-feira, novembro 28, 2003

Corolário tardio

Um direito que não é de todos não é um direito. É um privilégio.

Road Rage

Os desenhos de Calvin & Hobbes acompanham-me desde que os conheci pela primeira vez nas páginas do Público. Numa das melhores histórias em que participam, Calvin, após inventar um duplicador, vê-se confrontado com uma série de cópias suas, absolutamente iguais a si em todos os pormenores. Especialmente no que diz respeito aos seus traços de personalidade característicos. Num livro comentado pelo autor, Bill Watterson refere, a propósito desta história, que seria horrível se um dia nos encontrássemos com um duplicado nosso e descobríssemos aquilo que já todos sabem sobre nós.
Vem esta pequena introdução a propósito de uma constatação que tenho vindo a reforçar de forma muito especial nos últimos tempos. Alterando os nossos referenciais valorativos percebemos melhor como os outros vêm a realidade. Mas, ainda mais do que isso, percebemos como os outros nos vêem.
A condução é um dos mais perfeitos exemplos disto mesmo. Existe, neste contexto, uma certa tendência em classificar o comportamento dos outros por oposição àquele a que recorremos. Uma espécie de ‘eu estou bem, os outros é que estão mal’. Ao curioso fenómeno da condução não será irrelevante que, no trânsito, apesar da relativa proximidade física entre os condutores, a sua interacção raramente se dá em situações de face-a-face. Esta característica inviabiliza o acesso a todo o manancial de expressões faciais que acompanham qualquer acção. No entanto, tal facto não é impeditivo que, durante a condução, se transporte todos os preconceitos, frustrações e ansiedades que nos acompanham noutras ocasiões. Provavelmente, será a conjugação destes dois factores que resulta na road rage.
Não sei se, até certo ponto, enquanto circulamos nas estradas, não nos estaremos a cruzar constantemente com duplicados nossos. A ideia arrepia-me, por todas as implicações negativas que daí se podem extrair sobre nós próprios. Mas que me vou progressivamente convencendo disso, isso vou.

quarta-feira, novembro 26, 2003

Novidades

Já aqui expressei as minhas reservas em categorizar blogues. Daí resulta uma certa relutância em extrapolar as considerações sobre os posts para os blogues propriamente ditos. Há, claro, algumas excepções a que não resisto. O blogue Exacto é uma delas. O Exacto deu-se-me a conhecer por e-mail. Foi um caso de simpatia imediata. Nos primeiros posts que li havia quase sempre alguma coisa com que me identificava, desde a exposição sobre a tortura na Biblioteca Municipal que também visitei, até à evocação de filmes, quadros, leituras ou simples pensamentos. Volta e meia, consoante a disponibilidade e a preguiça, vou actualizando a lista de links para outros blogues. O impacte do Exacto pode ser aferido, de certa forma, pela urgência que induziu na actualização da lista.

Com o Exacto chegam também o BlogA!?, o Causa Nossa, o Da Vinci, o Irreflexões, O Vilacondense, o Paz na Estrada e o Quase em Português.

O Blogue de Esquerda tem morada nova.

Entre o idealismo e o realismo

Não gosto de ver as coisas em termos de preto e branco. Toda a acção humana se pauta por incoerências em maior ou menor grau, como diz o Bloguitica. Há, no entanto, dois reparos a fazer. Primeiro: mesmo que não se possa fugir ao erro, inerentemente humano, deve-se responder pelas diferenças registadas entre o que se diz e o que se faz. Não se trata de exigir coerência absoluta. Trata-se de pedir um mínimo de coerência.
Segundo: mesmo que a acção humana esteja irreparavelmente ligada ao pragmatismo, para uma visão estratégica de longo prazo é essencial uma componente idealista. Mesmo que nos situemos sempre no espaço intermédio entre ideiais-tipo, a existência destes permite clarificar os objectivos a alcançar e os caminhos a percorrer para lá chegar. Sem prejuízo de se mudar de opinião a meio do percurso. A mudança é tão tipicamente humana como o erro.

O défice visto pelos leigos

Para um leigo económico-financeiro como eu, a posição do governo em relação à Alemanha e à França soa, primeiro que tudo, a incoerência. Incoerência entre o que é defendido dentro das nossas fronteiras e o que é defendido fora delas. No seguimento do dramatismo e da importância dados às questões do défice, antes e depois da vitória eleitoral, o que faz da questão do défice uma questão do governo e não apenas da ministra das Finanças, não se afigura clara a mais recente posição tomada no contexto europeu. As minhas escassas noções económicas não me permitem entrar neste campo com a segurança que julgo conveniente. No entanto, do pouco que julgo saber, o défice depende do controlo das despesas correntes do Estado, assim como do investimento que injecta na economia do país. Sendo o investimento estatal inegavelmente necessário para o desempenho económico, sobretudo em tempos de estagnação ou recessão, é justo perguntar se o sacrifício económico pedido afinal tem razão de ser na actual conjuntura. Ou o governo continua fiel à linha dura que o tem caracterizado no cumprimento do défice (embora sobre isto se possam discutir as estratégias adoptadas), ou admite que existem situações excepcionais que escapam à lógica deste PEC, pelo que este deve, no mínimo, ser revisto. Uma posição de dois pesos e duas medidas é que não se afigura compreensível. Nem para a imagem do governo em Portugal, nem para a imagem da moeda e da UE no contexto internacional.
Existe, porém, uma certeza no mar de dúvidas que esta situação levanta. O futuro do governo está (ou deve estar) não só intimamente ligado ao sucesso/insucesso interno no cumprimento do défice, como também à sua posição externa nas questões do PEC.

terça-feira, novembro 25, 2003

Outra vez o aborto

Através do Glória Fácil (onde se pode encontrar o texto completo) e do Bloguitica acedo ao artigo de Vasco Rato sobre a descriminalização do aborto. O Paulo Gorjão prefere centrar-se no penúltimo parágrafo, onde Vasco Rato aborda a questão do começo da vida. O meu foco de análise centra-se, tal como o Ivan Nunes, no último parágrafo. Resumidamente, Vasco Rato propõe descriminalizar o aborto, desde que este só se possa realizar em clínicas privadas e inteiramente custeado pelos utentes. Esta proposta é feita, supostamente, em nome da humanização de uma lei hipócrita violada impunemente.
Na minha opinião, é este o parágrafo essencial da reflexão de Vasco Rato. O que Vasco Rato propõe, sem o afirmar claramente, é que o aborto só esteja ao alcance de quem tenha meios financeiros para o pagar. Acontece que, de uma forma geral, quem tem meios para pagar um aborto numa clínica já o pode fazer legal (no estrangeiro) ou clandestinamente (em Portugal). É, sobretudo, para os menos favorecidos que a descriminalização do aborto faz mais sentido. Porque é ao possibilitar o acesso ao Serviço Nacional de Saúde das camadas mais carenciadas que se combate os abortos de vão de escada, feitos em condições precárias e atentatórias da dignidade e da saúde dos que a eles recorrem.
Vasco Rato tem razão quando afirma que o aborto passa por uma decisão (certamente terrível para quem a toma) individual. Por isso acredito que faz muito mais sentido que a decisão da descriminalização passe preferencialmente pela Assembleia e não pelo referendo. Julgo que é mais frutuoso chamar a sociedade a pronunciar-se sobre o caminho da acção política do que sobre o comportamento dos cidadãos que a integram.
Compreendo que o aborto incomode a consciência de muita gente. Compreendo que se discorde veementemente da sua descriminalização. No entanto, acredito que descriminalizar o aborto não fará aumentar o número de ocorrências. Quem quer mesmo fazer um aborto arranja maneira (melhor ou pior) de o fazer. Assim como quem não o quer fazer nesta conjuntura, certamente continuará a não o fazer noutro enquadramento legal. A descriminalização do aborto, e a sua subsequente integração no SNS, tem como um dos seus principais benefícios possibilitar condições médicas que ajudem a evitar os verdadeiros crimes de saúde pública a que têm de se sujeitar aqueles que tomam esta decisão. Para mais, um acompanhamento médico claramente assumido coordenado com uma assistência social eficaz poderiam ajudar a orientar e canalizar os utentes para outras soluções (muito embora reconheça a tripla dificuldade desta medida: esperar o correcto funcionamento não de um mas sim de dois serviços, esperar uma coordenação eficaz dos respectivos serviços, esperar que impere o bom senso na altura do aconselhamento e da orientação dos utentes).
Já não tem qualquer fundamento querer transformar a decisão individual de abortar num corte relacional com o Estado em geral e com o SNS em particular, como propõe Vasco Rato. As teses individualistas e liberais levadas ao extremo conduzem a um empobrecimento dos laços sociais. Remetem para uma concepção da sociedade como um aglomerado de vontades individuais, distintas e independentes em que cada um está entregue a si próprio. Não partilho esta concepção da sociedade. Não considero esta concepção nem real nem viável.
Por último, Vasco Rato não indica qual é a linha que separa as decisões individuais que cabem dentro da alçada do suporte Estatal das que não cabem. Devemos, por exemplo, defender o fim da prestação de cuidados no SNS aos fumadores com cancro de pulmão? Ou aos doentes de SIDA? Devemos entregar o SNS aos privados sem levar em linha de conta o número de portugueses que não tem capacidade financeira de aceder aos cuidados de saúde nas entidades privadas? Devemos promover a quebra das ligações entre os cidadãos e o Estado lenta e inexoravelmente? Onde é que está a humanidade destas medidas? Onde é que estaria a humanidade dessa sociedade?

segunda-feira, novembro 24, 2003

Parabéns

Hoje, 24 de Novembro, é o aniversário da minha mãe. Foi ela a primeira mulher a ensinar-me o significado da palavra amor. Foi ela a responsável pela infância de verdadeiro luxo emocional que considero ter tido. Foi ela que me ajudou a transformar-me na pessoa que sou, e na que não sou, mostrando-me as portas e convidando–me a percorrer os caminhos, nunca empurrado, nunca conduzido, mas sempre apoiado.
Ao longo dos quase 30 anos que nos unem tivemos as nossas divergências, como acontece com toda a gente. Mas nem mesmo esses momentos de desacordo abalaram a confiança incondicional que nela depositei e continuo a depositar. Este é um sentimento sem preço. Saber, sem qualquer margem de dúvida, que se pode contar sempre com alguém. A única forma de retribuir esta riqueza interior é assegurar a sua mutualidade e transportá-la como herança familiar para as gerações que vierem.
Há quem veja os blogues como exercícios umbiguistas. Eu penso que um blogue também serve para isto: homenagear aqueles que amamos. Parabéns Mãe.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Afinal sempre vem

Esta rapaziada aproveitou para me dar os parabéns, o que muito agradeço, a propósito do apuramento da Espanha para o Euro 2004. De facto, fiquei contente. Até porque estou convencido que a presença dos espanhóis é essencial para acalentarmos qualquer esperança de resultados económicos desta aventura.

P.S.: Ficam registados os conselhos gastronómicos.

quarta-feira, novembro 19, 2003

No entretanto, para não desesperar...

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

(António Gedeão)

'Poupar' na Educação

No artigo mesmo artigo, MFM relembra a entrevista de David Justino ao Expresso, onde o ministro explica que foi a elevada indemnização que teria de pagar aos editores pela decisão de prescindir do BB nos manuais a inviabilizar esta medida. Enquanto se encarar o dinheiro empregue na Educação como despesa e não como investimento, não prevejo melhorias significativas nas enfermidades que assolam este país.

Ainda o BB nas escolas

Em dois dias consecutivos apareceram na imprensa, nomeadamente no Público, artigos sobre a inclusão nos programas escolares do tratamento de conteúdos como o regulamento do Big Brother e o argumento das novelas de horário nobre (Eduardo Cintra Torres, na edição de segunda-feira, e Maria Filomena Mónica, nas edições de segunda e terça-feira). Maria Filomena Mónica desemboca numa conclusão altamente polémica, embora aparentemente ainda ninguém se tenha manifestado (Os Marretas já repararam mas não me parece que se tenham pronunciado). Escreve MFM: Enquanto os filhos dos pobres são metidos em salas de aula onde se discute o que levou Tomé a expulsar a Maria de casa, os meninos privilegiados entretêm-se a ler poetas simbolistas. A inclusão do Big Brother nos manuais escolares é a via escondida para a exclusão social. Em suma, os novos programas servem para proteger os meninos que frequentam as escolas privadas dos "bárbaros" que subitamente invadiram os liceus do Estado.
O sistema de ensino português pode, na minha opinião, ser caracterizado como uma conspiração liderada pelo DES (Departamento do Ensino Secundário), agindo como um comité da burguesia, a fim de manter os filhos dos pobres "no seu lugar", desta forma libertando os filhos dos ricos da maçada de ter de competir.

terça-feira, novembro 18, 2003

Telmo Correia

Telmo Correia, que é do mesmo partido de Celeste Cardona, aquele partido que queria consagrar o direito à vida desde o momento da concepção, esteve ontem na SIC Notícias a fugir à contradição implícita entre o que o seu partido defende para a Constituição portuguesa e a cobertura que dá aos assassinatos sumários que têm caracterizado a intervenção militar israelita ultimamente. Como não conseguiu, resolveu acusar a Esquerda de ver em Saddam e em Bin Laden os Che Guevaras dos tempos modernos.
A mentira descarada e a calúnia são, muitas vezes, o caminho dos que se vêem sem argumentos. Há acusações que dizem mais sobre o acusador do que sobre o acusado. Este foi, muito claramente, um desses casos.

O PS entre a Esquerda e o Centro III

Os erros de Guterres foram vários e graves. Por princípio, não me parece que os partidos devam pedir resultados eleitorais, por isso não posso considerar essa opção como muito grave. Nem sei se esses pedidos resultam na prática. O PS podia ter dramatizado mais o cenário eleitoral? Podia. Se ganhasse a maioria absoluta ganhava vantagens que serviriam para diminuir o desgaste? Depois do que assistimos, claro que sim. No entanto, julgo que a democracia se constrói com a participação de todos. É um dever dos eleitos, caso não tenham obtido maiorias absolutas, encontrar soluções governativas dentro dos limites que os resultados eleitorais definiram. Talvez seja um dos aspectos mais negativos do nosso sistema partidário o facto de parecer que não se pode governar em minoria. É com certeza uma limitação da cidadania e da democracia. De facto, limita a intervenção de outras partes, o que provoca um empobrecimento das soluções políticas avançadas.
Entre os apologistas das coligações maioritárias pode argumentar-se que o posicionamento político das diferentes forças partidárias portuguesas impede consensos alargados em matérias fundamentais. Mas, se assim for, não se pode negar a necessidade de ter um espectro político mais preenchido do que o actual. Apesar de não faltar quem queira ver os sistemas partidários somente dentro de uma lógica de oferta e procura. Se existisse um partido que se posicionasse claramente entre o PS e o PCP, admitindo que só o primeiro tem possibilidades de ganhar eleições sozinho, uma coligação estaria muito mais facilitada.
Guterres e sua via foram responsáveis pelos melhores resultados de sempre do PS. Mas também foram responsáveis pela derrota, como procurei explicar. Talvez caracterizar o resultado das autárquicas como hecatombe tenha sido incorrecto. Os resultados, se bem me recordo (não possuo os dados para afirmar categoricamente) até foram muito equilibrados em termos de votos. Só que perder as maiores cidades do país e perder a vantagem em número de autarquias é um rude golpe. Em termos objectivos, olhando para a frieza dos números, não terá sido uma hecatombe. Mas quem se lembra das expressões nas caras dos dirigentes do PS, quem nunca (nunca!) imaginou Santana Lopes e Rui Rio à frente dos destinos das suas cidades, recebeu a notícia como algo muito perto do desastre. Os números não o indicam, mas psicologicamente e politicamente foi uma noite péssima para o PS e para a Esquerda.
Já concordo inteiramente com o Paulo Gorjão quando diz que para a maioria do eleitorado a ideologia não tem qualquer importância. Podendo parecer elitista, arrisco dizer que o eleitorado, a maioria do eleitorado, não sabe bem o que são as ideologias dos partidos nem os programas que estes apresentam às eleições. A maioria do eleitorado não vota em coisas abstractas como as ideologias e os programas. Vota em propostas concretas, aparentemente palpáveis. Numa palavra, vota em promessas. Mais correctamente, vota nas promessas a que está mais sensível, se forem feitas pelo homem certo. O eleitorado não vota num candidato se este não tiver credibilidade nas áreas em que se compromete. Para exemplificar, recordo-me de uma história de um candidato brasileiro a uma prefeitura cujo lema de campanha era: rouba mas faz! Não lhe passava pela cabeça prometer seriedade, honestidade, transparência, que ninguém, porventura, lhe reconheceria. Prometia obra, o que talvez até fosse capaz de cumprir. Infelizmente, não me recordo do resultado da eleição. Mas, depois do que escrevi, espero que não seja necessário repetir qual é a minha posição sobre estes comportamentos.

O PS entre a Esquerda e o Centro II

Discordo sobretudo quando o Paulo Gorjão diz que FR se posiciona à esquerda da Esquerda, à esquerda do PS. Reconheço que talvez nunca tenha havido maior probabilidade de uma coligação legislativa entre o PS e o PCP ou o Bloco. Sem estar a insinuar que está sequer próxima. Mas, a existir essa possibilidade, nunca terá sido tão real como agora. Provavelmente, discordamos também nas noções de Esquerda e de esquerda da Esquerda. Por minha parte, dificilmente caracterizaria o governo Guterres como um governo de Esquerda. Se FR está à esquerda da Esquerda, Guterres foi o centro do Centro. Foi este fundamentalismo centrista que condicionou a sua actuação. Tal como é referido no Bloguitica, Guterres esforçou-se por não desagradar a ninguém. O caminho escolhido para esse objectivo foi, utilizando a expressão do Irreflexões, o esbatimento ideológico. Há muito PS que não se revê neste posicionamento. O PS mais ideológico não se revê neste centrismo. Além disso, como defendi, e este é um ponto fulcral na minha argumentação, o PS precisa de mostrar que é diferente do PSD não só como trunfo eleitoral mas como medida de sanidade para o sistema eleitoral. Ter dois partidos assumidamente de centro, mesmo que um se defina mais à esquerda e outro mais à direita, só traz desvantagens. Se o eleitorado não reconhecer diferenças nas forças partidárias cada vez se vai afastar mais dos processos de decisão e do sistema eleitoral. Se forem todos iguais por que é que se há-de escolher alguém? É tudo o mesmo... Neste cenário os partidos vão ganhando umas eleições, perdendo outras. Mas nunca ganham eleições. Nunca ganham eleitorado. Repito, um posicionamento ideológico definido serve para ganhar eleições e também para ganhar vitalidade e saúde no sistema eleitoral. Isto por dois motivos. Primeiro porque o eleitorado do centro não tem ideologia. Não se fideliza o eleitorado do centro. Assim como se consegue seduzi-lo num determinado ciclo eleitoral, vai-se perde-lo no ciclo seguinte. Este eleitorado pode servir para ganhar algumas batalhas eleitorais mas não serve para consolidar um partido a médio e longo prazo. Em segundo lugar, porque um posicionamento definido, quer nos identifiquemos com ele ou não, resulta numa política orientada para objectivos mais concretos. E aí sim, quando se pode avaliar os resultados das políticas traçadas e dos objectivos alcançados temos condições para medir a validade das propostas e a capacidade dos executores. Não se pode conceber os partidos e as eleições como meros jogos de interesses. A finalidade não pode ser ganhar. Tem de ser governar e, pelo caminho, ajudar a consolidar um sistema eleitoral. O pragmatismo tem limites.

O PS entre a Esquerda e o Centro I

O Bloguitica tem toda a razão quando diz que Ferro Rodrigues sempre tem estado mais à esquerda do que António Guterres. Mesmo a sua actuação como ministro de Guterres pautou-se por essas linhas. Esse é, de facto, o campo ideológico onde FR se enquadra. Mesmo assim continuo a manter o meu ponto de vista. FR precisava de se demarcar de Guterres para se oferecer como alternativa. Senão, que sentido faria apresentar-se com um posicionamento semelhante ao seu antecessor, posicionamento esse que já tinha demonstrado não estar a agradar ao eleitorado. Apesar de não o ter referido anteriormente, não duvido que a orientação ideológica de FR seja fruto das suas convicções. O que quis dizer foi que o reposicionamento do PS de FR teve como principal motivo, naquela altura, interesses eleitorais.

O PS entre a Esquerda e o Centro – Preâmbulo

O post que se segue surge como mais uma contribuição para um debate com o Bloguitica sobre Ferro Rodrigues e o posicionamento eleitoral do PS, ao qual se juntou, e muito bem, o Irreflexões.
Este deve ser o maior post que já escrevi para o Viva Espanha. Porque me pareceu realmente extenso, decidi dividi-lo em vários posts. Julgo que esta decisão, como tudo na vida, tem vantagens e desvantagens. Espero que as vantagens, sobretudo na facilidade de leitura, se sobreponham.

segunda-feira, novembro 17, 2003

O Bloguitica

O Bloguitica comentou um post meu sobre Ferro Rodrigues. Eu já desconfiava que não íamos estar de acordo e hei-de explicar melhor algumas das ideias que ali deixei.
Mas não é essa a razão deste post. Acontece que o Paulo Gorjão começa por dizer que o Viva Espanha é um blogue sério e a seguir. Agradeço o elogio, mas aviso desde já os incautos que o Viva Espanha não é tão sério quanto isso. É daqueles blogues que gosta de falar sobre quase tudo e que, por isso, se calhar nunca se vai especializar em nada.
Já agora, aproveitando esta onda de catalogar blogues e retribuindo a amabilidade, julgo que o Bloguitica, mais do que um blogue construtivo, como diz o Terras do Nunca, é um blogue distributivo e com um peso na blogosfera que não me parece nada negligenciável. O Bloguitica distribui os seus leitores por leituras sempre pertinentes sobre temas sempre actuais. Para além de ir dando a conhecer novos blogues com os quais se cruza. É um trabalho louvável.

O Viva Espanha não tem, nem terá, sitemeter. Por isso nunca saberei quantas pessoas aqui vieram parar depois do conselho do Paulo. É das poucas situações em que tenho alguma pena de continuar a resistir à tentação das audiências.

sexta-feira, novembro 14, 2003

As vidas são todas iguais, mas umas são mais iguais do que as outras

Celeste Cardona recusou liminarmente a proposta do Provedor de Justiça para se efectuarem estudos sobre a introdução de salas de injecção assistida nos estabelecimentos prisionais. Esta ministra é do mesmo partido que aqueles rapazes que queriam consagrar na Constituição a inviolabilidade da vida desde o momento da concepção. Sendo que medidas como as salas de injecção assistida e os programas de troca de seringas se destinam a combater a propagação de doenças como a SIDA e as hepatites, tenho alguma dificuldade em compreender a coerência entre as duas posições.
Celeste Cardona pretende refugiar-se nos valores de segurança pelos quais se regem os EP’s que tutela. Mesmo assim, não se afigura muito complicado imaginar cenários que reduzem a mínimos aceitáveis as condições de risco para os funcionários e para os próprios reclusos. É possível imaginar condições nas quais os reclusos, desde que estivessem na posse de uma seringa, não poderiam estar em contacto com qualquer outra pessoa.
No entanto, a ministra prefere ignorar, desde logo, qualquer discussão sobre o tema. É mais confortável. Afinal, como toda a gente sabe, os presos não constituem uma parte muito significativa do eleitorado, nem se deixam seduzir facilmente pelas fabulosas promessas de aumentos nas pensões. Sobretudo, depois de morrerem em consequência das doenças infecto-contagiosas que contraíram nas prisões que Celeste Cardona tutela.

quinta-feira, novembro 13, 2003

Santiago

A Catedral de Santiago de Compostela é, dos locais religiosos onde já estive, aquele em que mais se respira devoção. Mesmo para alguém sem afinidades religiosas como eu, é impressionante a mística que Santiago transmite.

Prestige

Está a fazer um ano que começou um pesadelo chamado Prestige. No dia 31 de Dezembro tive a oportunidade de estar na Galiza, em Santiago de Compostela. Desse dia guardo na memória a chuva interminável que me acompanhou no regresso ao Gerês e persistiu até de madrugada, as ruas de Santiago quase desertas, a Catedral sem turistas e os panos pretos pendurados nas janelas. Nunca Mais!

Fórum Social

É fantástico que seja através dos blogues que eu saiba que está a decorrer o II Fórum Social Europeu. É realmente fantástico que estas coisas não passem na televisão, como diz o Avatares. Pelo menos, agora posso fazer figura de tipo bem informado e perguntar escandalizado aos meus amigos ‘o quê, ainda não sabias?’.

quarta-feira, novembro 12, 2003

Ferro Rodrigues

Não pude acompanhar na íntegra a entrevista a Ferro Rodrigues, ontem, na RTP. Do pouco a que assisti, reforcei a impressão de que FR está claramente mais à esquerda que os seus antecessores e que os putativos candidatos a ocupar o seu lugar. Do meu ponto de vista, é um posicionamento que nasce da estratégia de demarcação em relação ao governo de Guterres, que foi acusado não só de inoperância, mas também de cinzentismo ideológico. Foi sobretudo a via centrista de Guterres que levou à hecatombe eleitoral das autárquicas. Por muito que custe a alguns ver uma definição ideológica mais clara por parte desta direcção do PS, ela é fundamental para um projecto de alternativa ao actual governo. Julgo mesmo que é fundamental para a credibilidade dos partidos e para a motivação do eleitorado. Por mim, prefiro políticos dispostos a assumir ideais a políticos dispostos a abdicar de um posicionamento ideológico em nome de resultados eleitorais. Sobretudo porque, nesse caso, nem se vislumbra estratégia coerente nem se ganha reconhecimento dos eleitores. A prazo revela-se uma estratégia igualmente desgastante, só que absolutamente deplorável. É claro que um partido tem como objectivo prioritário estar no poder, pelo que não é razoável imaginar que a sua actuação não traduza uma preocupação com a opinião pública. Uma preocupação, não uma obsessão. Até porque temos um exemplo marcante de obsessão com o défice no actual governo e conhecem-se bem as consequências. A todos os níveis.

terça-feira, novembro 11, 2003

Na cauda da Europa

Portugal é o país da UE com menor percentagem de licenciados. E o penúltimo da lista se se contar com o grupo de países que ainda não entraram. Costumo dizer, entre amigos, que no dia em que Portugal for ultrapassado pelos países de Leste nos indicadores de desenvolvimento começo a pensar em emigrar. Se calhar vai ser mais cedo do que tenho imaginado.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Singela consolação

Como consequência do início das obras do túnel do Marquês de Pombal, a Segunda Circular passa, a partir deste fim-de-semana, a ter de escoar mais uns milhares de automóveis por dia. O projecto do túnel do Marquês, que dificilmente se poderia considerar prioritário no elenco das necessidades da cidade de Lisboa, vai juntar-se às portagens da CREL para ajudar a congestionar ainda mais o tráfego que circula na Segunda Circular diariamente. O lado bom da coisa é que, segundo um inquérito promovido pelo Público, o mandato de Santana Lopes para a CML regista, entre a classificação de Mau e Muito Mau, uns impressionantes 67%. Mesmo tendo por garantido que o referido inquérito não tem qualquer validade científica, não deixa de ser um número reconfortante.

sexta-feira, novembro 07, 2003

Opiniões: cada um tem a sua e a minha é esta

Há quem se tenha entretido a relembrar as musas da pop actual. E também há quem recomende vivamente um videoclip onde se pode apreciar Kate Moss em lânguidas poses. Na minha modesta opinião, nesta área dos videoclips muito pouco se tem feito que tenha superado os breves minutos a preto e branco de Wicked Love, de Chris Isaak, onde resplandece Helena Christiansen. Tenho dito.

Mais links

Juntei o Adufe, o Cidadão Livre, o Cinema para Indígenas, o Murmúrios do Silêncio e o Planeta Reboque à coluna dos links.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Consenso? Qual consenso?

Comentar assuntos polémicos, por definição, não gera consensos. Já estava à espera que assim fosse quando me propus, de forma resumida, a comentar as posições das Igrejas sobre os sexos e a sexualidade, apoiado no mais recente exemplo Anglicano, mas sem esquecer o exemplo católico, que é o que nos diz mais respeito. O meu post suscitou a resposta do Acanto. Quanto aos argumentos ali esgrimidos, acrescento o seguinte. Não me interessa o número de mulheres ou de homossexuais a ocupar cargos de relevo. Não me interessa a quantidade em si, mas antes a qualidade. O que é importante é que existam condições reais de igualdade de acesso, independentemente do sexo, da opção sexual, da cor da pele, da religião, da ideologia, etc.. Não sei, ao certo, quantas mulheres existem na política nem quantos homossexuais são líderes partidários. Aliás, a opção sexual é um aspecto da intimidade de cada um e não afecta o rendimento laboral. Assim como o facto de se ser mulher também não. Mas passa mais facilmente despercebida a opção sexual do que o género.
Dir-me-ão que o papel da mulher na Igreja é o espelho do papel da mulher na nossa sociedade. Eu diria o contrário. O papel da mulher na nossa sociedade é o espelho do papel da mulher na Igreja. Ou para as coisas más já não somos uma sociedade de influência judaico-cristã? A subalternização e as dificuldades acrescidas que as mulheres enfrentam na sociedade são, numa parte significativa, um reflexo do que a Igreja estabeleceu. Isto é incontornável e está mais que na altura de começar a ser assumido.
Não conhecendo em pormenor todas as doutrinas da Igreja católica, parece-me despropositado que, no início do século XXI, a uma mulher lhe seja negada a hipótese de desempenhar as mesmas funções que um homem desempenha. Por que é que as mulheres não podem ser ordenadas? E, já agora, se os clérigos suprimem a sua sexualidade (curioso conceito), por que é que há tanta resistência à homossexualidade no seio da Igreja? Por que é que a Igreja se sente tão ameaçada pela homossexualidade? Julgo que um mundo de gente apaixonada, quaisquer que sejam as orientações sexuais, é sempre preferível a um mundo de frustrações impostas por concepções atávicas do comportamento humano.
Se as Igrejas funcionassem por consensos encontrariam lugar para todos no seu seio. Só que as Igrejas não funcionam por consensos, funcionam por dogmas. E é esta a principal objecção a uma revisão e actualização das suas representações da sociedade.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Coisas estranhas

A relação que estabelecemos com as celebridades tem coisas engraçadas. Ontem, por coincidência, Jorge Palma veio sentar-se na mesa de café ao lado daquela em que me encontrava. De Jorge Palma não tenho a felicidade de conhecer mais que as músicas, os poemas e os concertos. Quem conhece alguém somente pelo seu trabalho desenvolve uma relação virtual com essa pessoa, chegando a criar uma intimidade totalmente imaginária. Suponho que o facto de se admirar esse trabalho também deve ajudar. Por isso, quando abandonei o café, foi com dificuldade que resisti à tentação de me despedir: Tchau Jorge. Vemo-nos no próximo concerto.

Agora mais a sério

Sobre a criminalidade e a delinquência há muito para dizer. A delinquência dos imigrantes de segunda geração está menos relacionada com a sua cultura ou com a cultura do país de acolhimento do que com a relação que se estabelece entre estas duas. O problema não é nada simples e não se presta a considerações alarves. Especialmente, quando estas são um mero véu que cobre o racismo e a xenofobia que as sustentam.
Como é um assunto demasiado sério para ser encarado com leviandade, hei-de voltar a este tema. Assim que termine uma troca de ideias sobre a eutanásia que tem andado meio encalhada.

Uma questão de perspectiva

Sigo, através do Bloguitica, a polémica relação entre criminalidade e imigração. Meus amigos, o problema de Portugal passa, muitas vezes, parece-me, por um excesso de portugueses. No Almocreve encontra-se uma das possíveis soluções.

Ai Portugal, Portugal

Segundo o que ouvi numa repartição da Segurança Social, há casos, suponho (espero) que pontuais, de empresas que estão a entregar incorrectamente as folhas das remunerações. A Segurança Social já não aceita que as empresas com dez ou mais colaboradores entreguem a relação de remunerações em papel. O procedimento deverá ser efectuado em suporte informático ou pela internet. Pelos vistos, acontece que há empresas que desconhecem este imperativo e há repartições que não detectam o erro no acto da entrega. Sendo esse o caso, os descontos não são lançados no sistema da Segurança Social. É asneira em dose industrial. Em cada caso há duas entidades que podem ser responsabilizadas (a empresa, que desconhece as suas obrigações, e a Segurança Social, que não evita em tempo útil uma situação de fácil resolução) e sabe-se lá quantos funcionários envolvidos.
Corolário: como a Segurança Social não está a considerar esses descontos, os direitos e as garantias desses trabalhadores não estão assegurados. Um caso exemplar de competência e justiça social.

terça-feira, novembro 04, 2003

Isto não devia ser notícia... mas ainda é

Rebentou mais um escândalo eclesiástico com a ordenação de um bispo homossexual. Neste caso é a Igreja Anglicana que está envolvida na controvérsia. Mas desconfio que poderia ser qualquer outra. O reconhecimento da liberdade sexual foi um dos aspectos que passou ao lado das Igrejas durante todo o século XX e que parece continuar a não ter solução à vista. Tudo isto sem que as vozes que soam contra esta clarí­ssima forma de discriminação se façam ouvir a um ní­vel que seja realmente incomodativo para os topos das hierarquias eclesiásticas. Se bem me lembro, nas comemorações dos 25 anos de pontificado de João Paulo II foram muito poucos os que criticaram abertamente as atitudes discriminatórias deste papado em relação às mulheres e à orientação sexual.

Começou

João Soares não aguentou a espera e atirou-se definitivamente à liderança do PS. Pelo menos não se lhe pode apontar o defeito de fazer as coisas pela calada. O ex-autarca nunca fez questão de esconder a vontade de ocupar o cargo de Ferro Rodrigues. Agora, finalmente, os adeptos de uma disputa acesa pela liderança poderão ficar a saber o que é que o PS vai ganhar com isso. A minha aposta situa-se algures entre o muito pouco e nada. Aguardemos pacientemente pelas próximas sondagens.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Beleza Outonal

As folhas douradas salpicam o verde dos relvados do Campo Grande numa imagem quase perfeita. Também é para momentos destes que se vive.

Apelo

Venho por este meio, em nome dos utilizadores da Avenida Marechal Teixeira Rebelo, pedir encarecidamente ao condutor da carrinha Easy Bus que utiliza este percurso por volta das 8.45 que saia um pouco mais cedo de casa, assim evitando a necessidade de conduzir em excesso de velocidade, serpenteando por entre os outros carros.

Desmentido oficial

O Viva Espanha vem desmentir categoricamente os boatos lançados pelo Inimigo Público na passada sexta-feira, segundo os quais o autor deste blogue seria José Saramago.

sábado, novembro 01, 2003

Eutanásia 2

Antes de abordar o caso de Terri Schiavo, importa tecer algumas considerações iniciais que ajudarão a definir os termos utilizados neste post e em posts posteriores. O termo eutanásia presta-se a várias interpretações. A eutanásia é comummente subdividida em dois tipos: eutanásia activa e eutanásia passiva. Esta última é interpretada como suspensão ou supressão da prestação de cuidado médico que assegura a manutenção da vida do paciente. Na eutanásia passiva a vida é mantida por meios artificiais e a suspensão da utilização desses meios resultará numa morte dita natural. Por isso, há quem considere que a eutanásia passiva não constitui uma verdadeira forma de eutanásia.
Na eutanásia activa a vida mantém-se de forma natural e a morte resultará de uma acção directa perpetrada por terceiros. Implica claramente uma acção deliberada e directa que resultará na morte do paciente. Aliás, para que a utilização do termo eutanásia esteja correcta, a intenção da acção ou da omissão é sempre causar a morte. A acção ou omissão tem também de estar sempre a cargo de terceiros e nunca do próprio. No caso de se facultar a informação, a orientação e os meios necessários a uma pessoa para que ela se possa matar, sabendo que será essa a utilização dada à informação e aos meios disponibilizados, estamos, então, a falar de suicídio assistido e não de eutanásia.